PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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equivalências fixas (metro e metáforas), a filosofia o traduz a conceitos<br />
e a ciência a seqüências de proposições. O livro de <strong>Lévi</strong>-Stratíss é, por tal<br />
razão, “um mito dos mitos americanos”, um poema, e, simultaneamente,<br />
um livro de ciência... Confesso que não posso entender sua impaciência<br />
diante da poesia e dos poetas. Certa vez <strong>ou</strong>vi José Caos dizer que a<br />
soberba do filósofo é uma paixão contraditória, já que é conseqüência de<br />
sua . visão total do universo e do exclusivismo dessa visão. Certo: a visão<br />
do filósofo é um todo em que faltam muitas coisas. <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> se cur<strong>ou</strong><br />
dessa soberba com o antídoto da humildade do homem de ciência, mas<br />
ainda lhe resta certo mal humor filosófico, diante desse ser estranho que<br />
é a poesia. De minha parte d<strong>ou</strong>-me conta de que dediquei demasiadas<br />
páginas a este tema e reconheço, tardiamente, que também incorri no<br />
pecado de fanatismo. Não obstante, direi algo mais: ao escrever essas<br />
linhas escuto as primeiras notas de uma “raga” do norte da índia: não,<br />
em nenhum momento Le cru et le cuit me fez pensar na música. O<br />
prazer que me deu esse livro me evoca <strong>ou</strong>tras experiências: a leitura de<br />
Ulysses e a das Soledades, a de Un c<strong>ou</strong>p de dés e a de A la<br />
recherche du temps perdu.<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 47