Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>com</strong>eçam a moer em agosto.<<strong>br</strong> />
Tem o<strong>br</strong>igação cada escravo de cortar e arrumar, uma medida de lenha, alta sete palmos e larga oito, e<<strong>br</strong> />
esta é também a medida de um carro, e de oito carros consta a tarefa. O cortar, carregar, arrumar e botar a<<strong>br</strong> />
lenha no barco, pertence a quem vende; o arrumá-la no barco corre por conta <strong>do</strong>s marinheiros. Há barcos<<strong>br</strong> />
capazes de cinco tarefas, há de quatro, há de três e custa cada tarefa <strong>do</strong>us mil e quinhentos réis, quan<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />
senhor <strong>do</strong> engenho a manda buscar <strong>com</strong> o seu barco; e, se vier no barco <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r, ajustar-se-á , demais, o<<strong>br</strong> />
frete, conforme a maior ou menor distância <strong>do</strong> porto. Um engenho real, que mói oito ou nove meses, gasta,<<strong>br</strong> />
um ano por outro, <strong>do</strong>us mil cruza<strong>do</strong>s na lenha; e houve ano em que o engenho de Sergipe <strong>do</strong> Conde gastou<<strong>br</strong> />
mais de três mil cruza<strong>do</strong>s, por moer mais tempo, e por custar a lenha mais caro. Vem a lenha em barcos à<<strong>br</strong> />
vela, <strong>com</strong> quatro marinheiros e o Arrais, e, para bem, o senhor <strong>do</strong> engenho há de ter <strong>do</strong>us barcos, para que, em<<strong>br</strong> />
chegan<strong>do</strong> um, volte o outro. O melhor sortimento da lenha é aquele cuja ametade consta de rolos grandes e<<strong>br</strong> />
travessos, que são menores, e outra de lenha miúda, porque a grossa serve para armar as fornalhas e para<<strong>br</strong> />
cozer o açúcar nas tachas, aonde é necessário maior fogo, para se coalhar; a mediana serve para fazer liga <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
a grossa e a miúda serve para alimpar bem o cal<strong>do</strong> da cana nas caldeiras, porque, para se levantar bem a<<strong>br</strong> />
escuma, demandam continuamente lavaredas de chama. E, por isso, a grossa se chama lenha de tachas, e a<<strong>br</strong> />
miúda, lenha de caldeiras.<<strong>br</strong> />
Chegada a lenha ao porto <strong>do</strong> engenho, arruma-se na sua bagaceira, e sempre é bem que, diante, ou<<strong>br</strong> />
perto das fornalhas, estejam arrumadas cinco ou seis tarefas de lenha. Gastam <strong>do</strong>us barcos de cana,<<strong>br</strong> />
ordinariamente, um de lenha, se for lenha sortida, porque, se for miúda, na basta. O primeiro aparelho da<<strong>br</strong> />
lenha, para se botar fogo à fornalha, chama-se armar, e isto vem a ser empurrar rolos e estende-los no lastro (o<<strong>br</strong> />
que se faz <strong>com</strong> varas grandes, que chamam trasfogueiros) e so<strong>br</strong>e eles cruzar travessos e lenha miúda, para<<strong>br</strong> />
que, levantada, chegue mais facilmente <strong>com</strong> a chama aos fun<strong>do</strong>s das caldeiras e tachas. E o mete<strong>do</strong>r há de<<strong>br</strong> />
estar atento ao que lhe mandam os caldeireiros, botan<strong>do</strong> precisamente a lenha, que os de cima conhecem e<<strong>br</strong> />
avisam ser necessária, assim para que não transborde o cal<strong>do</strong> ou mela<strong>do</strong> <strong>do</strong>s co<strong>br</strong>es, <strong>com</strong>o para que não falte o<<strong>br</strong> />
ferver. Porque, se não ferver em sua conta, não se poderá alimpar bem da imundícia que há de vir acima, para<<strong>br</strong> />
se tirar e escumar das caldeiras. Porém, para as tachas, quanto mais fogo, melhor.<<strong>br</strong> />
A cinza das fornalhas serve para fazer decoada, e esta para alimpar ao cal<strong>do</strong> da cana nas caldeiras, e<<strong>br</strong> />
para que saia o açúcar mais forte. Para isso, arrasta-se <strong>com</strong> ro<strong>do</strong> de ferro até a boca das fornalhas, pouco a<<strong>br</strong> />
pouco, a cinza e borralho, e daí, <strong>com</strong> uma pá de ferro, se tira e se leva so<strong>br</strong>e a mesma pá para o cinzeiro, que é<<strong>br</strong> />
um tanque de tijolo so<strong>br</strong>e pilares de pedra e cal, de figura quadrada, <strong>com</strong> suas paredes ao re<strong>do</strong>r, e aqui se<<strong>br</strong> />
conserva quente e assim quente se põe nas tinas, que para isso estão levantadas da terra so<strong>br</strong>e uns esteios de<<strong>br</strong> />
três palmos. Aí, depois de bem caldeada e arrumada, se lhe bota água, tirada de um tacho grande, que está<<strong>br</strong> />
ferven<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e a sua proporcionada fornalha, perto <strong>do</strong> cinzeiro. E para isso serve a água que passa pela bica e<<strong>br</strong> />
vai à casa das caldeiras; e coan<strong>do</strong> esta água pela cinza, até passar pelos buracos que têm as tinas no fun<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>a o nome de decoada e vai a cair nas formas ou vasilhas enterradas até a ametade, e daí se tira <strong>com</strong> um<<strong>br</strong> />
coco e se passa em um tacho para a casa das caldeiras, aonde se reparte pelas formas que estão postas entre as<<strong>br</strong> />
caldeiras e serve para os caldeireiros ajudarem <strong>com</strong> ela ao cal<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o se dirá em seu lugar.<<strong>br</strong> />
Há-se porém de advertir que nem toda a lenha é boa para se fazer decoada, porque nem os paus fortes,<<strong>br</strong> />
nem a lenha seca servem para isso. E a razão é porque os paus fortes fazem mais carvão <strong>do</strong> que cinza, e a<<strong>br</strong> />
lenha miúda dá pouca cinza e sem força. A melhor é a <strong>do</strong>s mangues-<strong>br</strong>ancos e de paus-moles, a saber, a de<<strong>br</strong> />
cajueiros, aroeiras e gameleiras. E para se conhecer se a decoada é perfeita, há-se de provar, tocan<strong>do</strong> a língua<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uma pinga dela so<strong>br</strong>e a ponta <strong>do</strong> de<strong>do</strong>, e se arder será boa; se não arder, será fraca. Também, se sobejar<<strong>br</strong> />
cinza de um ano para outro nas caixas aonde a costumam guardar, antes de se pôr nas tinas, deve tornar a<<strong>br</strong> />
aquentar-se no cinzeiro, ou misturar-se <strong>com</strong> a primeira que se tirar das fornalhas <strong>com</strong> borralho, porque, se<<strong>br</strong> />
antes enfraqueceu, <strong>com</strong> este benefício torna a co<strong>br</strong>ar seu vigor.<<strong>br</strong> />
IX<<strong>br</strong> />
Das caldeiras e co<strong>br</strong>es, seu aparelho, oficiais e gente que nelas há mister, e instrumentos de que<<strong>br</strong> />
usam.<<strong>br</strong> />
A TERCEIRA PARTE deste edifício superior às fornalhas é a casa <strong>do</strong>s co<strong>br</strong>es; porque, ainda que esta<<strong>br</strong> />
se chame <strong>com</strong>umente a casa das caldeiras não só elas que têm lugar nesta parte, mas outros grandes vasos de