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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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mitos, poemas e símbolos matemáticos e lógicos operam como sistemas<br />

de equivalências.<br />

A função poética (cito <strong>ou</strong>tra vez Jakobson) translada o princípio<br />

da equivalência do eixo da seleção ao da combinação. A formulação de<br />

toda mensagem verbal compreende duas operações: a seleção e a<br />

combinação. Pela primeira, escolhemos a palavra mais adequada entre<br />

um grupo de palavras: “Seja menino o tema da mensagem; o locutor<br />

seleciona entre garoto, pequeno, rapazinho etc.; depois repete a<br />

operação com o complemento: dorme, sonha, rep<strong>ou</strong>sa, está quieto; em<br />

seguida combina as duas seleções: o menino dorme. A seleção se realiza<br />

sobre a base de semelhança <strong>ou</strong> dessemelhança, sinonímia <strong>ou</strong> antonímia,<br />

enquanto que a combinação, a construção da seqüência, rep<strong>ou</strong>sa sobre a<br />

contigüidade”. A poesia transtorna essa ordem e “promove a<br />

equivalência ao nível de procedimento constitutivo da seqüência”. A<br />

equivalência opera em todos os níveis do poema: o sonoro (rima, metro,<br />

acentos, aliterações etc.) e o semântico (metáforas e metonímias). A<br />

metalinguagem também utiliza “seqüências de unidades equivalentes e<br />

combina expressões sinônimas em frases-equações: A igual a A. Mas<br />

entre poesia e metalinguagem há uma oposição diametral: na<br />

metalinguagem utiliza-se a seqüência para construir uma equação; na<br />

poesia, a equação serve para se construir uma seqüência”. 11 O livro de<br />

<strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> é uma metalinguagem e, ao mesmo tempo, um mito de<br />

mitos; pela primeira, serve-se dos mitemas para construir proposições<br />

que são, de certo modo, equações; pela segunda, participa da função<br />

poética, pois se serve das equações para elaborar seqüências. <strong>No</strong> caso<br />

dos mitos que <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> examina a ordem se inverte: secundariamente<br />

são uma metalinguagem e primordialmente se inscrevem dentro da<br />

função poética. Os mitos participam da poesia e da filosofia, sem ser<br />

nem um nem <strong>ou</strong>tro.<br />

A noção de função poética permite estabelecer a conexão íntima<br />

entre mito e poema. Se se observa a estrutura de um e de <strong>ou</strong>tro advertese<br />

imediatamente uma nova semelhança. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> fez uma<br />

11 ROMAN JAKOBSON, “Linguistic and Poetics”, In Style and Language, edição de T. Sebeok, 1960.<br />

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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 45

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