Isaac Kerstenetzky - Biblioteca - IBGE
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<strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>, fomentador das estatísticas brasileiras: legado ibgeano 39<br />
zados. E a função fundamental desse modelo é a construção de futuros alternativos,<br />
caminhos alternativos, que o sistema socioeconômico poderá percorrer nos próximos<br />
10, 15 ou 20 anos.<br />
A escolha de um dos caminhos alternativos é de natureza essencialmente política,<br />
em função dos grandes objetivos da sociedade: a manutenção do ritmo de progresso<br />
de desenvolvimento econômico ou o seu aumento, a diminuição de desequilíbrios de<br />
desenvolvimento regional e assim por diante. Em função desses objetivos, a escolha<br />
de uma das trajetórias se transforma num plano. Esse plano tem como função básica<br />
assegurar que estão predefi nidas medidas que vão permitir a consecução desses objetivos.<br />
O plano corresponde então a um estágio de decisão e, nunca é demais acentuar, a<br />
decisão fi nal é essencialmente política.<br />
É ilusão imaginar que os economistas tomam decisões ou apresentam defi nições<br />
melhor que os políticos. Os economistas, quando tomam decisão, transformam-se em<br />
elementos políticos do sistema, com peso igual a todos os demais. A grande vantagem<br />
dos economistas, cientistas sociais, sociólogos, cientistas políticos e antropólogos consiste,<br />
em razão de seu treinamento, na sua capacidade de visualizar e construir trajetórias<br />
alternativas. Em seguida, temos o estágio de implementação, isto é, da transformação<br />
do plano em realidade. E o controle? O controle está também, em parte, nessa área<br />
estatística e de pesquisa socioeconômica.<br />
A idéia é de que determinados tipos de dados estatísticos, produzidos por este<br />
sistema de informação, devem ter como objetivo fundamental o relacionamento da implementação<br />
do plano com os objetivos, a verifi cação de até que ponto os padrões conseguidos<br />
em termos do sistema educacional, padrões de nutrição alcançados, padrões<br />
de distribuição de rendimentos e desenvolvimento regional estão correspondendo ou<br />
não a esses objetivos.<br />
Da maneira como examinamos o assunto, a idéia é de que a contribuição crítica<br />
da informática para o desenvolvimento está justamente no tratamento da informação,<br />
na área do modelo, na área do plano e na área do controle, representadas no setor de<br />
informação do diagrama l. No diagrama 2 temos a repetição da indicação de objetivos<br />
e do plano, programas e projetos com frase em plano que defi ne as grandes linhas de<br />
desenvolvimento, programas setoriais e projetos que descem a nível de empresas ou de<br />
unidades do sistema. O sentido das setas dá uma indicação de insumo, quer dizer, essa<br />
área de decisão requer, como um insumo, informações. Quais são as informações? Por<br />
um lado, pesquisa; por outro, um sistema de estatísticas derivadas e primárias.<br />
Isto corresponde, dentro das condições brasileiras, ao plano nacional de estatísticas<br />
básicas. Deliberadamente, incluímos pesquisa porque, deve existir uma inter-relação<br />
íntima entre essa atividade e todas as demais atividades direta ou indiretamente<br />
ligadas ao plano nacional de estatísticas básicas.<br />
Por que isso? Porque assim como não podemos a priori defi nir arbitrariamente as<br />
tarefas a serem executadas por esse segmento do sistema, assim também não se trata<br />
de, na área do sistema estatístico, um trabalho daquilo que Bacon denominou como trabalho<br />
da formiga, o acúmulo de dados pelo próprio acúmulo de dados. Nesse sentido,<br />
a exploração na fronteira do desenvolvimento do sistema depende, de modo crítico, de<br />
um trabalho realizado na área da pesquisa.<br />
Isto porque o mais simples dos questionários do sistema estatístico tem, de modo<br />
claro ou implícito, certo conteúdo de teoria. Se não tiver, será grande o risco de que se<br />
alcancem resultados na melhor das hipóteses modestos.<br />
Signifi ca isso que vamos ao campo para coletar, para reunir dados, a partir de um<br />
sistema básico de referência e/ou hipóteses de trabalho, derivados da teoria. A exploração<br />
desses sistemas de referência, do aperfeiçoamento dessas hipóteses de trabalho,<br />
depende de modo crítico do trabalho desenvolvido na área da pesquisa.<br />
A distinção entre estatísticas derivadas e estatísticas primárias decorre do fato de<br />
que na operação de coleta de dados temos três tipos de operações: uma correspondente<br />
aos levantamentos universais, amplos, de periodicidade basicamente decenal; outra,<br />
dos levantamentos contínuos, feitos nos períodos intercensitários, em geral por amostragem;<br />
e ainda aquela que se pode chamar de sistema de microdados.