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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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<strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> aludiu em diversas ocasiões às influências que<br />

determinaram a direção de seu pensamento: a geologia, o marxismo e<br />

Freud. Uma paisagem se apresenta como um quebra-cabeças: colinas,<br />

rochedos, vales, árvores, barrancos. Essa desordem possui um sentido<br />

oculto; não é uma justaposição de formas diferentes, mas a reunião em<br />

um lugar de distintos tempos-espaços: as capas geológicas. Como a<br />

linguagem, a paisagem é diacrônica e sincrônica ao mesmo tempo: é a<br />

história condensada das idades terrestres e é também um entrelaçado de<br />

relações. Um corte vertical revela que o oculto, as capas invisíveis, e uma<br />

“estrutura” que determina e dá sentido às mais superficiais. À<br />

descoberta intuitiva da geologia se uniram, mais tarde, as lições do<br />

marxismo (uma geologia da sociedade) e da psicanálise (uma geologia<br />

psíquica). Esta tríplice lição pode ser resumida em uma frase: Marx,<br />

Freud e a geologia lhe ensinaram a explicar o visível pelo oculto. Isto é, a<br />

buscar a relação entre o sensível e o racional. Não uma dissolução da<br />

razão no inconsciente, mas uma busca da racionalidade do inconsciente:<br />

um super-racionalismo. Estas influências constituem, para continuar<br />

usando a mesma metáfora, a geologia do seu pensamento: são<br />

determinantes em um sentido geral. Não menos decisivas para a sua<br />

formação foram a obra sociológica de Marcel Mauss e a lingüística<br />

estrutural.<br />

Já disse antes que os meus comentários não são de ordem<br />

estritamente científica; examino as idéias de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> com a<br />

curiosidade, a paixão e a inquietude de um leitor que deseja compreendêlas<br />

porque sabe que, como todas as grandes hipóteses da ciência, estão<br />

destinadas a modificar nossa imagem do mundo e do homem. Assim,<br />

não me proponho a situar seu pensamento dentro das modernas<br />

tendências da antropologia, embora seja evidente que, por mais original<br />

que nos pareça, este pensamento faz parte de uma tradição científica. O<br />

próprio <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>, aliás, em sua Leçon inaugurale no Collège de<br />

France (janeiro de 1960), assinal<strong>ou</strong> suas dívidas para com a<br />

antropologia anglo-americana e a sociologia francesa. Mais explícito<br />

ainda, em vários capítulos da Anthropologie structurale e em muitas<br />

passagens de Le totémisme auj<strong>ou</strong>rd’hui, revela e esclarece suas<br />

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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo<br />

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