Isaac Kerstenetzky - Biblioteca - IBGE

A fundação é refundada na
administração Kerstenetzky *
Nelson de Castro Senra **
Em março de 1970, Isaac Kerstenetzky tornava-se Presidente da Fundação
IBGE, e logo a estaria refundando ou reinventando 1 . Homem notável, e
muito afável no convívio. Economista de formação, com cursos no exterior,
era um notável cientista, um grande humanista. Tinha visão de mundo, era
um homem do mundo. E deixaria marcas no IBGE, tendo seu nome inscrito
no panteão dos notáveis da estatística brasileira.
João Paulo dos Reis Velloso ocupava o Ministério do Planejamento, onde
faria longa e profícua trajetória, tornando-se um renomado pensador dos problemas
brasileiros; na presidência da República estava Emílio Médici, o terceiro
general-presidente. Seria o tempo do chamado “milagre econômico”, em
que o Brasil ia bem e o povo ia mal, nas palavras do Presidente da República;
também um tempo de grande repressão aos dissidentes, resistentes ao regime
militar (desde 1964, com a queda de João Goulart).
Isaac Kerstenetzky, com Reis Velloso como Ministro, seguiria na direção
do IBGE ainda pelo período de Ernesto Geisel, o quarto general-presidente, e
* Este texto é uma fusão resumida dos capítulos 25 e 27 do volume III (Estatísticas organizadas: c.1936-c.1972)
da História das estatísticas brasileiras: 1822-2002, coleção prevista em quatro livros. O volume I (Estatísticas desejadas:
1822-c.1889) foi publicado em junho último, com prefácio de Ronaldo Vainfas; o volume II (Estatísticas
formalizadas: c.1889-c.1936) está em fase fi nal de editoração (com prefácio de Ciro Flamarion)
** O autor, Economista, recém egresso do Mestrado na Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio
Vargas - FGV/EPGE, entrou no IBGE em 1974, portanto na gestão de Isaac Kerstenetzky. Foi selecionado
em entrevistas com Maristela Afonso de André Sant’Anna e com Speridião Faissol. Começou sua carreira
no Departamento de Geografi a, então chefi ado por Marília Velloso Galvão, na Divisão de Estudos Rurais, no
contexto da chamada Geografi a Quantitativa. Pouco depois, passou ao Grupo de Trabalho encarregado da
elaboração do que veio a ser o Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor - SNIPC, grupo sob a coordenação
de Francisco de Assis Moura de Melo, afeto ao comando de Maristela Sant’Anna. Como integrante
desse grupo, logo depois uma divisão e em seguida um departamento, tratou de perto com Isaac Kerstenetzky
sobre vários aspectos da produção dos índices, em especial sobre as Pesquisas de Locais de Compra. Hoje,
ainda no IBGE, dirige o projeto “História das Estatísticas Brasileiras: 1822-2002”, e é professor de Sociologia das
Estatísticas no Programa de Mestrado na Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; é Doutor em
Ciência da Informação pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/ECO.
1 Segundo o Boletim de Serviço nº 926, de 6 de abril de 1970, “anteriormente fora nomeado para esse cargo [a
Presidência da Fundação IBGE] o Cel. Germano Seidl Vidal, que não veio a assumi-lo em virtude de haver
sido julgado conveniente continuasse nas funções que exerce na Escola Superior de Guerra” (p. 3). Conta-se na
oralidade institucional uma versão mais prosaica, qual seja, que sua ação teria sido vista como uma quebra de
hierarquia, ou seja, teria articulado sua nomeação sem o conhecimento de seu comandante; e diz-se mais, que
teria sido o Cel. Waldyr da Costa Godolphim, parte do “G”, quem articularia sua “desnomeação” (por razões
pessoais?), quando já haviam sido enviados convites da posse..