PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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5. AS PRÁTICAS E OS SÍMBOLOS.<br />
O SIM OU O NÃO E O MAIS OU MENOS. O INCONSCIENTE<br />
DO HOMEM E O DAS MAQUINAS. OS SIGNOS OUE SE<br />
DESTROEM: TRANSFIGURAÇÕES. TAXILA.<br />
<strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> declar<strong>ou</strong> sempre que é um discípulo de Marx<br />
(discípulo, não repetidor). Materialista e determinista, pensa que as<br />
instituições e as idéias que a sociedade se faz de si mesma são o produto<br />
de uma estrutura inferior inconsciente. Tamp<strong>ou</strong>co é insensível ao<br />
programa histórico de Marx e, se não me equivoco, acredita que o<br />
socialismo é (<strong>ou</strong> pode ser?) a próxima etapa da história do Ocidente e<br />
talvez do mundo inteiro. Se concebe a sociedade como um sistema de<br />
comunicações, é natural que a propriedade privada lhe pareça um<br />
obstáculo à comunicação: “na linguagem”, diz Jakobson, “não há<br />
propriedade privada: tudo está socializado”... Dito isto, não vejo como<br />
se lhe poderia chamar de marxista sem forçar o termo. Por exemplo, não<br />
est<strong>ou</strong> certo de que compartilhe a teoria que vê na cultura um simples<br />
reflexo das relações materiais. Certo, diz aceitar sem dificuldade a<br />
primazia da estrutura econômica sobre as <strong>ou</strong>tras e em La pensée<br />
sauvage afirma que estas últimas são realmente superestruturas;<br />
acrescenta inclusive que os seus estudos poderiam chamar-se “teoria<br />
geral das superestruturas”. Não obstante, limita a validez do<br />
determinismo econômico às sociedades históricas; quanto às não<br />
históricas, assegura que os laços consangüíneos desempenham nelas a<br />
função decisiva do modo de produção econômica nas históricas. Apóia a<br />
sua afirmação em algumas opiniões de Engels em carta a Marx. Não<br />
pretendo pugnar em um ponto difícil e, de todos os modos, marginal,<br />
mas contes-so que a sua idéia das relações entre a práxis e o pensamento<br />
me parece muito distanciada da concepção marxista.<br />
Em La pensée sauvage distingue entre “práticas” e práxis; o<br />
estudo das primeiras, distintivas dos gêneros de vidas e formas de<br />
civilização, é o domínio da etnologia e o da segunda, da história. As<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 65