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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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Ao mesmo tempo, todos os acontecimentos estão regidos pela estrutura,<br />

isto é, por uma razão universal inconsciente. Esta última é idêntica entre<br />

os selvagens e os civilizados: pensamos distintas coisas da mesma<br />

maneira. A estrutura não é histórica: é natural e nela reside a<br />

verdadeira natureza humana. É um retorno a R<strong>ou</strong>sseau, só que a um<br />

R<strong>ou</strong>sseau que tivesse passado pela Academia platônica. Para R<strong>ou</strong>sseau o<br />

homem natural era o homem passional; para <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> as paixões e a<br />

sensibilidade são também relações e não escapam à razão e ao número,<br />

às matemáticas. A natureza humana, já que não uma essência nem uma<br />

idéia, é um concerto, uma harmonia, uma proporção.<br />

Em um mundo de símbolos, que simbolizam os símbolos? Não ao<br />

homem, pois, se não há sujeito, o homem não é nem o ser significado<br />

nem o ser significante. O homem é, apenas, um momento na mensagem<br />

que a natureza emite e recebe. A natureza, por sua vez, não é uma<br />

substância nem uma coisa: é uma mensagem. Que diz essa mensagem? A<br />

pergunta que me fiz ao começar e que reapareceu algumas vezes ao<br />

longo destas páginas, retorna e se converte na pergunta final: que diz o<br />

pensamento, qual é o sentido da significação? A natureza é estrutura e a<br />

estrutura emite significados; portanto, não é possível suprimir a<br />

pergunta sobre o significado. A filosofia, sob a máscara da semântica,<br />

intervém em uma conversação a qual ninguém a convid<strong>ou</strong>, mas que sem<br />

ela careceria de sentido. Para que uma mensagem seja compreendida é<br />

indispensável que o receptor conheça a clave utilizada pelo emissor. Os<br />

homens tinham a presunção, no duplo sentido da palavra, de conhecer a<br />

clave, ao menos pela metade. Outros pensaram que a clave não existia. O<br />

fundamento da pretensão dos primeiros consistia em crer que o homem<br />

era o receptor das mensagens que lhe dirigia Deus, o cosmos, à natureza<br />

<strong>ou</strong> a Idéia. Os segundos afirmavam que o homem era o emissor. Kant<br />

debilit<strong>ou</strong> a primeira crença e mostr<strong>ou</strong> que uma região da realidade era<br />

intocável, inacessível. Sua crítica min<strong>ou</strong> os sistemas metafísicos<br />

tradicionais e fortific<strong>ou</strong> a posição dos partidários da segunda hipótese.<br />

Por meio da operação da dialética, Hegel transform<strong>ou</strong> a inacessível<br />

“coisa em si” em conceito; Marx deu o segundo passo e converteu o<br />

“conceito” em “natureza histórica”; Engels cheg<strong>ou</strong> a pensar que “a<br />

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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 77

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