15.04.2013 Views

PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2. SÍMBOLOS, METÁFORAS E EQUAÇÕES.<br />

A POSIÇÃO E O SIGNIFICADO. ÁSIA, AMÉRICA E EUROPA.<br />

TRÊS TRANSPARENTES: O ARCO-ÍRIS, O VENENO E A<br />

DONINHA. O ESPÍRITO: ALGO QUE É NADA.<br />

Diante do mito, <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> adota uma posição francamente<br />

intelectualista e lamenta a preferência moderna pela vida afetiva, à qual<br />

atribui poderes que não tem: “É um erro acreditar que idéias claras<br />

podem nascer de emoções confusas”. 5 Critica também a fenomenologia<br />

da religião que trata de reduzir a “sentimentos informes e inefáveis”<br />

fenômenos intelectuais só aparentemente distintos dos de nossa lógica. A<br />

pretensa oposição entre pensamento lógico e pensamento mítico revela<br />

apenas a nossa ignorância: sabemos ler um tratado de filosofia mas não<br />

sabemos como devem ser lidos os mitos. Certo, temos uma clave – as<br />

palavras de que estão feitos – mas seu significado se nos escapa porque a<br />

linguagem ocupa no mito um lugar semelhante ao do sistema fonológico<br />

dentro da própria linguagem. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> inicia sua demonstração com<br />

esta idéia: a pluralidade de mitos, em todos os tempos e em todos os<br />

espaços, não é menos notável que a repetição em todos os relatos míticos<br />

de certos procedimentos. O mesmo sucede no universo do discurso: a<br />

pluralidade de textos resulta da combinação de um número muito<br />

reduzido de elementos lingüísticos permanentes. Portanto, a elaboração<br />

mítica não obedece a leis distintas das lingüísticas: seleção e combinação<br />

de signos verbais. A distinção entre língua e fala, proposta por<br />

Ferdinand de Saussure, também é aplicável aos mitos. A primeira é<br />

sincrônica e postula um tempo reversível; a segunda é diacrônica e seu<br />

tempo é irreversível. Ou, como dizemos em espanhol Io dicho, dicho<br />

está”. O mito é fala, seu tempo alude ao que pass<strong>ou</strong> e é um dizer<br />

irrepetível; ao mesmo tempo, é idioma: uma estrutura que se atualiza<br />

cada vez que voltamos a contar a história.<br />

5 A. M. HOCART, citado por <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> em La structure des mythes.<br />

_______________________________________________________<br />

<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!