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38 | Outlook | Sábado, 19.12.2009 MADE IN Nova Iorque... Foi para os Estados Unidos para concluir Gestão Hoteleira. Entre o trabalho e encontros casuais com famosos constituiu família: tem um filho e está grávida de outro Ese um actor lhe dirigir a palavra? Depende. Conhecer figuras como Gwyneth Paltrow, Yoko Ono, Robert De Niro ou Julia Roberts tornou-se o prato do dia enquanto gerente do Giorgione, um restaurante italiano no Soho de Nova Iorque. Complicado foi no dia em que o conhecido actor (e protagonista das campanhas publicitárias da Nespresso) George Clooney, terminado o almoço no restaurante, se dirigiu a Joana e disse: “Grazie!” (“com o ar mais charmoso”). “Eu derreti como manteiga ao sol e fiquei sem palavras, o único som que me saiu foi ‘hummm’ e começaram todos a rir porque deu perfeitamente para perceber que fiquei totalmente K.O.”. Nova Iorque foi uma escolha lógica para terminar o curso de Gestão Hoteleira. O pai e dois irmãos já aí viviam. Até então, tinha morado em Lisboa com a mãe. Depois do episódio com o senhor Nespresso, e de ter trabalhado num outro restaurante (também italiano), Joana foi para o Classic Car Club - um clube privado de ‘time-sharing’ de carros exóticos e clássicos, onde continua a cruzar-se com famosos como Donna Karan, Heath Ledger, entre outros. Cabe-lhe tratar da área financeira e, por vezes, da entrega de Ferrari, Lamborghini e Bentley aos membros do clube. Às vezes, também, das campanhas de marketing. A par da Joana profissional existe a Joana mãe. De Luca, de dois anos, e de um segundo filho que está a caminho (já percorreu seis meses). É também uma explicação lógica que dedique os seus tempos livres ao filho: com passeios em Central Park, idas ao cinema, visitas ao Zoo e outros parques. Na cidade que nunca dorme há uma infusão de pessoas, de restaurantes, de cheiros e “acima de tudo, de confusão”. Exactamente o que agrada a esta portuguesa de 32 anos, a viver em Nova Iorque desde Outubro de 2001: “A ideia de que faço parte deste mundo maravilhoso de diferentes etnias”. Há diferenças? Claro que as há. Por exemplo, as amizades em terras do tio Sam são diferentes. “Bem mais superficiais”. E como lisboeta que é, queixa-se da falta da praia. Com o calor, “o Verão na cidade torna-se insuportável”. Regressa a Portugal todos os anos para “matar saudades”. Se dúvidas houvesse quanto às suas raízes, estariam dissipadas com esta última afirmação. CRISTINA S. BORGES ...de Joana Belo Brendan McDermid/Reuters
O MEU MUNDO Tyler Brulé Verde de inveja Estamos perante um espectáculo sem precedentes. Nas últimas semanas, as páginas dos semanários e diários financeiros mais parecem os bastidores de um hotel de Atlantic City em dia de concurso Miss America. Nas páginas dos jornais assistimos a uma verdadeira parada de nomes a tentarem despertar a atenção do mundo com as suas frases sonantes, prosa cuidada e mensagens bem ensaiadas. Mas diferença no que toca a este espectáculo é que os concorrentes não respondem por nomes como Amber e Tifani, não provêm de cidades como Tempe, Arizona ou Madison, Wisconsin, e o local do evento atravessou o Atlântico, de Nova Jérsia para as ruas de Copenhaga. Mas, diferenças à parte, a cimeira do clima da ONU mais parece um desfile de beleza como qualquer outro – pelo menos do ponto de vista do marketing. No meio de todo este rodopio, dos desfiles, dos passos de dança e das mensagens sonantes podemos encontrar as maiores marcas do mundo, das empresas óbvias dos sectores da energia e automóvel aos mais poderosos governos regionais. E, à semelhança do que acontece no concurso Miss America, todos têm resposta pronta e uma proposta para salvar o mundo. Um dos primeiros concorrentes que me despertou a atenção durante o voo de regresso de Tóquio foi uma empresa de bebidas a esforçar-se por transmitir aos seus pares e accionistas a forma como estava a repensar toda a sua cadeia de fornecimento global e a lutar por um futuro sustentável. Tudo parecia muito bem e muito bonito mas, no fundo, mais não era do que uma desculpa esfarrapada para convencer os presentes a matarem a sede bebendo ou misturando os refrigerantes da empresa com vodka nas reuniões de estratégia da COP15, reuniões estas que decorriam normalmente ao fim do dia. Depois do almoço, e sobrevoando Vladivostok, reparei de um anúncio colocado na página ímpar de um semanário muito respeitado. Era de uma marca de automóveis que afirmava que a sua nova linha de veículos ajudaria os condutores a percorrerem maiores distâncias com uma pegada de carbono menor. O anúncio teria funcionado se a empresa tivesse mantido a sua mensagem de sempre, de certo modo gasta, mas não tivesse enchido a página com fotografias de veículos que mais pareciam cadeiras de dentistas ou aparelhos de Raio X. Quando estávamos a chegar a Heathrow, reparei num anúncio de uma empresa na área da geração e comercialização de energia que operava numa cidade muito grande. Com um mote simples, lembrava os leitores estava a fazer tudo para reduzir as emissões de CO2. Não deveria isto ser um dado garantido numa cidade do primeiro mundo? Porquê um anúncio de 30 mil libras para nos lembrar desta mensagem? A cimeira COP15 não podia ter vindo em melhor altura, sobretudo para as empresas de comunicação social, cujas receitas de publicidade têm vindo a cair, uma vez que as multinacionais estão cortar nos seus orçamentos pan-regionais de publicidade e a centrarem-se antes em iniciativas tácticas para levarem os consumidores a consumir. Nas últimas semanas de 2009 – e nas primeiras de 2010 – vamos assistir a uma verdadeira leva de marcas globais a relembrarem-nos quanto às suas boas intenções e as empresas de comunicação social a congeminarem novas formas de tentarem agarrar esses dólares de publicidade. Apesar de não haver nada de errado com a criação de campanhas elaboradas para conquistar os corações dos consumidores, interrogo-me se os leitores do Financial Times, da The Economist e dos vários diários económicos em espanhol, francês, japonês e alemão precisarão mesmo de levar com tantas “mensagens” deste tipo?” Muitos destes anúncios parecem de tal modo desesperados e são, francamente, tão pouco convincentes que quase se tornam ofensivos. Acredita mesmos nesses anúncios televisivos de grandes projectos no Golfo que defendem a sua sustentabilidade em voz ‘off’? Podem estar a construir uma cidade energeticamente eficiente do futuro, mas a que preço? Qual o consumo de todos esses voos ‘charter’ cheios de trabalhadores esgotados nos voos de ida e volta para Peshawar, Dhaka e Karachi? E o que dizer da felicidade da fauna marinha, esmagada pelas mandíbulas das escavadoras e dragas? Qual o impacto da comprar e transporte das ferramentas e maquinaria usadas nessas mesmas infra-estruturas e compradas na distante China? Mas também existem boas histórias. Eoquenão falta são exemplos notáveis. Mas sinto que existe um crescente sentimento de preocupação e de suspeita junto dos consumidores quanto a todos esses prefixos e sufixos “eco” usados nos anúncios, nas embalagens e no material de marketing. Se algum desse material publicitário ajudar os jornais em dificuldades a melhorarem os seus resultados, então gastar alguns dólares em marketing não terá nada de mal – mas se contribuir antes para aumentar as suspeitas dos consumidores e se a mensagem não nos remeter para o seu ‘core business’, então de nada serve aos accionistas e aos consumidores. Se o ‘core business’ for construir viaturas, é lícito esperarmos anúncios que remetam para programas abrangentes de redução de emissões e para a construção de viaturas facilmente recicláveis. Mas se há algo que devemos reter é que estamos também no negócio de concepção de veículos, veículos estes que os consumidores certamente vão querer ver, testar e comprar. E assim como os hotéis que se vendem como estabelecimentos de “design” tendem a ser tudo menos edifícios bem planeados e bem concebidos, demasiados rótulos “eco” e demasiados slogans excessivamente bem intencionados mais não fazem do que poluir o mercado. Tyler Brûlé é director da Monocle Exclusivo Financial Times Tradução de Carlos Tomé Sousa Outlook | Sábado, 19.12.2009 | 39 Nuno Artur Silva E pode-se assobiar “O optimista pensa que vivemos no melhor de todos os mundos possíveis. O pessimista receia que isso seja verdade”. A frase é de Robert Oppenheimer, considerado “o pai da bomba atómica”. Seria ele um optimista ou um pessimista? A verdade é que inventou uma bomba que pode acabar com qualquer mundo, o melhor e o pior. A realidade muda. Às vezes estrondosamente. Nesta época natalícia ocorre-me falar dessa antítese de Pai Natal que é o Profeta da Desgraça. Tal como os Pais Natal nos centros comerciais, com a crise, têm-se multiplicado os Profetas da Desgraça nos canais informativos. Há-os em versão light , mas os que se destacam são os do género apocalíptico. De entre estes, Vasco Pulido Valente e, sobretudo, Medina Carreira. Para Pulido Valente a explicação de tudo em Portugal está no século XIX e no início do século XX. Tudo o que acontece hoje, cem anos depois, explica-se à luz dessa época e de acordo com a evidência de que os portugueses são muito estúpidos. É verdade que o Eça e o Camilo são mais actuais do que gostaríamos, mas é divertido verificar a quantidade de vezes que Pulido Valente se enganou nas suas previsões. Medina Carreira reduz tudo à questão financeira e ao facto de estarmos a perder não sei quantos milhões por dia e caminharmos irreversivelmente para a banca muito rota por causa da total incompetência do pessoal político. E, tal como Pulido Valente, não só não deixa de ter uma certa razão como, pela certa, lhe está a faltar uma outra razão essencial. No âmbito da Física, a experiência do gato de Schrodinger mostrava, não só como a realidade é complexa como, simplificando, que é impossível observá-la sem nela interferir. O que se vê depende sempre de quem vê e donde se vê. E da fé. É a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio. E de quem o feio ama bonito lhe parece. Ou na versão pessimista: quem o bonito detesta, feio lhe parece. Nas comédias televisivas utilizavam-se risos gravados para condicionar a recepção do espectador. Experimentem ver um programa de humor com uma plateia predisposta a gostar do comediante e depois ver o mesmo programa num grupo que à partida não acha graça nenhuma ao mesmo comediante. É como ver dois programas diferentes. A expressão “estado de graça” aplica-se aqui na perfeição. No palco do nosso Portugal bipolar têm contracenado Cândidos e Velhos do Restelo para todos os gostos, com melhores ou piores audiências. O que têm faltado são fazedores. Daqueles que fazem realmente a diferença. Um dos que fizeram realmente a diferença, talvez o que fez mais a diferença em Portugal, nos últimos cem anos, Mário Soares, editou agora um ensaio dedicado aos jovens intitulado “Elogio da Política” onde lembra que a política é uma actividade nobre. Éomomentocertoparao lembrar e Soares tem a autoridade para o fazer. É um optimista com 85 anos. Sempre foi. Eoseu optimismo fez mudar o país. O meu filme favorito sobre a vida de Cristo chama-se “A Vida de Brian”, dos Monty Python. O filme termina com os crucificados a cantarem “Always look on the bright side of life”. Parecendo que não, é um belo e sábio mandamento. E pode-se assobiar.
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