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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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nossos esforços para detê-lo: nem transcorre nem se detém. <strong>No</strong>ssa<br />

própria imortalidade é ilusória: cada homem que morre assegura a<br />

sobrevivência da espécie, cada espécie que se extingue confirma a<br />

perduração de um movimento que se despenha incansavelmente para<br />

uma imobilidade sempre iminente e sempre inalcançável.<br />

Taxila não é só uma assembléia de civilizações mas de deuses: os<br />

antigos cultos de fertilidade e Zoroastro, Apolo e a Grande Deusa, Shiva<br />

e o deus sem rosto do Islã. Entre todas essas divindades, a figura de<br />

Buda, esse homem que renunci<strong>ou</strong> a ser Deus e que, pela mesma decisão,<br />

renunci<strong>ou</strong> a ser homem. Assim venceu, ao mesmo tempo, a tentação da<br />

eternidade e a não menos insidiosa da história. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> assinala a<br />

ausência de monumentos cristãos em Taxila. Não sei se está certo ao<br />

pensar que o Islã impediu o encontro entre o budismo e o cristianismo<br />

mas não se equivoca ao dizer que esse encontro teria dissipado o feitiço<br />

terrível que enl<strong>ou</strong>queceu o Ocidente: sua carreira frenética em busca do<br />

poder e a autodestruição. O budismo é a malha que falta na cadeia de<br />

nossa história. É o primeiro nó e o último: o nó que, ao se desfazer,<br />

desfaz a cadeia. A afirmação do sentido histórico culmina fatalmente em<br />

uma negação do sentido: “entre a crítica marxista que libera o homem<br />

de suas primeiras cadeias e a crítica budista que consuma a sua<br />

liberação, não há oposição nem contradição”. Um duplo movimento que<br />

une o princípio com o fim: aquilo que nos propôs o Buda ao começo de<br />

nossa história talvez só é realizável ao terminar: unicamente o homem<br />

livre do fardo da necessidade histórica e da tirania da autoridade poderá<br />

contemplar sem medo a sua própria ninharia. A história do pensamento<br />

e a ciência do Ocidente foram apenas uma série de “demonstrações<br />

suplementares da conclusão a que quiséramos escapar”: a distinção<br />

entre o sentido e a ausência de sentido é ilusória.<br />

Disse ao princípio que a resposta de Peirce à pergunta sobre o<br />

sentido era circular: o significado da significação é significar. Como no<br />

caso do marxismo, <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> não nega nem contradiz a resposta de<br />

Peirce; recolhe-a e, fiel ao movimento da espiral, enfrenta-a consigo<br />

mesma: sentido e não-sentido são o mesmo. Esta afirmação é uma<br />

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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 79

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