PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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práticas seriam superestruturas. Entre a práxis e as “práticas” há um<br />
mediador: “o esquema conceituai, pelo qual uma matéria e uma forma se<br />
realizam como estruturas ao mesmo tempo empíricas e inteligíveis”. A<br />
meu modo de ver esta idéia elimina a noção de práxis <strong>ou</strong>, pelo menos, lhe<br />
dá um sentido distinto daquele do marxismo. A relação imediata e ativa<br />
do homem com as coisas e com os <strong>ou</strong>tros homens é indistinguível,<br />
segundo Marx, do pensamento: “as controvérsias sobre a realidade e a<br />
não realidade do pensamento, separado da prática, pertencem ao<br />
domínio da escolástica”. (Teses sobre Feuerbach). Práxis e<br />
pensamento não são entidades distintas e ambos são inseparáveis das<br />
leis objetivas da realidade social: o modo de produção. Marx se opõe ao<br />
antigo materialismo. diz Kostas Papaioann<strong>ou</strong>, porque este ignora a<br />
história. Para Marx a natureza é histórica, de modo que o seu<br />
materialismo é uma concepção histórica da matéria. O antigo<br />
materialismo “afirmava a prioridade da natureza exterior, mas uma<br />
natureza objetiva, independente do sujeito, não existe”. O mundo<br />
sensível não é um mundo de objetos: é o mundo da práxis, isto é, da<br />
matéria modelada e transformada pela atividade humana. A função da<br />
práxis é “modificar historicamente a natureza”.<br />
Se o marxismo é uma concepção histórica da natureza, também é<br />
uma concepção materialista da história: a práxis, “o processo vital<br />
real”, é o ser do homem, e sua consciência é simplesmente o reflexo dessa<br />
matéria que a práxis torn<strong>ou</strong> histórica. A consciência e o pensamento<br />
humano são produtos não da natureza mas da natureza histórica <strong>ou</strong><br />
seja, da sociedade e seu modo de produção. Nem a natureza nem o<br />
pensamento isolado definem o homem, mas sim a atividade prática, o<br />
trabalho: a história. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> diz, no fim de La pensée sauvage,<br />
que a práxis só pode conceber-se com a condição de que exista antes o<br />
pensamento, sob a “forma de uma estrutura objetiva do psiquismo e do<br />
cérebro”. O espírito é algo dado e constituído desde o princípio. É uma<br />
realidade insensível à ação da história e dos modos de produção porque é<br />
um objeto físico-químico, um aparelho que combina as chamadas e<br />
respostas das células cerebrais diante dos estímulos exteriores. Na<br />
práxis o espírito repete a mesma operação que no momento de elaborar<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 66