Isaac Kerstenetzky - Biblioteca - IBGE
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<strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>, fomentador das estatísticas brasileiras:<br />
perfi l do cientista e do humanista<br />
entraria no governo de João Figueiredo, o quinto e último general-presidente, quando<br />
Reis Velloso cederia a posição a Mário Henrique Simonsen (que fora Ministro da Fazenda<br />
no governo de Ernesto Geisel). Mas com a saída deste, e a volta de Delfi m Ne o (o homem<br />
do “milagre”), deixaria a direção do <strong>IBGE</strong> (em agosto de 1979).<br />
<strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong> e Reis Velloso, e mais a direção e o pessoal do Instituto de Pesquisa<br />
Econômica Aplicada - IPEA, o outro órgão chave do Ministério do Planejamento,<br />
fariam um convívio harmonioso, somando esforços em prol dos avanços no sistema<br />
estatístico brasileiro. <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong>, na presidência, valorizou a instituição, tendo<br />
clareza da natureza da atividade estatística, e da importância das estatísticas que lhe<br />
são resultantes. Como poucos, tinha clareza do sentido de um sistema estatístico, de<br />
como conceber-lhe a estrutura, de como conduzi-lo.<br />
Discurso inaugural<br />
No ato de posse, a 25 de março de 1970, tendo presente o Ministro Reis Velloso,<br />
após a leitura de uma mensagem do Presidente Emílio Médici, “sobre a prioridade concedida<br />
pelo Governo à realização do VIII Recenseamento Geral do Brasil”, e depois do<br />
balanço oferecido por Sebastião Aguiar Ayres (em que fez duas referências saudosas a<br />
Teixeira de Freitas), <strong>Isaac</strong> <strong>Kerstenetzky</strong> fala do seu já longo convívio com as estatísticas, e<br />
com o <strong>IBGE</strong>:<br />
... assumimos este importante posto com a sensação de continuidade em nossa vida profi<br />
ssional. Já se vão mais de dois decênios que vimos trabalhando, quase ininterruptamente,<br />
na área das chamadas estatísticas derivadas, em mensurações da evolução da<br />
economia do país. Durante esse mesmo período mantivemos constante contato informal<br />
e formal com a Instituição. Participamos, como representante dos órgãos fi liados, nos<br />
trabalhos da antiga Junta Executiva Central do Conselho Nacional de Estatística. Fomos<br />
integrantes de duas comissões constituídas pelo Governo Federal, uma em 1962 e outra<br />
em 1966, para estudo da reestruturação do <strong>IBGE</strong>2 , e vimos colaborando, como representante<br />
do Ministério do Planejamento, na Comissão Censitária Nacional3 , instalada em<br />
abril de 1969 (KERSTENETZKY, 1970, p. 60).<br />
Ao prosseguir, faz menção a grandes nomes do Pensamento Econômico, os que<br />
vinham atuando na produção das estatísticas econômicas: Jan Tinbergen e Ragnar Frisch,<br />
e poderia ter citado Wassily Leontief e Simon Kusnetz, entre outros, todos, de sua intimidade<br />
intelectual. Nessa linha, ao término do discurso, traça um perfi l do <strong>IBGE</strong>, como o<br />
via, e como o queria, diferente e renovado:<br />
No desenvolvimento de sistemas de formulação de política econômica e social na segunda<br />
metade do século XX, ressalta sua dimensão quantitativa – os objetivos sociais<br />
e econômicos e os instrumentos correspondentes são quantifi cados. O reconhecimento<br />
da importância de estudos desenvolvidos nessa área certamente explica a concessão do<br />
primeiro prêmio Nobel em Economia ao nosso mestre Professor Jan Tinbergen e ao Professor<br />
Ragnar Frisch, pioneiros na construção de modelos de decisão. [...] A Fundação<br />
Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística comanda justamente a produção de insumos<br />
– representados pela Estatística e pela Geografi a – indispensáveis à concepção, implementação<br />
e controle da política econômica e social. [...] Três importantes passos foram<br />
dados, após 1964, para o ajustamento do sistema estatístico às necessidades do país: 1) a<br />
introdução de dispositivo constitucional dando competência à União para legislar sobre<br />
o Sistema Estatístico Nacional; 2) a transformação do Instituto Brasileiro de Geografi a e<br />
Estatística em Fundação, como entidade autônoma, sujeita à supervisão do Ministério do<br />
Planejamento e Coordenação Geral; e, 3) a aprovação do Plano Nacional de Estatísticas<br />
Básicas, que abrange não apenas as estatísticas primárias mas também o elenco das estatísticas<br />
derivadas. [...] A nossa tarefa será a de continuar a acelerar esse processo de mo-<br />
2 Não menciona sua brilhante participação no Seminário de Estatística havido em 1958, quando já anunciava suas concepções<br />
de estatísticas derivadas, que deram forma ao Plano Nacional de Estatísticas Básicas.<br />
3 Esqueceu de mencionar que, como representante da Fundação Getulio Vargas, era membro da Comissão Nacional de Planejamento<br />
e Normas Estatísticas, criada no contexto da reforma do <strong>IBGE</strong> (em 1967).<br />
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