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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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se aponta <strong>com</strong>o corretivo a tanta vetustez a consulta simultânea da o<strong>br</strong>a publicada na Bahia pelo Conselheiro<<strong>br</strong> />

Calmon! Stupete gentes! E a não ser este la<strong>do</strong> prático, aproveitável, nada mais enxerga o analisa<strong>do</strong>r, cuja<<strong>br</strong> />

perspicácia vem a ser realmente prodigiosa. Nada percebeu daquele preciosíssimo acervo de informes que é o<<strong>br</strong> />

livro de Antonil em relação às cousas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> colonial. Nada pescou <strong>do</strong> valor das informações so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

primórdios da mineração a que se refere em duas linhas perfunctoríssimas. Para ele na <strong>Cultura</strong> só há o vade<<strong>br</strong> />

mecum <strong>do</strong> perfeito açucareiro e rapezista “não existe em língua portuguesa o<strong>br</strong>a mais pura e fértil autoridade”.<<strong>br</strong> />

Eis um crítico que parecia querer correr parelhas <strong>com</strong> aquele parente de José Bonifácio que segun<strong>do</strong> tradição<<strong>br</strong> />

da família Andrada, referida por Martim Francisco (o terceiro) conseguiu in<strong>com</strong>patibilizar-se em Coim<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

pela sua feição <strong>do</strong> mais formi<strong>do</strong>loso carrancismo, e até de Portugal ser expulso, isto em tempo aliás anterior a<<strong>br</strong> />

1820!<<strong>br</strong> />

A única observação de certo valor de tão desastrada análise é a referência à ausência da citação da o<strong>br</strong>a de<<strong>br</strong> />

Antonil por Diogo Barbosa Macha<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

É possível que este não quisesse mencioná-la, suspeitan<strong>do</strong> que a escrevera um estrangeiro, mas temos <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

muito mais provável que o seu silêncio foi devi<strong>do</strong> à ignorância a respeito da existência <strong>do</strong> livro.<<strong>br</strong> />

Não é crível que da pena de Varnhagen saísse tão deplorável crítica. Na data em que Rivara lhe atribuiu o tal<<strong>br</strong> />

artigo já era grande conhece<strong>do</strong>r das cousas de nossa história. Não lhe poderia passar despercebi<strong>do</strong> o valor das<<strong>br</strong> />

páginas de Antonil, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> no tocante à fase capital de mineração <strong>do</strong> ouro, pare ele so<strong>br</strong>emo<strong>do</strong> atraente,<<strong>br</strong> />

além <strong>do</strong> mais, na sua qualidade de paulista. Ao livro de Antonil, consultou <strong>com</strong> to<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

evidencia na leitura de vários tópicos da História Geral. Nunca parece aliás havê-lo preocupa<strong>do</strong> a questão da<<strong>br</strong> />

curiosa criptonímia.<<strong>br</strong> />

Aliás diz (H. G. 2, 838): “Para conhecermos a instrução <strong>com</strong>ercial e industrial <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> neste perío<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

(princípios <strong>do</strong> século XVIII) vem em nosso auxílio a publicação, em 1711, de um livro muito importante, qual<<strong>br</strong> />

é o atribuí<strong>do</strong> a um André João Antonil, ti<strong>do</strong> por pseudônimo <strong>do</strong> autor, que em outro lugar assina Anônimo<<strong>br</strong> />

toscano, circunstâncias que por ventura levou o erudito Barbosa a não tratar dele na sua biblioteca lusitana.<<strong>br</strong> />

Este livro, que segun<strong>do</strong> consta foi ao publicar-se manda<strong>do</strong> recolher, intitula-se “<strong>Cultura</strong> e opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><<strong>br</strong> />

por suas drogas e minas, <strong>com</strong> várias notícias curiosas”. Parecem estas palavras indicar que, <strong>com</strong> efeito, não<<strong>br</strong> />

foi a crítica de que demos notícia o<strong>br</strong>a de Porto Seguro.<<strong>br</strong> />

Enfim a ser de sua lavra parece forte cochilo de quem, apressadamente, escreveu meia dúzia de banalidades, a<<strong>br</strong> />

deso<strong>br</strong>igar-se so<strong>br</strong>e a perna de maçante <strong>com</strong>promisso.<<strong>br</strong> />

Compare-se, por exemplo, o que se atribuía Varnhagen e o que escreveu Frei Veloso so<strong>br</strong>e a o<strong>br</strong>a de Antonil.<<strong>br</strong> />

Ao passo que aquele frisa de mo<strong>do</strong> mais absoluto o verdadeiro caráter <strong>do</strong> livro, chegan<strong>do</strong> a dizer que se o<<strong>br</strong> />

imprime é so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> por uma questão de lusitanismo, para salvaguardar a prioridade portuguesa, e zelar as<<strong>br</strong> />

tradições da indústria açucareira liso-<strong>br</strong>asileira, vemos o crítico <strong>do</strong> Panorama exaltar os méritos da <strong>Cultura</strong><<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o manual de agricultura moderna para os planta<strong>do</strong>res da cana, em 1814, quan<strong>do</strong> o franciscano em 1800 o<<strong>br</strong> />

declarava absolutamente obsoleto e apenas digno de menção <strong>com</strong>o <strong>do</strong>cumento histórico.<<strong>br</strong> />

Em 1858 publicou Inocêncio Francisco da Silva os primeiros tomos de seu magistral Dicionário Bibliográfico<<strong>br</strong> />

Português, o formidável repositório em que refundiu e modernizou a magna empresa stecentista <strong>do</strong> abade de<<strong>br</strong> />

S. Adrião de Sever. Com a consciência que lhe distingue as pesquisas e a costumada e prodigiosa erudição<<strong>br</strong> />

expôs Inocêncio o problema da provável criptonímia de Antonil. Na íntegra lhe transcrevemos o artigo, cheio<<strong>br</strong> />

de critério seguro, em que se aproveita da descrição de Figanière na Bibliografia Histórica e das referências<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> catálogo de Rivara (1850). Na Biblioteca de Évora existe uma cópia da <strong>Cultura</strong> (Cód. CXVI-1-28 em um<<strong>br</strong> />

vol. De 173 p. 4.º). Arrolan<strong>do</strong>-o relatou o eminente bibliotecário que a o<strong>br</strong>e se reimprimira no Rio de Janeiro<<strong>br</strong> />

em 1837.<<strong>br</strong> />

Fato curioso, para um erudito de seu quilate e da sua atenção; escapou-lhe a referência à impressão parcial da<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>a de Antonil por Frei Veloso, que não podia, contu<strong>do</strong>, desconhecer.<<strong>br</strong> />

Eis o artigo de Inocêncio (T. 1, p. 63).<<strong>br</strong> />

ANDRÉ JOÃO ANTONIL. – Este escritor escapou à diligência <strong>do</strong> Abade Barbosa, se é que podemos julga-lo<<strong>br</strong> />

português, <strong>do</strong> que muito duvi<strong>do</strong>. Temos por quase certo não só que foi de nação italiana, mas ainda que não<<strong>br</strong> />

era seu nome verdadeiro. O que não padece dúvida é que ele se assina no fim <strong>do</strong> prólogo da o<strong>br</strong>a que em<<strong>br</strong> />

seguida se transcreve – O anônimo toscano. Pois se era anônimo <strong>com</strong>o pôs o seu nome no português? Isto<<strong>br</strong> />

custa a entender. Seja o que for, sob este nome se imprimiu a o<strong>br</strong>a seguinte:<<strong>br</strong> />

307 (c) <strong>Cultura</strong> e opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> por suas drogas e minas; <strong>com</strong> várias notícias curiosas <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

fazer o açúcar, plantar e beneficiar o tabaco, tirar ouro das minas, e desco<strong>br</strong>ir as da prata; e <strong>do</strong>s grandes<<strong>br</strong> />

emolumentos que esta conquista da América Meridional dá ao Reino de Portugal <strong>com</strong> estes e outros gêneros<<strong>br</strong> />

e contratos reais. Lisboa, na oficina Deslandesiana 1711, 4.º de XVI-205 págs., incluin<strong>do</strong> o índice final.<<strong>br</strong> />

Razões de esta<strong>do</strong> e conveniências políticas motivaram a supressão desta o<strong>br</strong>a logo depois da sua publicação.

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