PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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da do sacrifício. Bataille pretende desentranhar o conteúdo histórico e<br />
psicológico do potlach; <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> considera-o como uma estrutura<br />
atemporal, independentemente de seu conteúdo. Sua posição o defronta<br />
com o funcionalismo da antropologia saxônica, o historicismo e a<br />
fenomenologia.<br />
Mais adiante tratarei mais detidamente o tema da relação<br />
polêmica entre o pensamento de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> e o historicismo e a<br />
fenomenologia. Todavia, é oportuno esboçar desde já suas afinidades e<br />
diferenças com os pontos de vista de Malinowski e de Radcliffe-Brown.<br />
Para o primeiro, “os fatos sociais não se reduzem a fragmentos<br />
dispersos; o homem vive-os, realiza-os, e esta consciência subjetiva, tanto<br />
como suas condições objetivas, é uma forma de sua realidade”.<br />
Malinowski teve o grande mérito de mostrar experimentalmente que as<br />
idéias que uma sociedade tem de si mesma são parte inseparável da<br />
própria sociedade e desta maneira revaloriz<strong>ou</strong> a noção de significado no<br />
fato social; mas reduziu a significação dos fenômenos sociais à categoria<br />
de função. A idéia de relação, capital em Mauss, resolve-se na função: as<br />
coisas e as instituições são signos por ser funções. Por sua vez, Radcliffe-<br />
Brown introduziu a noção de estrutura no campo da antropologia. Só<br />
que o grande sábio inglês pensava que “a estrutura é da ordem dos fatos:<br />
algo dado na observação de cada sociedade particular...” A<br />
originalidade de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> reside em ver a estrutura não só como um<br />
fenômeno resultante da associação dos homens mas como “um sistema<br />
regido por uma coesão interna – e esta coesão, inacessível para o<br />
observador de um sistema isolado, revela-se no estudo das<br />
transformações, graças às quais se redescobrem propriedades similares<br />
em sistemas diferentes na aparência” (Leçon inaugurale). Cada<br />
sistema – formas de parentesco, mitologias, classificações etc. – é como<br />
uma linguagem que pode ser traduzida à linguagem de <strong>ou</strong>tro sistema.<br />
Para Radcliffe-Brown a estrutura “é a maneira durável que os grupos e<br />
os indivíduos têm de se constituir e de se associar no interior de uma<br />
sociedade”; portanto, cada estrutura é particular e intraduzível às<br />
<strong>ou</strong>tras. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> pensa que a estrutura é um sistema e que cada<br />
sistema é regido por um código que permite, caso o antropólogo consiga<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo<br />
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