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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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elemento da linguagem pode ser valorizado se não é considerado em<br />

relação com os <strong>ou</strong>tros elementos”. 2 A noção de relação se converte no<br />

fundamento da teoria: a linguagem é um sistema de relações. Por sua vez<br />

Ferdinand de Saussure já realizara uma distinção capital: o caráter dual<br />

do signo, composto de um significante e de um significado, som e<br />

sentido. Esta relação – ainda não inteiramente explicada – define o<br />

campo próprio da lingüística: cada um dos elementos da linguagem,<br />

inclusive os menores, “possuem dois aspectos: um, o significante, e<br />

<strong>ou</strong>tro, o significado”. A análise deve levar em conta esta dualidade e<br />

proceder do texto à frase e desta à palavra e ao morfema, a unidade<br />

mínima dotada de significado. A investigação não se detêm neste último<br />

porque a fundação da fonologia permitiu um passo decisivo: a análise<br />

dos fonemas, unidades que, “apesar de não possuir significado próprio,<br />

participam da significação”. A função significativa do fonema consiste<br />

em que designa uma relação de alteridade <strong>ou</strong> oposição em relação aos<br />

<strong>ou</strong>tros fonemas; embora o fonema careça de significado, sua posição no<br />

interior do vocábulo e sua relação com os <strong>ou</strong>tros fonemas tornam<br />

possível a significação. Todo o edifício da linguagem rep<strong>ou</strong>sa sobre esta<br />

oposição binária. Os fonemas podem decompor-se em elementos<br />

menores, que Jakobson chama de “feixe <strong>ou</strong> conjunto de partículas<br />

diferenciais”. 3 Como os átomos e suas partículas, o fonema é um<br />

“campo de relações”: uma estrutura. Isso não é tudo: a fonologia revela<br />

que os fenômenos lingüísticos obedecem a uma estrutura inconsciente:<br />

falamos sem saber que, cada vez que o fazemos, pomos em movimento<br />

uma estrutura fonológica. Portanto, a fala é uma operação mental e<br />

fisiológica que rep<strong>ou</strong>sa sobre leis estritas e que, não obstante, escapam<br />

ao domínio da consciência clara.<br />

Saltam à vista as analogias -da lingüística, por um lado, com a<br />

física, a genética e a teoria da informação; por <strong>ou</strong>tro, com a “psicologia<br />

da forma”. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> se propôs aplicar o método estrutural da<br />

lingüística à antropologia. Nada mais legítimo – a linguagem não só é<br />

um fenômeno social como constitui, simultaneamente, o fundamento de<br />

2 JOSEF VACKEK, The Linguistìc School of Praga, 1966.<br />

3 ROMAN JAKOBSON, Essais de Linguistique Générale, Paris, 1963.<br />

_______________________________________________________<br />

<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 11

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