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Weekend 1197 : Plano 56 : 1 : P.gina 1- - Económico

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44 | Outlook | Sábado, 19.12.2009<br />

VIDA<br />

perceber o que era aquilo para me seduzir “convites que implicavam que me fosse<br />

por completo, para algo mexer comigo.<br />

embora ou que estivesse seis ou sete meses<br />

Quando fui a Paris, ele disse-me que além<br />

fora. Isso, para mim, não faz sentido de<br />

da parceria com a Experimenta gostava<br />

todo. É mais uma condicionante nas<br />

muito de me convidar para comissariar a<br />

minhas escolhas. Aceito coisas que possa<br />

programação do La Gaité. Não foi muito<br />

fazer neste misto de estar cá e ir lá. É muito<br />

surpreendente. Foi muito um desafio<br />

importante ir lá, mas amanhã tenho duas<br />

porque o La Gaité não se posiciona muito<br />

horas de skipe agendadas com o Michel<br />

na área do design, mas na área cultural e<br />

Reilhac (director de cinema do canal de<br />

não havia necessariamente uma ligação ao<br />

televisão ARTE) e como o Jerome e estou<br />

design se o Jerome não a quisesse fazer. E<br />

em Torres Vedras e eles estão em Paris e<br />

ele definitivamente quer fazê-la.<br />

estamos a trabalhar em conjunto. Não<br />

implica eu ir. Cada vez mais as novas<br />

tecnologias permitem estar num sítio e<br />

trabalhar em rede com o mundo inteiro.<br />

Já sabe o que vai fazer em Paris?<br />

Ainda não sei. É tudo muito novo. Sei qual<br />

é o desafio, sei que é um projecto que vai<br />

falar sobre o futuro e celebrar o facto de em<br />

2062 o La Gaité fazer 200 anos. Vamos<br />

trabalhar como ‘layer’ do passado, olhando<br />

para o presente. É uma visão antecipatória<br />

desse ano de 2062. Não vamos estar a criar<br />

um projecto para 2062. Vamos apresentar<br />

em 2011 uma visão de 2062.<br />

Parece um pouco ficção científica.<br />

(Risos) Li imensa ficção científica quando<br />

era miúda. Essa capacidade de antecipar e<br />

de criar cenários é das coisas mais<br />

extraordinárias. Se há área onde isso tem<br />

um poder extraordinário é cultura, na<br />

criação artística, porque praticamente não<br />

há fronteiras, limites. Pode-se criar o<br />

inexistente. Vamos ter actores na área da<br />

cultura, sejam músicos, cantores,<br />

performers, designers ou arquitectos e<br />

puxar por essa liberdade criativa, tentando<br />

com eles criar uma visão de 2062. Estamos<br />

a identificar coisas muito específicas em<br />

relação ao presenteeéumpresente<br />

ancorado numa cidade como Paris – que<br />

nos interessam agora. Já chegámos a<br />

algumas conclusões, o que é que nos<br />

interessa trabalhar. Partiremos de alguns<br />

olhares muito concretos sobre o presente<br />

para fazer essa visão do futuro. É aí que<br />

entram todos os criadores que vamos<br />

convidar. Portanto, a coisa está muito,<br />

muito em aberto.<br />

Isso implica conhecer o cenário. Qual é<br />

a sua relação com Paris?<br />

Tive um grande enamoramento com Paris<br />

há muitos anos e depois um grande<br />

afastamento. Paris deixou de me<br />

interessar. Mas identifico-me muito com a<br />

cultura francesa e posso dizer que sinto-<br />

-me em casa em Paris. É uma cidade que<br />

me é muito próxima, de pele e<br />

emocionalmente. Paris está em<br />

transformação e é muito interessante<br />

observar isso. Vai ser muito interessante<br />

perceber que, por exemplo, no Marais há<br />

uma comunidade chinesa fortíssima, há<br />

uma comunidade gay também muito forte,<br />

toda uma dimensão de situações sociais<br />

que vão mudar o olhar que vamos ter<br />

sobre aquele espaço. E essa é uma das<br />

áreas que me interessa: perceber em que<br />

medida estas camadas sociais e culturais<br />

que Paris tem que não batem certo com<br />

essa memória que existe, escrita e em<br />

cinema, como é que isso já mudou na<br />

cidadeeoqueéqueissovaimudar,<br />

inevitavelmente, naquela cidade.<br />

Geograficamente, vai manter-se em<br />

Torres Vedras?<br />

Vou. Aliás, continuo na Experimenta.<br />

Estamos a preparar muitas coisas em<br />

Portugal. Interessa-me muito trabalhar em<br />

Portugal. A próxima edição da Bienal é em<br />

2011; já estamos a trabalhar nela. Tive um<br />

convite para o Brasil, São Paulo, ainda não<br />

é público, mas vou muito em breve ao<br />

Brasil começar novos trabalhos. É apenas<br />

mais uma peça do tal ‘puzzle’. Não posso,<br />

nem quero deixar Portugal. Já tive vários<br />

Não gosto<br />

de ‘gadgets’,<br />

não gosto de<br />

coisinhas.<br />

Nada. Nada.<br />

Não sou uma<br />

coleccionadora<br />

e não tenho<br />

obsessão<br />

de ter peças<br />

assinadas;<br />

de ter ícones<br />

do design<br />

na minha casa<br />

Não lhe passa pela cabeça viver fora<br />

de Torres Vedras, a sua cidade?<br />

Quando fui estudar, vivi em Lisboa<br />

durante quatro anos. Depois casei, vivi um<br />

ano em Lisboa e quando fiquei grávida<br />

lembro-me de estar no autocarro e pensar<br />

que não queria que o meu filho nascesse<br />

ali. Tenho uma raiz. É engraçado, mas<br />

quando uma pessoa não nasce numa<br />

grande cidade e faz essa deslocação de ir<br />

para a grande cidade, há sempre uma terra<br />

que a chama. Sou muito ligada a isto. À<br />

estrutura familiar que tenho aqui, ao<br />

apoio. O que não quer dizer que não vá<br />

viver para outro sítio. Para ser sincera,<br />

50% do meu ano não vivo aqui. Tenho<br />

uma relação de seis meses com esta<br />

cidade, quotidiana, e depois tenho seis<br />

meses em que não estou cá. E acho que<br />

neste momento não conseguiria viver fora.<br />

É uma cidade com personalidade e que<br />

conheço desde pequenina. Passo muito<br />

tempo fora de Portugal, quase sempre<br />

numa realidade ilusória, em bienais, vive-<br />

-se num mundo irreal e aprecio imenso<br />

este exercício da relatividade de viver num<br />

espaço que é uma cidade portuguesa de<br />

província que obriga a relativizar as coisas.<br />

Relativiza a importância do que faço<br />

noutros sítios e chama-me para coisas<br />

muito básicas, muito simples, muito<br />

estruturantes. Continuam a ser as mais<br />

importantes da vida. E, às vezes,<br />

frequentando outros caminhos, outros<br />

passos, corre-se o risco de esquecer isso.<br />

Gosto de não me esquecer, de ter isso<br />

sempre presente.<br />

A edição de 2007 da Experimenta<br />

foi cancelada por causa de um litígio,<br />

chamemos-lhe assim, com o então<br />

presidente da Câmara de Lisboa,<br />

Carmona Rodrigues. Pouco antes<br />

de ser convidada a desempenhar<br />

cargos políticos, primeiro enquanto<br />

administradora do CCB e depois<br />

como programadora da Casa<br />

da Música. Qual a sua relação<br />

com a política?<br />

Opero em relação à sociedade de uma<br />

forma política, mas a política partidária<br />

não me interessa. Não tenho nenhuma<br />

ligação nem com esquerda, nem com a<br />

direita. Neste momento não consigo dizer<br />

que me identifique com nenhum partido.<br />

Sei que não me interessam os extremos.<br />

Nem a extrema-esquerda, nem a<br />

extrema-direita.

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