PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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Ademais, a pergunta sobre o fundamento <strong>ou</strong> razão suficiente também<br />
alcança a razão de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>: qual é a razão das operações físicoquímicas<br />
do cérebro? Esta interrogação repete em <strong>ou</strong>tro nível a pergunta<br />
do começo: qual é o significado de significar? Em um e <strong>ou</strong>tro extremo do<br />
sistema de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> surge o fantasma da filosofia. Pretendendo<br />
ainda voltar a isto, direi que o equívoco entre <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> e Sartre<br />
consiste em que ambos alteram a noção marxista de práxis: o primeiro<br />
em benefício de uma natureza exterior à história e o segundo no de uma<br />
dialética puramente histórica. Para <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> a história é uma<br />
categoria da razão; para Sartre a razão é uma categoria histórica.<br />
Sartre é um historicista puro e sua concepção recorda o racio-vitalismo<br />
de Ortega y Gasset, com a diferença de que não são as gerações mas as<br />
classes que encarnam o movimento histórico. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> é também um<br />
materialista puro e seu pensamento prolonga o materialismo do século<br />
XVIII, com a ,diferença de que para ele a matéria não é uma substância<br />
mas uma relação. Este traço o converte não em um pensador da primeira<br />
metade do nosso século, como Sartre, mas da segunda: a que agora<br />
começa.<br />
Mais pertinente que a crítica marxista é a do antropólogo inglês<br />
Edmund Leach. 17 Aqui descemos da escolástica à terra firme do senso<br />
comum. Leach começa por assinalar que a importância da obra de <strong>Lévi</strong>-<br />
<strong>Strauss</strong> reside em que se propõe a explicar “o conteúdo não-verbal da<br />
cultura como um sistema de comunicações; portanto, aplica à sociedade<br />
humana os princípios de uma teoria geral da comunicação”. Ou seja: a<br />
estrutura binária da fonologia e dos cérebros eletrônicos que compõe<br />
mensagens pela combinação de pulsações negativas e positivas. A<br />
distinção binária é um “instrumento analítico de primeira ordem mas<br />
apresenta certas desvantagens. Uma delas é que tende a subestimar<br />
arbitrariamente os problemas relativos aos valores”. Estes últimos<br />
podem ser abordados com maior probabilidade de êxito pelos analogical<br />
computers. Enquanto- que estes mecanismos respondem às perguntas em<br />
termos de mais e menos, as máquinas que usam o sistema binário<br />
respondem unicamente com um sim <strong>ou</strong> um não. Leach ilustra a sua<br />
17 Telsar and lhe aborígines or La pensée sauvage (1964).<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 69