26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

I<<strong>br</strong> />

Da escolha da terra para plantar canas-de-açúcar e para os mantimentos necessários e<<strong>br</strong> />

provimentos <strong>do</strong> engenho.<<strong>br</strong> />

AS TERRAS BOAS OU MÁS são o fundamento principal para ter um engenho real bom ou mau<<strong>br</strong> />

rendimento. As que chamam massapés, terras negras e fortes, são as mais excelentes para a planta da cana.<<strong>br</strong> />

Seguem-se, atrás destas, os salões, terra vermelha, capaz de poucos cortes, porque logo enfraquece. As<<strong>br</strong> />

areíscas, que são uma mistura de areia e salões servem para mandioca e legumes, mas não para canas. E o<<strong>br</strong> />

mesmo digo das terras <strong>br</strong>ancas, que chamam terras de areia, <strong>com</strong>o são as <strong>do</strong> Camamu e da Saubara.<<strong>br</strong> />

A terra que se escolhe para o pasto ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> engenho há de ter água e há de ser cercada, ou <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

plantas vivas, <strong>com</strong>o são as de pinhões, ou <strong>com</strong> estacas e varas <strong>do</strong> mato.O melhor pasto é o que tem muita<<strong>br</strong> />

grama, parte em outeiro e parte em várzea, porque, desta sorte, em to<strong>do</strong> o tempo, ou em uma ou em outra<<strong>br</strong> />

parte, assim os bois <strong>com</strong>o as bestas acharão que <strong>com</strong>er. O pasto se há de conservar limpo de outras ervas, que<<strong>br</strong> />

matam a grama, e no tempo <strong>do</strong> inverno se hão de botar fora dele os porcos, porque o destroem fossan<strong>do</strong>. Nele<<strong>br</strong> />

há de haver um ou <strong>do</strong>us currais, aonde se metam os bois para <strong>com</strong>eremos olhos da cana e para estarem perto<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> serviço <strong>do</strong>s carros. E também as bestas se recolhem no seu curral, para as não haver de buscar espalhadas.<<strong>br</strong> />

Andam no pasto, além das éguas e bois, ovelhas e ca<strong>br</strong>as; e ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> engenho a criação miúda,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o são perus, galinhas e patos, que são o remédio mais pronto para agasalhar os hóspedes que vêm de<<strong>br</strong> />

improviso. Mas, porque as ovelhas e os cavalos chegam muito <strong>com</strong> o dente à raiz da grama, são de prejuízo<<strong>br</strong> />

ao pasto <strong>do</strong>s bois, e por isso se o destes fosse diverso, seria melhor.<<strong>br</strong> />

Os matos dão as madeiras e a lenha para as fornalhas. Os mangues dão cai<strong>br</strong>os e marisco. E os apicus<<strong>br</strong> />

(que são as coroas que faz o mar entre si e a terra firme e as co<strong>br</strong>e de maré) dão o barro, para purgar o açúcar<<strong>br</strong> />

nas formas e para a olaria, que na opinião de alguns se não escusa nos engenhos reais.<<strong>br</strong> />

De todas estas castas de terras tem necessidade um engenho real, porque umas servem para canas,<<strong>br</strong> />

outras para mantimento da gente e outras para o aparelho e provimento <strong>do</strong> engenho, além <strong>do</strong> que se procura<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> reino. Porém, nem to<strong>do</strong>s os engenhos podem ter esta dita; antes,nenhuma achará a quem não falte alguma<<strong>br</strong> />

destas cousas. Porque, aos que estão à beira-mar, <strong>com</strong>umente faltam as roças e a lenha, a aos que estão pela<<strong>br</strong> />

terra dentro faltam outras muitas conveniências que têm os que estão à beira-mar, no Recôncavo. Contu<strong>do</strong>, de<<strong>br</strong> />

ter ou não ter o senhor <strong>do</strong> engenho cabedal e gente, feitores fiéis e de experiência, bois e bestas, barcos e<<strong>br</strong> />

carros, depende o menear e governar bem ou mal o seu engenho. E, se não tiver gente para trabalhar e<<strong>br</strong> />

beneficiar as terras a seu tempo, será o mesmo que ter mato <strong>br</strong>avo <strong>com</strong> pouco ou nenhum rendimento, assim<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o não basta para a vida política ter bom natural, se não houver mestre que <strong>com</strong> o ensino trate de o<<strong>br</strong> />

perfeiçoar, ajudan<strong>do</strong>-o.<<strong>br</strong> />

II<<strong>br</strong> />

Da planta e limpas das canas e da diversidade que há nelas.<<strong>br</strong> />

FEITA A ESCOLHA da melhor terra para a cana, roça-se, queima-se e alimpa-se, tiran<strong>do</strong>-lhe tu<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

que podia servir de embaraço, e logo a<strong>br</strong>e-se em regos, altos palmo e meio e largos <strong>do</strong>us, <strong>com</strong> seu camalhão<<strong>br</strong> />

no meio, para que nascen<strong>do</strong>, a cana não se abafe; e nestes regos ou se plantam os olhos em pé, ou se deitam as<<strong>br</strong> />

canas em pedaços, três ou quatro palmos <strong>com</strong>pri<strong>do</strong>s; e se for cana pequena, deita-se também inteira, uma<<strong>br</strong> />

junto à outra, ponta <strong>com</strong> pé: co<strong>br</strong>em-se <strong>com</strong> a terra moderadamente. E, depois de poucos dias, <strong>br</strong>otan<strong>do</strong> pelos<<strong>br</strong> />

olhos, <strong>com</strong>eçam pouco a pouco a mostrar sua verdura à flor da terra, pegan<strong>do</strong> facilmente e crescen<strong>do</strong> mais, ou<<strong>br</strong> />

menos, conforme a qualidade da terra ou o favor ou contrariedade <strong>do</strong>s tempos. Mas, se forem muito juntas, ou<<strong>br</strong> />

se na limpa lhes chegarem muito a terra, não poderão filhar, <strong>com</strong>o é bem.<<strong>br</strong> />

A planta da cana, nos lugares altos da Bahia, <strong>com</strong>eça desde as primeiras águas no fim de fevereiro ou<<strong>br</strong> />

nos princípios de março e se continua até o fim de maio; e nas baixas e várzeas (que são mais frescas e<<strong>br</strong> />

úmidas), planta-se também nos meses de julho e agosto, e por alguns dias de setem<strong>br</strong>o. Toda cana que não for<<strong>br</strong> />

seca ou viciada, nem de canu<strong>do</strong>s muito pequenos, serve para plantar. De ser a terra nova e forte, segue-se o<<strong>br</strong> />

crescer nela a cana muito viçosa, e a esta chamam cana <strong>br</strong>ava, a qual, a primeira e segunda vez que se corta,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!