PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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observação com o sistema de classificação totêmica tal como foi definido<br />
por <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>. Segundo o antropólogo francês, os aborígines não<br />
escolhem esta <strong>ou</strong> aquela espécie animal como totem pela sua utilidade,<br />
mas por suas qualidades e peculiaridades, isto é, por serem mais<br />
facilmente definíveis – por sua aptidão para formar parelhas<br />
conceptuais. Os funcionalistas britânicos afirmam que as espécies se<br />
convertem em totem por sua utilidade por exemplo: por serem<br />
comestíveis. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> sustenta que são categorias de classificação: se<br />
convertem em totem por serem pensáveis e não por serem comestíveis.<br />
Embora a sua solução seja mais universal e simples que a primeira –<br />
sobretudo se se aceita que o totemismo não é uma instituição isolada<br />
mas um aspecto de um sistema geral de coordenação do universo e da<br />
sociedade – oferece um inconveniente. A teoria britânica é crua e<br />
ingênua: o animal é sagrado por sua função benéfica <strong>ou</strong> nociva; a de<br />
<strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> nos mostra a razão formal das classificações totêmicas mas<br />
não toca em algo essencial: por que são sagradas, as espécies totêmicas?<br />
A mesma observação pode se aplicar ao tabu alimentício <strong>ou</strong> ao sexual.<br />
Não basta dizer que os europeus não comem carne de cachorro e os<br />
muçulmanos de porco; o primeiro tabu é implícito e o segundo é<br />
explícito. Esta diferença, segundo Leach, não pode ser explicada pelo<br />
método binário. Em suma, <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> “nos mostra a lógica das<br />
categorias religiosas e ao mesmo tempo ignora precisamente aqueles<br />
aspectos do fenômeno que são especificamente religiosos”. Creio que<br />
Leach tem razão mas assinalo que a sua aguda crítica evoca, sem propôlo,<br />
um interlocutor que ele e <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> expulsaram do simpósio<br />
antropológico: a fenomenologia da religião.<br />
Leach não toca os fundamentos do método de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>:<br />
simplesmente propõe substituir em certos casos a analogia binária por<br />
<strong>ou</strong>tra mais refinada. Por minha par te, pergunto-me se é válido o<br />
princípio básico: é um modelo universal a teoria geral da comunicação?<br />
A primeira vista a resposta deve ser afirmativa, ao menos na esfera da<br />
matéria viva, tal como mostr<strong>ou</strong> a genética contemporânea. Não<br />
obstante, é legítimo presumir que, como ocorreu sempre na história da<br />
ciência, cedo <strong>ou</strong> tarde aparecerá uma diferença que torne inoperante o<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 70