26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tarefa.<<strong>br</strong> />

O lugar de maior perigo que se há no engenho é o da moenda, porque, se por desgraça a escrava que<<strong>br</strong> />

mete a cana entre os eixos, ou por força <strong>do</strong> sono, ou por cansada, ou por qualquer outro descui<strong>do</strong>, meteu<<strong>br</strong> />

desatentadamente a mão mais adiante <strong>do</strong> que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos, se não lhe<<strong>br</strong> />

cortarem logo a mão ou o <strong>br</strong>aço apanha<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> para isso junto da moenda um facão, ou não forem tão<<strong>br</strong> />

ligeiros para fazer parar a moenda, divertin<strong>do</strong> <strong>com</strong> o peja<strong>do</strong>r a água que fere os cubos da roda, de sorte que<<strong>br</strong> />

dêem depressa a quem padece, de algum mo<strong>do</strong>, o remédio. E este perigo é ainda maior no tempo da noite, em<<strong>br</strong> />

que se mói igualmente <strong>com</strong>o de dia, posto que se revezem as que metem a cana por suas equiparações,<<strong>br</strong> />

particularmente se as que andam nesta ocupação forem boçais ou costumadas a se emborracharem.<<strong>br</strong> />

As escravas de que necessita a moenda, são sete ou oito, a saber: três para trazer cana, uma para a<<strong>br</strong> />

meter, outra para passar o bagaço, outra para consertar e acender as candeias, que na moenda são cinco, e para<<strong>br</strong> />

limpar o cocho <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> (a quem chamam cocheira ou calumbá) e os aguilhões da moenda e refrescá-los <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

água para que não ardam, servin<strong>do</strong>-se para isso <strong>do</strong> parol da água, que tem debaixo <strong>do</strong> rodete, tomada da que<<strong>br</strong> />

cai <strong>do</strong> aguilhão, <strong>com</strong>o também para lavar a cana enlodada, e outra, finalmente, para botar fora o bagaço, ou no<<strong>br</strong> />

rio, ou na bagaceira, para se queimar a seu tempo. E, se for necessário botá-lo em parte mais adiante, não<<strong>br</strong> />

bastará uma só escrava, mas haverá mister outra que a ajude, porque, de outra sorte, não se daria vazão a<<strong>br</strong> />

tempo, e ficaria embaraçada a moenda.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>e o parol <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> que, <strong>com</strong>o temos dito, está meti<strong>do</strong> na terra, há uma guindadeira, que<<strong>br</strong> />

continuamente guinda para cima <strong>com</strong> <strong>do</strong>us cubos o cal<strong>do</strong>, e todas as so<strong>br</strong>editas escravas têm necessidade de<<strong>br</strong> />

outras tantas, que as revezem depois de encherem o seu tempo, que vem a ser a ametade de um dia, e a<<strong>br</strong> />

ametade da noite, e todas juntas lavam de vinte e quatro em vinte e quatro horas <strong>com</strong> água e vasculhos de<<strong>br</strong> />

piaçaba toda a moenda. A tarefa das guinadadeiras é guindar cada uma das três paróis de cal<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> for<<strong>br</strong> />

tempo, para encher as caldeiras, e logo outra outros três, suceden<strong>do</strong> desta sorte uma à outra, para que possam<<strong>br</strong> />

aturar no trabalho. E para o bom governo da moenda, além <strong>do</strong> feitor que atende a tu<strong>do</strong>, neste lugar mais que<<strong>br</strong> />

em outros, parte de dia e parte de noite, há um guarda ou vigia<strong>do</strong>r da moenda, cujo ofício é atentar, em lugar<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> feitor, que a cana se meta e passe bem entre os eixos, que se despeje e tire o bagaço, que se refresquem e<<strong>br</strong> />

alimppem os aguilhões e a ponte; e, suceden<strong>do</strong> algum desastre na moenda, ele é o que logo acode e manda<<strong>br</strong> />

parar.<<strong>br</strong> />

VII<<strong>br</strong> />

Das madeiras de que se faz a moenda, e to<strong>do</strong> o mais madeiramento <strong>do</strong> engenho, canoas e barcos<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong> que se costuma dar aos carpinteiros e outros semelhantes oficiais.<<strong>br</strong> />

ANTES DE PASSAR DA MOENDA para as fornalhas e casa das caldeiras, parece-me necessário dar<<strong>br</strong> />

notícia <strong>do</strong>s paus e madeiras de que se faz a moenda e to<strong>do</strong> o mais madeiramento <strong>do</strong> engenho, que no <strong>Brasil</strong> se<<strong>br</strong> />

pode fazer <strong>com</strong> escolha, por não haver outra parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tão rica de paus seletos e fortes, não se<<strong>br</strong> />

admitin<strong>do</strong> nesta fá<strong>br</strong>ica pau que não seja de lei, porque a experiência tem mostra<strong>do</strong> ser assim necessário.<<strong>br</strong> />

Chamam paus de lei aos mais sóli<strong>do</strong>s, de maior dura e mais aptos para serem lavra<strong>do</strong>s, e tais são os de<<strong>br</strong> />

sapucaia, de sapupira, de sapupira-cari, de sapupira-mirim, de sapupira-açu, de vinhático, de arco, de jetaí<<strong>br</strong> />

amarelo, de jetaí preto, de messetaúba, de maçaranduba, pau-<strong>br</strong>asil, jacarandá, pau-de-óleo, picaí e outros<<strong>br</strong> />

semelhantes a estes. O madeiramento da casa <strong>do</strong> engenho, casa das fornalhas e casa das caldeiras e a de<<strong>br</strong> />

purgar, para bem há de ser de maçaranduba, porque é de muito dura e serve para tu<strong>do</strong>, a saber, para tirantes,<<strong>br</strong> />

frechais, so<strong>br</strong>efrechais, tesoura ou pernas de asna, espigões e terças, e desta casta de pau há em to<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

Recôncavo da Bahia e em toda a costa <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Os tirantes e frechais grandes valem três a quatro mil réis, e<<strong>br</strong> />

às vezes mais, conforme o seu <strong>com</strong>primento e grossura, assim toscos <strong>com</strong>o vêm <strong>do</strong> mato, só <strong>com</strong> a primeira<<strong>br</strong> />

lavradura. Os eixos da moenda se fazem de sapucaia ou de sapupira-cari; a ponta, ou cabo <strong>do</strong> eixo grande, de<<strong>br</strong> />

pau-d’arco ou de sapupira, os dentes <strong>do</strong>s três eixos da moenda, <strong>do</strong> rodete e da volandeira são de messetaúba.<<strong>br</strong> />

As rodas da água, de pau-d’arco, ou de sapupira ou de vinhático. Os arcos <strong>do</strong> rodete e volandeira e as aspas e<<strong>br</strong> />

contraspas, de sapupira. As virgens e mais esteios e vigas, de qualquer pau de lei. Os carros, de sapupiramirim,<<strong>br</strong> />

ou de jetaí, ou de sapucaia. A caliz, de vinhático. As canoas, de picaí, joiarana, utussica e Angelim. As<<strong>br</strong> />

cavernas e <strong>br</strong>aços <strong>do</strong>s barcos, de sapupira ou de landim-carvalho, ou de sapupira-mirim; a quilha, de sapupira<<strong>br</strong> />

ou de peroba; os forros e cosra<strong>do</strong>s, de utim, peroba, burabhém e unhuíba; os mastros, de inhuibatan; as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!