PAZ, Octavio - Claude Lévi-Strauss ou o Novo - No-IP
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não é como aquilo. Já foi dito muitas vezes que o pensamento selvagem é<br />
irracional, global e qualitativo enquanto que o da ciência é exato,<br />
conceituai e quantitativo. Esta oposição, tema constante das querelas<br />
antropológicas no princípio do século, revel<strong>ou</strong>-se ilusória. A química<br />
moderna “reduz a variedade dos perfumes e sabores à combinação, em<br />
proporções diferentes, de cinco elementos: carbono, hidrogênio,<br />
oxigênio, enxofre e, azoto”. Surge assim um domínio até agora<br />
inacessível à experimentação e investigação: esse mundo de<br />
características oscilantes que só são perceptíveis e definíveis por meio do<br />
conceito de revelação. O homem de ciência do passado media, observava<br />
e classificava; o primitivo sente, classifica e combina; a ciência<br />
contemporânea penetra, como o primitivo, no mundo das qualidades<br />
sensíveis graças à noção de combinação, simetria e oposição. As<br />
taxionomias dos primitivos não são místicas nem irracionais. Ao<br />
contrário, seu método não difere do dos computers: são quadros de<br />
relações<br />
A magia é um sistema completo e não menos coerente consigo<br />
mesmo que a ciência. A distinção entre ambas reside “na natureza dos<br />
fenômenos a que uma e <strong>ou</strong>tra se aplicam”. Por sua vez, esta diferença é<br />
resultado de <strong>ou</strong>tra: “as condições objetivas em que aparecem o<br />
conhecimento mágico e o científico”. Este último explica que a ciência<br />
obtenha melhores resultados que a magia. Se esta observação é exata (e<br />
creio que é) a diferença entre magia e ciência seria, em primeiro lugar, a<br />
precisão, a exatidão e a finura, não de nossos sentidos nem de nossa<br />
razão, mas de nossos instrumentos, e em segundo lugar, as finalidades<br />
distintas da magia e da ciência. <strong>No</strong> que diz respeito ao primeiro item, já<br />
se verá que não é tão grande como se acredita a inferioridade técnica e<br />
operatória do pensamento selvagem e que, suas conquistas não foram<br />
menos importantes que as da ciência. A segunda observação nos coloca<br />
diante de um problema de <strong>ou</strong>tra índole: a orientação contraditória das<br />
sociedades. Mais adiante tratarei deste tema capital; aqui direi somente<br />
que a magia coloca problemas que a ciência ignora <strong>ou</strong> que, por<br />
enquanto, prefere não tocar. Neste sentido pode parecer impaciente, e o<br />
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<strong>Octavio</strong> Paz – <strong>Claude</strong> <strong>Lévi</strong>-<strong>Strauss</strong> <strong>ou</strong> o Festim de Esopo 49