Weekend 1197 : Plano 56 : 1 : P.gina 1- - Económico
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Mas é forçada a lidar com quem está no<br />
poder.<br />
Sim. Tal como tenho de lidar com todos os<br />
empresários. Tenho de saber lidar com<br />
todas as pessoas. Agora, sempre me liguei e<br />
sempre me relacionei com as pessoas que<br />
estão à frente das coisas e não com as<br />
pessoas que estão atrás dessas pessoas. Não<br />
me interessam os partidos, mas as pessoas.<br />
Mesmo não votando em Lisboa, apoiei o<br />
António Costa porque acreditei nele em<br />
2007, quando se candidatou pela primeira<br />
vez, e porque, depois destes dois anos em<br />
Lisboa, merecia não só continuar o<br />
trabalho iniciado como ter mais tempo<br />
para levar projectos de fundo, essenciais<br />
para a capital portuguesa, a bom porto. É<br />
um homem rigoroso e consistente que<br />
defende, tal como eu, o papel da cultura e<br />
do design como prioritários para<br />
desenvolver a cidades do século XXI.<br />
O design seria uma disciplina obrigatória<br />
para a classe política?<br />
Não só para a classe política. É daquelas<br />
disciplinas que todos deveríamos aprender<br />
a utilizar desde muito cedo porque é<br />
utilíssima. Permite olhar para o contexto e<br />
ver onde está o problema e saber que há<br />
que chegar àquele ponto e desenhar a<br />
estrutura que leva a ele. Imensa gente faz<br />
isso de forma altamente intuitiva. Agora,<br />
pode-se aprender como fazer isso de<br />
forma muito mais técnica e muito mais<br />
aperfeiçoada.Eéissoqueodesignfaz.Eé<br />
muito interessante porque o design é<br />
muito abrangente. É talvez a disciplina<br />
Não me<br />
interessam<br />
os partidos,<br />
mas as pessoas<br />
(...) António<br />
Costa é um<br />
homem<br />
rigoroso<br />
e consistente<br />
que defende<br />
a cultura<br />
e o design<br />
como<br />
prioritários<br />
para<br />
desenvolver<br />
as cidades<br />
do século XXI<br />
Outlook | Sábado, 19.12.2009 | 45<br />
mais abrangente. Tem condicionantes de “A sua saída do CCB esteve envolta em<br />
carácter económico, de sustentabilidade<br />
polémica. Houve algum momento em<br />
ambiental ou social, condicionantes de<br />
que sentiu que não devia ter aceite o<br />
carácter estético e ético. Há toda uma série<br />
convite?<br />
de áreas que um designer é obrigado a<br />
Não. O CCB estava uma altura muito<br />
pensar se quiser produzir uma resposta<br />
crítica quando entrei lá.<br />
boa, consistente e eficaz. Nem a<br />
arquitectura nem a engenharia são tão<br />
abrangentes. Acho uma ferramenta<br />
utilissíma quer para políticos, quer para<br />
gestores nos hospitais.<br />
Sentiu-se bem em estruturas como a<br />
Casa da Música ou o CCB?<br />
Acho que sou mais útil fora de uma<br />
estrutura tão rígida e tão formal. Não me<br />
revejo em estruturas muito rígidas onde<br />
exista um ambiente de formalismo, onde<br />
exista uma grande incapacidade de<br />
resposta a tempo e onde se perca<br />
demasiado tempo em coisas que considero<br />
pouco importantes.<br />
Está a referir-se a estas duas<br />
instituições?<br />
Não. Estou a referir-me à maior parte das<br />
instituições que nós, sociedade,<br />
desenhamos ao longo dos tempos. Não é só<br />
na área da cultura. No ponto de vista das<br />
pessoas políticas, das instituições sociais.<br />
Penso que deviam ser redesenhadas.<br />
Conheço a experiência de estar em<br />
estruturas que não têm essa rigidez e esse<br />
formalismo. Foi útil, foi interessante, foi<br />
muito estimulante e gostei de as ter mas<br />
acho que sou mais útil se estiver a operar<br />
num território muito mais flexível.<br />
Tinha consciência disso?<br />
Sim. Mas tinha para mim um desafio<br />
importantíssimo que era o museu do<br />
design. E eu sabia perfeitamente o que<br />
deveria fazer para transformar o museu do<br />
design naquilo que ele deveria ser. Para o<br />
colocar no circuito internacional tal como<br />
nós fizemos com a Experimenta. Portanto,<br />
esse desafio com uma instituição que<br />
tinha uma peça importantíssima neste<br />
jogo foi o suficiente para eu dizer que sim.<br />
Eu sabia onde estava a entrar. Ao pensar<br />
também sei que um bocadinho antes de<br />
mim. Posso é ter saído frustrada por não<br />
ter conseguido fazer aquilo que queria.<br />
Há pouco falava das oportunidades e<br />
convites para trabalhar fazer fora do<br />
país. Declinou sempre esses convites.<br />
Sente que isso a prejudicou?<br />
Claro que sim. Mas sou mãe, tenho dois<br />
filhos, e acho que das coisas mais<br />
importantes que se pode ter na vida é ser<br />
mãe e ter filhos. E é uma coisa que ainda<br />
por cima tem um ‘timming’ relativamente<br />
curto. Porque eles são pequeninos durante<br />
muito pouco tempo. Depois são como nós,<br />
são adultos. Continuo a ser mãe deles,<br />
obviamente mas já é outra coisa.<br />
Entretanto eles já ficam nossos irmãos,<br />
pessoas como nós. Esse tempo de<br />
crescimento, esse tempo de formação é<br />
muito importante, é determinante. Acho<br />
que é um privilégio poder acompanhar<br />
isso muito bem. Portanto, nunca, durante<br />
este período, faria algo que me levasse<br />
para longe deles. E também, por natureza,<br />
não me via a levá-los para outro sítio<br />
porque preciso de uns sítios, as tais<br />
referências, para ter o meu equilíbrio.<br />
Portanto, a opção foi dizer sempre que<br />
não, com muita pena muitas vezes, mas<br />
não tenho nada de arrependida. Pelo<br />
contrário, acho que fiz sempre certíssimo,<br />
e agora eles estão tão grandes, um tem 19,<br />
outro 15 e começa a ser tempo de eu poder<br />
aceitar coisas mais fora de Portugal e que<br />
me levem para fora de Portugal. Mas eu<br />
não quero, não gostaria de sair de<br />
Portugal.<br />
Li em algum lado que se acha uma<br />
anti-social.<br />
Sou muito solitária. Saio muito, muito<br />
pouco. Não individualista, mas solitária.<br />
Se estou em trabalho, sou sociável e faço<br />
isso muito bem. Mas por natureza sou<br />
muito reservada e sou de muito poucas<br />
pessoas. Acho que isso depois não bate<br />
certo, às vezes, com aquilo que as pessoas<br />
vêem. Não há disposição.<br />
Mas aparece muito na comunicação<br />
social. Como lida com isso?<br />
Acho importante comunicar o que faço e<br />
não me importo nada de o fazer. Coisas<br />
muito pessoais não gosto. Digo muitas<br />
vezes que não. Mas também faço uma<br />
gestão muito instintiva dessa área. Sou<br />
daquelas pessoas que entra numa<br />
inauguração e dá duas voltas, fala com três<br />
pessoas e vai-se embora a seguir. É mais<br />
do que suficiente. Depois no dia a seguir<br />
vou lá, sozinha. Mas vou se é alguém que<br />
eu admire, alguém que eu respeite,<br />
alguém de que goste particularmente,<br />
dizer ‘estou aqui, vim cá para ver o teu<br />
trabalho, estou aqui porque acredito<br />
naquilo que fazes ou quero que me<br />
surpreendas e quero aprender’.