análise discursiva do telecurso 2000 - Unisul
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dólares da Time/Life na Globo, estava na iminência de passar para o quarto lugar,<br />
inclusive por causa da contratação de seus diretores pela Globo.<br />
Com as denúncias, principalmente através de um grupo da indústria da informação<br />
de capital nacional, o <strong>do</strong>s Associa<strong>do</strong>s, cujo representante era o presidente da<br />
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, foi divulga<strong>do</strong> o plano da<br />
Globo para a criação de uma rede nacional de televisão e, até então o que não<br />
ocorrera na radiodifusão, uma rede de rádio. A criação da rede atenderia a três<br />
objetivos. O primeiro, próprio <strong>do</strong> meio de produção dentro <strong>do</strong> sistema capitalista que<br />
é a busca de lucros, o segun<strong>do</strong>, uma mobilização da opinião pública em torno <strong>do</strong><br />
governo militar, em terceiro lugar, uma cunha para o capital estrangeiro entrar no<br />
país, como vinha ocorren<strong>do</strong> em outros países da América Latina. (CAPARELLI,<br />
1982, p.27).<br />
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O relacionamento estreito entre Esta<strong>do</strong> e a Globo com o setor econômico<br />
(nacional e estrangeiro) consagrou uma parceria que duraria anos. A relação de afinidade, a<br />
tríade, apenas seria estremecida quan<strong>do</strong> o governo militar “percebe” nesse “acor<strong>do</strong>” um<br />
crescimento <strong>do</strong> poder exerci<strong>do</strong> pela Globo.<br />
Tamanho foi sucesso desse “casamento” que a Rede Globo, ao fim da década de<br />
1970, poderia anunciar que “Dos 10 programas mais assisti<strong>do</strong>s no Rio e em São<br />
Paulo, 10 são da Globo. E isto se repete há 10 anos!” (Propaganda, 4/1980, p.36).<br />
Esse “virtual monopólio’, porém, já em mea<strong>do</strong>s da década de 1970 começa a<br />
preocupar até mesmo figuras <strong>do</strong> próprio regime autoritário, conscientes <strong>do</strong> poder<br />
político que se concentrava nas mãos de uma única instituição privada de mídia.”<br />
(LIMA, 2001, p. 163)<br />
Mesmo com essa aparente preocupação <strong>do</strong> governo em relação ao poder exerci<strong>do</strong><br />
pela Globo, esse permaneceu investin<strong>do</strong> 70% da verba publicitária em sua programação até a<br />
mea<strong>do</strong>s da década de 1980, tornan<strong>do</strong> a Globo a mídia que mais influenciava a opinião<br />
pública, embora para efeito de divulgação, ou veiculação, a Globo não tenha fica<strong>do</strong> sem a<br />
supervisão <strong>do</strong>s militares.<br />
A censura aos veículos de comunicação, principalmente na televisão, durante o<br />
regime militar, além de facilitar a manipulação da opinião pública limitou o<br />
crescimento da produção <strong>do</strong> próprio veículo, castrou a criatividade e incentivou a<br />
auto-censura, que passou a ser a<strong>do</strong>tada pelas próprias emissoras que construíram<br />
seus departamentos de autocensura ou de controle de qualidade. Entretanto, nem<br />
sempre a censura era tão séria e um exemplo disto é o fato hilário de sua aplicação<br />
na novela “O Bem Ama<strong>do</strong>”, a primeira novela colorida brasileira. Segun<strong>do</strong> Régis<br />
Car<strong>do</strong>so, que dirigiu esta bem-sucedida produção da Globo, “um dia, no começo da<br />
novela, o Exército man<strong>do</strong>u que se cortasse o termo ‘coronel’, usa<strong>do</strong> para denominar<br />
o prefeito O<strong>do</strong>rico Paraguaçu. Tínhamos uns dez ou <strong>do</strong>ze episódios na frente. Então,<br />
Paulo Ubiratan se sentou à mesa de videoteipe e , quan<strong>do</strong> alguém dizia coronel, ele<br />
apagava a voz. Ficou uma coisa estranhíssima no ar. A palavra aparecia 37 vezes: os<br />
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