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PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP

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as práticas: separa, combina e emite. O espírito transforma o sensível em<br />

signos. Na concepção de Marx advirto a primazia do histórico: modo de<br />

produção social; na de <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>, a do químico-biológico: modo de<br />

operação natural. Para Marx a consciência muda com a história; para<br />

<strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> o espírito humano não muda: seu reino não é o da história,<br />

mas o da natureza.<br />

Dessa perspectiva pode entender-se melhor sua polêmica com<br />

Sartre e o equívoco que os une e separa. Para Sartre a oposição entre<br />

razão analítica e razão dialética é real porque é histórica; quero dizer:<br />

cada uma delas corresponde a uma história e a um modo de produção<br />

distinto <strong>ou</strong>, mais exatamente, a etapas distintas de uma mesma história.<br />

A razão dialética nega a razão analítica e assim a engloba e a<br />

transcende. Não é a razão em movimento, como pretende <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong>,<br />

mas o movimento da razão. Esse movimento a transforma e a converte<br />

efetivamente em <strong>ou</strong>tra razão: aquilo que diz a razão analítica o entende<br />

a dialética enquanto que esta última fala em uma linguagem<br />

incompreensível para aquela. A razão dialética situa a analítica dentro<br />

do seu contexto histórico e, ao relativizá-la, integra-a em seu movimento.<br />

Em troca, a razão analítica é incompetente para julgar a dialética... O<br />

defeito da posição de Sartre é o de toda dialética logo que cessa de<br />

rep<strong>ou</strong>sar sobre um fundamento. É certo que a razão dialética pode<br />

compreender e julgar a analítica e que esta é incompetente para<br />

compreendê-la e julgá-la mas, a razão dialética se compreende e se pode<br />

julgar a si mesma? A razão dialética é uma ilustração do paradoxo do<br />

movimento: a terra se move em torno de um sol que parece imóvel e que,<br />

para os fins do movimento terrestre, efetivamente o está. Sendo assim,<br />

falta à dialética, desde Hegel, um sol: se a dialética é o movimento do<br />

espírito, há um ponto de referência graças ao qual o movimento é<br />

movimento. O fundamento da dialética é não-dialético pois de <strong>ou</strong>tro<br />

modo não haveria movimento, não haveria dialética. Marx nunca<br />

explic<strong>ou</strong> com clareza as relações entre o seu método e a dialética de<br />

Hegel, embora o tenha prometido em várias páginas. Portanto, nos falta<br />

o ponto de referência entre a dialética e a matéria. Engels quis remediar<br />

esta omissão, com as suas investigações sobre a dialética da natureza,<br />

_______________________________________________________<br />

<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 67

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