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Isaac Kerstenetzky - Biblioteca - IBGE

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158 <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>: legado e perfi l<br />

<strong>Isaac</strong> Kestenetxky: in memoriam, por Mário Henrique Simonsen (p. 339-340)<br />

A morte de <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong> privou o Brasil de um dos seus mais probos e dedicados<br />

cientistas sociais. Ele era, antes de mais nada, um erudito, com extremo conhecimento<br />

dos economistas clássicos, de Adam Smith a Marx, de Keynes a Sraff a e Pasine i, com extrema<br />

afi nidade de idéias com a London School of Economics. [...] Por ser um preciosista,<br />

publicou poucos livros e artigos: recusava-se a escrever um artigo no qual não tivesse<br />

algo de novo a dizer. Os seus poucos escritos, muitos dos quais em parceria com Werner<br />

Baer, dão, no entanto, uma idéia do seu quilate teórico.<br />

Obcecado pela mensuração econômica, <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong> sempre foi um mestre da pesquisa<br />

aplicada. Sua percepção objetiva era a da inutilidade das controvérsias econômicas<br />

que não fossem lastreadas em adequada evidência empírica. Nesse sentido, parece ter<br />

sido bastante infl uenciado pela obra de dois economistas laureados com o Prêmio Nobel:<br />

Wassili Leontief e Richard Stone.<br />

[...]<br />

Por muitos anos <strong>Isaac</strong> sofreu as frustrações do consumidor que não conseguia as respostas<br />

do produtor. Com efeito, as Contas Nacionais eram estimadas pela Fundação Getulio<br />

Vargas, equipada para qualquer sofi sticação compatível com as estatísticas primárias disponíveis.<br />

O ponto de estrangulamento era a qualidade das estatísticas primárias, produzidas<br />

pelo <strong>IBGE</strong>, que na década de 60 enfrentava uma série crise de gestão.<br />

[...]<br />

Lembro-me que na cerimônia de posse, com o seu apego ao trabalho e desprezo pela verborragia,<br />

ele se limitou a discursar durante 20 segundos, citando uma frase de Goethe.<br />

Praxe pouco habitual num país onde economistas querem ser poetas – e acabam não produzindo<br />

nem economia nem poesia decente – e que bitolaria toda a sua atuação à frente do<br />

<strong>IBGE</strong>: nenhum preconceito político, quer a favor dos governos militares, quer a favor de<br />

muitos dos seus colegas de profi ssão que militavam no campo oposto. Só probidade científi<br />

ca e compromisso com a verdade. E muito esforço, primeiro para reorganizar o Censo de<br />

1970, criar indicadores de produção industrial e uma primeira matriz de relações insumoproduto,<br />

além de muitas outras contribuições. [...] Publicamente apareceu muito pouco, se<br />

é que apareceu alguma vez: sua preocupação era revelar estatisticamente o que acontecia<br />

no Brasil, e não projetar sua imagem pessoal. [...] O que os estudiosos brasileiros sabem<br />

objetivamente sobre o Brasil é, em boa parte, fruto do seu trabalho.<br />

<strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>, por Annibal V. Villela (p. 341-344)<br />

Escreveu relativamente pouco, principalmente se se levar em conta sua vasta erudição em<br />

Economia. Alegava que não tinha nada de novo a dizer. É pena, pois teria podido, com<br />

grande competência, escrever comentários a livros, artigos e relatórios técnicos. Quantas<br />

vezes mostrou-me incongruências ou fraquezas em trabalhos que gozavam de grande<br />

fama. Todavia, seus artigos em co-autoria com Werner Baer sobre Economia brasileira<br />

tornaram-se clássicos.<br />

[...] Os anos na Presidência do <strong>IBGE</strong> constituíram o período áureo de sua vida profi ssional.<br />

A par de restaurar a credibilidade da instituição, que fora fortemente abalada pelo<br />

malogro do Censo de 1960, sua administração inovou em várias áreas, dentre as quais<br />

sobressaíram a elaboração da primeira matriz de relações interindustriais, a PNAD, o<br />

ENDEF, os estudos sobre ecologia, o início dos estudos para a construção de uma matriz<br />

energética e, last but not least, a informatização do órgão. Pela primeira vez em sua história,<br />

o Instituto passou a operar com objetivos claramente defi nidos, de maneira a fornecer<br />

informações úteis à tomada de decisões econômicas e sociais.<br />

Nos anos difíceis do governo Médici, <strong>Isaac</strong> exerceu com gentil fi rmeza – sendo um homem<br />

tímido e manso – sua prerrogativa de nomear profi ssionais competentes para diversos<br />

cargos no <strong>IBGE</strong>, mesmo quando havia fortes pressões contrárias dos “órgãos de segurança”.<br />

[...]<br />

Ele manteve inalterável sua convicção de que o planejamento continuava sendo necessário<br />

nos tempos atuais, uma vez que era a única maneira de se antecipar e agir sobre os fenômenos<br />

econômico-sociais. Acentuava que o planejamento era não apenas um conjunto

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