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Weekend 1197 : Plano 56 : 1 : P.gina 1- - Económico

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46 | Outlook | Sábado, 19.12.2009<br />

VIDA<br />

Há um lado de gestora ligado à sua<br />

profissão.<br />

Estudei gestão hoteleira… Foi muito útil.<br />

Tive muitas cadeiras de gestão, de<br />

economia.<br />

Alguma vez lhe passou pela cabeça<br />

gerir um hotel?<br />

Não. Nunca. Soube que não queria nada<br />

disso quando ainda estava a estudar.<br />

A Experimenta é a sua grande causa?<br />

É. Não tenho dúvida. Eu quero muito,<br />

gostaria muito de poder contribuir para<br />

que, progressivamente, algumas coisas<br />

que eu acho que estão altamente<br />

desproporcionais em Portugal se fossem<br />

alterando.<br />

Mas está muito dependente de ajuda<br />

externa.<br />

Dependo. Defendi que fazer a bienal<br />

Experimenta em Portugal é importante<br />

para o nosso país, é importante para a<br />

cidade, colocou Lisboa num certo sítio,<br />

colocou Portugal num certo sítio, coloca<br />

os nossos criadores num certo sítio<br />

também. Nós formamos milhares de<br />

pessoas a cada edição, o nosso papel cá é<br />

muito importante para o nosso país e para<br />

a cidade onde operamos. Acho que deve<br />

haver uma comparticipação do Estado e<br />

da cidade em relação a este projecto. Do<br />

Estado é uma comparticipação mínima<br />

comparada com a das realidades que<br />

conheço como em Itália ou França. Aqui<br />

nós temos uma comparticipação de 38%<br />

em relação ao orçamento total da bienal.<br />

Estou confortável com 38% mas não é<br />

muito. Se me coloca na dependência? Só<br />

me coloca se eu quiser. Por isso uma vez<br />

cancelei a bienal. Foi uma decisão muito<br />

mais política do que económica. Eu podia<br />

ter feito a bienal mais pequenina só que,<br />

politicamente, seria, para mim,<br />

completamente em vão estar a fazer uma<br />

bienal numa cidade quando o Presidente<br />

da Câmara dessa cidade não a queria. Se<br />

não quer, eu não faço. As coisas devem ser<br />

feitas de forma sinérgica, em colaboração.<br />

É assim que gosto de trabalhar.<br />

Vais sair na próxima edição da “Vogue”<br />

italiana.<br />

É um artigo todo sobre o meu trabalho. A<br />

“Vogue” italiana é conhecida no mundo<br />

das revistas de moda por trazer temas que<br />

MAKING-OF<br />

Estamos numa rua pedonal no centro de<br />

Torres Vedras, a cidade onde Guta Moura<br />

Guedesnasceuhá44anoseondevive<br />

apesar das solicitações do exterior.<br />

É ali que a directora da<br />

ExperimentaDesign está a recuperar uma<br />

casa antiga. É ali que quer ser<br />

fotografada, num espaço que não quer<br />

encher de objectos, mas onde está<br />

presente a marca da designer.<br />

É uma casa de todas as cores, divertida,<br />

como o actual momento que diz estar a<br />

viver.<br />

normalmente não saem nas revistas de<br />

moda.<br />

Qual a sua relação com a moda?<br />

Interessa-me só enquanto forma de<br />

comunicação. Só me interessa a roupa<br />

como veículo de comunicação. E do ponto<br />

de vista criativo, ou seja, interessam-me<br />

certos criadores. Cada vez mais está no<br />

campo artístico e portanto já é difícil dizer<br />

que se é um designer de moda. Mas<br />

interessa-me enquanto pólo de<br />

criatividade, enquanto expressão artística<br />

e criativa. E depois a minha relação com a<br />

moda é rigorosamente zero a não ser no<br />

sentido em que me visto e que escolho<br />

aquilo que visto com uma intenção<br />

deliberada. Não me visto de uma forma<br />

neutra, nem me visto como se não me<br />

estivesse a vestir.<br />

Como é que se vestiu para esta<br />

entrevista?<br />

Pensei que o critério era sempre<br />

fotogénico. Essencialmente isso. A roupa é<br />

uma forma de comunicação, como a<br />

palavra, como a escrita, como a música,<br />

Escreve?<br />

Escrevo. Escrevo um bocadinho.<br />

Mas não publica.<br />

Não.<br />

Porquê?<br />

Porque sou muito, muito, muito crítica.<br />

Procuro fazer as coisas muito bem feitas e<br />

acho que devo investir naquilo que faço já<br />

muito bem e devo-me divertir com aquilo<br />

que me interessa porque preciso,<br />

eventualmente, de escrever e preciso<br />

tocar a música ou alguma coisa assim (já<br />

não toco piano há muitos anos), mas gosto<br />

demasiadamente de ler para poder<br />

publicar.<br />

O que gosta de ler? Falou de Herberto.<br />

Gosto de ler uma imensidão, mas tem que<br />

ser muito bom, dentro dessa imensidão.<br />

Não consigo ler maus livros.<br />

O que é um mau livro?<br />

É um livro mal escrito. Não consigo ler<br />

uma boa história mal escrita. Fico doente.<br />

Tenho uma enorme paixão pela palavra e<br />

pela construção de um texto, pela<br />

estrutura de um texto, pela história<br />

“também, obviamente. As histórias são<br />

extraordinárias mas não me chega a<br />

existência de uma história. Tem que<br />

existir uma estrutura de texto, uma<br />

palavra, um hino da palavra, um hino de<br />

Sou muito<br />

solitária. Não<br />

individualista,<br />

mas solitária.<br />

Se estou em<br />

trabalho, sou<br />

sociável e faço<br />

isso muito<br />

bem. Mas por<br />

natureza sou<br />

muito<br />

reservada<br />

ritmo, que por detrás daquela história me<br />

faça ler. Gosto tanto dos clássicos, gosto de<br />

alguns contemporâneos, mas poucos.<br />

Gosto do Philip Roth, acho extraordinário,<br />

nãosópelotemacomopelaformacomo<br />

ele escreve. Mas estou constantemente<br />

‘back to the classics’ porque não consigo<br />

resistir. Quer dizer, como é que a pessoa<br />

resiste a Eça de Queirós, Stendhal,<br />

Faulkner, Proust, todos esses, como é que<br />

se resiste? Depois o tempo é muito curto.<br />

É que não se pode ler tudo, não é? E então<br />

prefiro só ler os melhores. O que escrevo<br />

deve ser muito ridículo. Ridículo<br />

comparado com isso.<br />

Como define a actual fase da sua vida?<br />

Muito divertida! Muito difícil… muito<br />

entusiasmante. Ter 44, quase 45 anos,<br />

estar mais ou menos a meio da vida. Estar<br />

com energia, estar com o que sinto que já<br />

sei. É um momento da vida muito<br />

interessante. Estou com alguma<br />

dificuldade de gestão de prioridades.<br />

Tenho muitas solicitações, muitas coisas<br />

para fazer. Como disse, não gosto de fazer<br />

nada mal, gosto de fazer coisas bem feitas<br />

e isso implica fazer escolhas e aplicar as<br />

forças e o foco em poucas coisas. Estou<br />

muito entusiasmada com o redesenho da<br />

Experimenta.<br />

Vai ser diferente?<br />

A bienal vai mudar um pouco mas a<br />

própria Experimenta vai ter áreas que me<br />

interessam, ligadas ao design e às questões<br />

sociais, ao design e o envelhecimento, o<br />

design e a sustentabilidade. Interessa-me<br />

muito trabalhar nesta área do design<br />

estratégico, portanto, do ponto de vista de<br />

design urbano, de design de cidades. E<br />

interessa-me muito, também em<br />

Portugal, a ligação entre o design e a<br />

indústria, a ligação entre o design e as<br />

empresas.<br />

E os empresários portugueses têm essa<br />

noção?<br />

Começam a ter noção agora e é preciso<br />

fazer isso agora. O design é uma mais-<br />

-valia competitiva extraordinária. Nós não<br />

fazemos isso. Temos de fazer isso.

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