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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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eimpressões de livros raros <strong>br</strong>asileiros, a que nos dá a honra de presidir, distinção que so<strong>br</strong>emo<strong>do</strong> nos<<strong>br</strong> />

desvanece e só podemos atribuir às relações de amizade que desde anos nos prendem à poderosa e patriótica<<strong>br</strong> />

empresa.<<strong>br</strong> />

Principiamos pela o<strong>br</strong>a de Antonil, livro famoso, inacessível, aureola<strong>do</strong> pela perseguição colonial de que foi<<strong>br</strong> />

vítima, pela raridade extrema de sua edição princeps em acima de tu<strong>do</strong>, cheio de grandes méritos pela<<strong>br</strong> />

abundância, riqueza e sinceridade <strong>do</strong>s informes. Constitui um repositório preciosíssimo so<strong>br</strong>e a vida<<strong>br</strong> />

econômica <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> em princípios <strong>do</strong> século XVIII; faz um apanha<strong>do</strong> <strong>com</strong>pleto das condições que regiam as<<strong>br</strong> />

principais indústrias <strong>do</strong> país; a cana-de-açúcar, fator de enorme opulência <strong>do</strong> Norte, <strong>do</strong> luxo da Bahia e de<<strong>br</strong> />

Pernambuco, e a mineração <strong>do</strong> ouro, exatamente numa época em que acabara de dar-se o grande rush de<<strong>br</strong> />

paulistas e reinóis para as terras prodigiosas <strong>do</strong>s antigos Cataguazes, agora Minas Gerais. A estas duas mamas<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, se assim podemos chamá-las por analogia à céle<strong>br</strong>e <strong>com</strong>paração de Sully, quanto à lavoura e<<strong>br</strong> />

pecuária, “tetas principais <strong>do</strong>s reinos”, consagra Antonil quase toda a sua o<strong>br</strong>a, reservan<strong>do</strong> contu<strong>do</strong> ainda<<strong>br</strong> />

pequenos capítulos, à criação <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e à lavra <strong>do</strong> tabaco.<<strong>br</strong> />

I<<strong>br</strong> />

Condições que regiam a lavoura da cana no <strong>Brasil</strong> setecentista. Criteriosos conselhos <strong>do</strong> autor<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e mil e um assuntos. A produção açucareira <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>.<<strong>br</strong> />

Discursan<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e a lavoura da cana, não só escreveu Antonil um manual <strong>do</strong> agricultor da preciosa gramínea<<strong>br</strong> />

que foi a base da riqueza nacional, até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, <strong>com</strong>o ainda um código <strong>do</strong> critério e <strong>do</strong> bom<<strong>br</strong> />

tom, so<strong>br</strong>emo<strong>do</strong> proveitoso àquelas épocas atrasadas.<<strong>br</strong> />

Assim o vemos <strong>com</strong>eçar expon<strong>do</strong> “que cabedal deveria ter o explora<strong>do</strong>r de um engenho real”, para depois<<strong>br</strong> />

ministrar os mais minudentes conselhos a quantos quisessem, no <strong>Brasil</strong>, estabelecer-se <strong>com</strong>o fa<strong>br</strong>icantes de<<strong>br</strong> />

açúcar. Surgem os conselhos para a <strong>com</strong>pra ads terras, de mo<strong>do</strong> a não adquirir o novel planta<strong>do</strong>r chãos<<strong>br</strong> />

estéreis ou sequer inferiores por massapés, a famosa terra negra, a<strong>do</strong>cicante por excelência <strong>do</strong> cal<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

sacarífero.<<strong>br</strong> />

E <strong>com</strong>o foi sempre o <strong>Brasil</strong> terra de títulos precários de posse, aconselha aos adquirentes de engenhos que se<<strong>br</strong> />

precavenham contra as possíveis e prováveis demandas; usem de toda a diligência para defender os marcos e<<strong>br</strong> />

as águas de que necessite, para moer, o seu engenho, etc., e assim se evitem demandas e pleitos, “contínua<<strong>br</strong> />

desinquietação d’alma e contínuo sangra<strong>do</strong>r de rios de dinheiro, que vai a entrar em casa <strong>do</strong>s advoga<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />

solicita<strong>do</strong>res e escrivães, <strong>com</strong> pouco proveito de quem promove o pleito ainda quan<strong>do</strong> alcança, depois de<<strong>br</strong> />

tantos gastos de desgostos, em seu favor a sentença. Nem deixe os papéis, e as escrituras que tem, na caixa da<<strong>br</strong> />

mulher, para que depois seja necessário mandar dizer muitas missas a S. Antônio para achar algum papel<<strong>br</strong> />

importante que desapareceu, quan<strong>do</strong> houver mister de exibi-lo!”. E assim continua o bom <strong>do</strong> autor a discorrer<<strong>br</strong> />

ex abundantia cordis <strong>com</strong> naturalidade e singeleza encanta<strong>do</strong>ras, a ditar regras de elementar critério a bem<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>s seus possíveis consulentes, a quem só dá os mais leais e judiciosos conselhos, ora a lhes ensinar “<strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

há de haver o senhor de engenho <strong>com</strong> os lavra<strong>do</strong>res e outros vizinhos e estes <strong>com</strong> o senhor”, ora “<strong>com</strong>o se há<<strong>br</strong> />

de haver na eleição das pessoas e oficiais que admitir a seu serviço e primeiramente da eleição <strong>do</strong> capelão”,<<strong>br</strong> />

ora ainda na escolha “<strong>do</strong> feitor mor e <strong>do</strong>s outros feitores menores, que assistem à moenda, fazendas e partidas<<strong>br</strong> />

da cana” e <strong>com</strong>o lhes determinará “o<strong>br</strong>igações e soldadas”.<<strong>br</strong> />

Feita esta primeira parte relativa ao governo <strong>do</strong> engenho passa a explicar a fa<strong>br</strong>icação <strong>do</strong> açúcar, expon<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

quais os deveres <strong>do</strong> mestre <strong>do</strong> açúcar, e seu “soto-mestre, a quem chamam banqueiro”, e <strong>do</strong> seu ajudante, “a<<strong>br</strong> />

quem chamam ajuda-banqueiro”, e, ainda os <strong>do</strong> purga<strong>do</strong>r e caixeiro <strong>do</strong> açúcar, ou fiscal mor da safra<<strong>br</strong> />

fa<strong>br</strong>icada.<<strong>br</strong> />

Voltan<strong>do</strong> a tratar da economia <strong>do</strong>méstica grande capítulo consagra ao mo<strong>do</strong> pelo qual “se há de haver o<<strong>br</strong> />

senhor de engenho <strong>com</strong> os seus escravos”, “mãos e pés <strong>do</strong> seu estabelecimento”. Curiosíssimas páginas estas<<strong>br</strong> />

onde se lêem interessantes apanha<strong>do</strong>s de pontos de vista coloniais so<strong>br</strong>e as relações mútuas de servos e<<strong>br</strong> />

senhores. É nele que o autor recolhe o adágio tão famoso e tão cita<strong>do</strong> das nossas antigas eras; de que o <strong>Brasil</strong><<strong>br</strong> />

“é inferno <strong>do</strong>s negros, purgatório <strong>do</strong>s <strong>br</strong>ancos, e paraíso <strong>do</strong>s mulatos e das mulatas”. Conselhos humanitários<<strong>br</strong> />

quan<strong>do</strong> possível ministra o A. aos sues leitores, apelan<strong>do</strong> para os seus sentimentos religiosos, a fim de que<<strong>br</strong> />

fujam de castigar os servos em demasia, contrarian<strong>do</strong> assim outro prolóquio popular antigo de que só

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