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As tensões temporais em Mrs Dalloway

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auto-suficiente, engajado <strong>em</strong> grande parte pela pontuação das horas. Na narrativa de <strong>Mrs</strong><br />

<strong>Dalloway</strong>, a t<strong>em</strong>poralidade da Modernidade é d<strong>em</strong>arcada especificamente pela materialidade<br />

histórica da cidade de Londres e pelo acontecimento da Primeira Guerra, gerador de trauma<br />

<strong>em</strong> um personag<strong>em</strong> específico, Septimus, que t<strong>em</strong> um capítulo dedicado à sua história<br />

singular. Seu retorno da guerra é retratado pela falta de comunicação e perda de sentido,<br />

apontando características peculiares desta t<strong>em</strong>poralidade histórica e d<strong>em</strong>onstrando a força<br />

comunicativa inserida na narrativa literária – especificamente neste romance de Virginia<br />

Woolf -, quando esta se mostra defasada devido aos traumas gerados na experiência de vida.<br />

1.3 T<strong>em</strong>poralidade cronológica<br />

Na Modernidade, o sist<strong>em</strong>a capitalista estava se constituindo como novo modo de<br />

vida. <strong>As</strong> cidades cresciam rapidamente, assim como o número de seus habitantes dando lugar<br />

à metrópole habitada pela multidão. Há uma diferença que precisa ser explicitada entre os<br />

conceitos de multidão e massa que serão utilizados nesta pesquisa, tomados de <strong>em</strong>préstimo de<br />

Peter Pál Pelbart, <strong>em</strong> seus ensaios biopolíticos. Para ele, “[...] massa é homogênea, compacta,<br />

contínua, unidirecional, todo o contrário da multidão: heterogênea, dispersa, complexa,<br />

multidirecional”. 38 Esta concebe espaços de potencialidades subjetivas, enquanto aquela<br />

conduz os indivíduos à padronização comportamental. Os indivíduos que habitavam os novos<br />

grandes centros precisavam aprender a conviver uns com os outros, pois eram muitos. O<br />

domínio do público sobre o privado começava a tomar forma. Com o crescimento das<br />

cidades, houve a instalação de galerias 39 , de “[...] caminhos cobertos de vidro e revestidos de<br />

mármore, através de blocos de casas [...]”. 40 Através destes caminhos com iluminação à gás –<br />

constituintes de um “mundo <strong>em</strong> miniatura” 41 , qu<strong>em</strong> sabe como as mônadas de Leibniz - era<br />

constante o contato físico e visual entre os indivíduos que por ali estavam, tanto na condição<br />

de passantes, como na de observadores.<br />

A multidão representava a diversidade dos indivíduos, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que já<br />

começava a apresentá-los como parte de uma massa. Senefelder retrata este aglomerado de<br />

indivíduos <strong>em</strong> sua variedade comportamental, <strong>em</strong> uma litografia sobre uma casa de jogo.<br />

38<br />

PELBART, Peter Pál. Vida Capital. Ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003, p.85.<br />

39<br />

Que depois vieram a se transformar <strong>em</strong> grandes lojas com luz elétrica, perdendo, assim, sua condição peculiar.<br />

40<br />

BENJAMIN, Walter. Sobre Alguns T<strong>em</strong>as <strong>em</strong> Baudelaire. Charles Baudelaire. Um lírico no auge do<br />

capitalismo, op. cit., p. 35.<br />

41<br />

Id<strong>em</strong>.<br />

24

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