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Isaac Kerstenetzky - Biblioteca - IBGE

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198 <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>: legado e perfi l<br />

Tábula rasa do passado e grave ofensa à memória de Teixeira de Freitas. Justo ele,<br />

que associava estatística à reforma social, e entendia que o <strong>IBGE</strong>, ao revelar a realidade<br />

através do números, constituía-se em centro privilegiado para pensá-la, analisá-la, projetá-la.<br />

E o fez, dando vida ao ideário cívico.<br />

O “grande Instituto <strong>Kerstenetzky</strong> de investigações sociais”:<br />

nova visita a um velho problema<br />

Teria <strong>Isaac</strong> desconhecido de todo as feições que Teixeira de Freitas e Macedo<br />

Soares deram ao <strong>IBGE</strong>, a função transformadora que o primeiro antevia para a estatística<br />

e o pensamento social do Instituto que o segundo, em seus discursos e atos<br />

públicos, se esforçava por fazer Getúlio Vargas reconhecer? As redes de sociabilidade<br />

acionadas por Macedo Soares na chancelaria do Itamaraty, na Academia Brasileira<br />

de Letras - ABL, no Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro - IHGB e no Instituto<br />

Pan-Americano de Geografi a e História - IPAGH que tanto reverteram em favor da<br />

projeção do Instituto e de sua “vocação social”6 teria como fi m a simples contagem<br />

e descrição da população e do território? Um olhar mais atento e desconfi ado como<br />

o nosso deve perceber que na radicalização das diferenças e da alteridade entre o<br />

primeiro <strong>IBGE</strong> e o projeto de refundação estaria uma profunda admiração de <strong>Isaac</strong>,<br />

necessariamente inconfessa, pelas linhas mestras instituídas por Teixeira e Macedo.<br />

Elas forneceram a inspiração e, uma vez apropriadas e dotadas de um caráter de<br />

novo, auferiram créditos e a indispensável mobilização para o impulso revitalizante.<br />

Não é outro o sentido das confi dências de Eurico Borba, mais do que diretor-geral de<br />

<strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>, seu preclaro colaborador e homem de confi ança, amigo desde os<br />

tempos da faculdade de economia da PUC/RIO:<br />

Em fi nal de março de 1970, início de abril, ele [<strong>Isaac</strong>] disse assim: [...] Tem um discurso do<br />

Getúlio que não deve ter sido escrito pelo Getúlio, mas pelo Embaixador Macedo Soares<br />

[...]. O Getúlio disse assim: “Estou criando uma instituição que seja capaz de escrever,<br />

contar e descrever sua população, quantifi car a sua produção econômica e descrever o<br />

seu território”, então essa história tem sentido, porque aí o <strong>Isaac</strong> falava do modelo, lembrando-se<br />

da PUC [em] 1968-1969 o grande modelo de simulação que o <strong>Isaac</strong> estava querendo<br />

construir, então ele dizia, isso tem lógica, porque você tem o território, você tem a<br />

população sobre o território, você tem a produção dessa população, você tem a dinâmica<br />

dessa população, natalidade, fertilidade, migrações, etc., esse Instituto tem condições de<br />

ser um grande Instituto <strong>Kerstenetzky</strong> (BORBA, 1998, p. 8).<br />

Neste trecho em destaque, fi ca evidente a admiração publicamente inconfessa de<br />

Issac, senão pelos fundadores em si, ao menos pelo estatuto que estes tanto se empenharam<br />

para dar ao <strong>IBGE</strong>, na forma de seu pensamento político e sua “vocação social”. Correndo<br />

o risco de exagerarmos nos termos, não teria <strong>Isaac</strong> sentido mesmo um saudosismo<br />

de um tempo em que o <strong>IBGE</strong> era anunciado pela voz de um presidente emblemático<br />

como Getúlio Vargas, de um tempo em que o chefe da nação reconhecia o pensamento<br />

político do Instituto? E se fosse possível conquistar alvitre similar do general-presidente<br />

em exercício? Com isto, devia sonhar <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>.<br />

Mais do que sonhar, buscou concretizar. Assim como Teixeira de Freitas, associou<br />

o <strong>IBGE</strong> aos seus projetos pessoais, no caso o de construir “um grande Instituto<br />

Kerstenetsky”. Esta conversão da atividade profi ssional em devoção pessoal, tão típica<br />

de um generalista como o velho mestre e imprópria para um técnico como ele, segura-<br />

6 Sobre a construção das redes de sociabilidade de Macedo Soares, mostro em outro texto a simbiose que o embaixador estabeleceu<br />

entre as entidades que presidiu, logrando benefícios para sua própria trajetória política e intelectual, bem como<br />

para a visibilidade, a produção e a divulgação dos trabalhos do <strong>IBGE</strong>. Uma perspectiva historiográfi ca que recupere José<br />

Carlos de Macedo Soares como agente político, na articulação conjunta de suas múltiplas posições institucionais demonstra<br />

que o chanceler foi muito mais do que um presidente forte, cujo prestígio daria suporte às reivindicações do Instituto. A este<br />

respeito, ver CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio. Um homem de fronteira: ação e criação de José Carlos de Macedo Soares.<br />

Trabalho inédito, a ser divulgado na obra História das Estatísticas Brasileiras, v. 3: estatísticas organizadas (c 1936- c 1972),<br />

de autoria de Nelson de Castro Senra, editada pelo <strong>IBGE</strong>.

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