26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

co<strong>br</strong>e, <strong>com</strong>o são paróis, bacias e tachas; e destes vasos têm os engenhos reais <strong>do</strong>us ternos sempre em o<strong>br</strong>a,<<strong>br</strong> />

porque de outra sorte não poderiam dar vazão ao cal<strong>do</strong> que vem da moenda. Estes são co<strong>br</strong>es postos so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

abóbada das fornalhas em assentos ou encosta<strong>do</strong>res de tijolo e cal ao re<strong>do</strong>r, abertos de tal sorte que, <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

fun<strong>do</strong>, que metem dentro da mesma fornalha, tapa cada qual a abertura em que se recebe; e entra por ela<<strong>br</strong> />

proporcionadamente ao corpo que tem, a saber, menos as tachas e muito mais as caldeiras. E assim <strong>com</strong>o tem<<strong>br</strong> />

sua parede, que divide uma de outra, e outra parede que divide esta casa da outra contígua <strong>do</strong> engenho, assim<<strong>br</strong> />

tem diante de si um ou <strong>do</strong>us degraus, por onde se sobe a o<strong>br</strong>ar neles <strong>com</strong> os instrumentos necessários nas<<strong>br</strong> />

mãos, e <strong>com</strong> bastante espaço para <strong>do</strong>minar so<strong>br</strong>e eles <strong>com</strong> ajustada altura e distância; e, ao re<strong>do</strong>r de toda a<<strong>br</strong> />

parede dianteira, <strong>com</strong> caminho desafoga<strong>do</strong> no meio, está o tendal das formas em que se bota o açúcar já<<strong>br</strong> />

cozi<strong>do</strong> a coalhar e é capaz de oitenta e mais formas.<<strong>br</strong> />

Consta um termo ou ordem de co<strong>br</strong>es (além <strong>do</strong> parol <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> e <strong>do</strong> parol da guinda, que ficam na casa<<strong>br</strong> />

da moenda), de duas caldeiras, a saber, da <strong>do</strong> meio e da outra de melar, de um parol da escuma, de um parol<<strong>br</strong> />

grande, que chamam parol <strong>do</strong> mela<strong>do</strong>, e de outro menor, que se chama parol de coar, de um terno de tachas,<<strong>br</strong> />

que são quatro, a saber: a de receber, a da porta, a de cozer e a de bater; e, finalmente, de uma bacia, que serve<<strong>br</strong> />

para repartir o açúcar nas formas. E de outros tantos co<strong>br</strong>es de igual ou pouco menor grandeza, consta outro<<strong>br</strong> />

andar semelhante.<<strong>br</strong> />

Leva o parol <strong>do</strong> cal<strong>do</strong> de um engenho real vinte arrobas de co<strong>br</strong>e; o parol da guinda, outras vinte<<strong>br</strong> />

arrobas; as duas caldeiras, sessenta arrobas; o parol da escuma, <strong>do</strong>ze arrobas; o parol <strong>do</strong> mela<strong>do</strong>, quinze<<strong>br</strong> />

arrobas; o parol de coar, oito arrobas; o terno das quatro rachas, a nove arrobas cada uma, trinta e seis arrobas;<<strong>br</strong> />

a bacia, quatro arrobas, que em tu<strong>do</strong> são cento e setenta e cinco arrobas de co<strong>br</strong>e, o qual, venden<strong>do</strong>-se<<strong>br</strong> />

lavra<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> é barato, a quatrocentos réis a li<strong>br</strong>a, importa <strong>do</strong>us contos e duzentos e quarenta mil-réis, que<<strong>br</strong> />

são cinco mil e seiscentos cruza<strong>do</strong>s. E se se acrescentar outro terno de co<strong>br</strong>es menores, ou iguais, crescerá<<strong>br</strong> />

proporcionadamente o seu valor.<<strong>br</strong> />

A parte em que as caldeiras e as tachas mais padecem é o fun<strong>do</strong>; e, se este for de ruim co<strong>br</strong>e, e não<<strong>br</strong> />

tiver a grossura necessária, não se poderá alimpar o cal<strong>do</strong> <strong>com</strong>o é bem, nas caldeiras, e o fogo queimará nas<<strong>br</strong> />

tachas ao açúcar, antes de se cozer e bater. Por isso, nos engenhos reais, que moem sete e oito meses <strong>do</strong> ano,<<strong>br</strong> />

se tornam refazer to<strong>do</strong>s os fun<strong>do</strong>s das caldeiras e tachas.<<strong>br</strong> />

As pessoas que assistem nesta casa, são o mestre <strong>do</strong> açúcar, o qual preside a toda a o<strong>br</strong>a; e corre por<<strong>br</strong> />

sua conta julgar se o cal<strong>do</strong> está já limpo, e o açúcar cozi<strong>do</strong> e bati<strong>do</strong> quanto pede, para estar em sua conta;<<strong>br</strong> />

assiste às têmperas e ao repartimento delas nas formas, além <strong>do</strong> que lhe cabe fazer na casa de purgar, de que<<strong>br</strong> />

falaremos no seu próprio lugar. A sua assistência principal é de dia, e, ao chegar da noite, entra a fazer o<<strong>br</strong> />

mesmo o banqueiro, que é <strong>com</strong>o o contramestre da casa; e da inteligência, experiência e vigilância de um de<<strong>br</strong> />

outro depende em grande parte o fazer-se bom ou mau açúcar. Porque, ainda que a cana não seja qual deve<<strong>br</strong> />

ser, muito pode ajudar a arte, no qual faltou à natureza. E, pelo contrário, pouco importa que a casa seja boa,<<strong>br</strong> />

se o fruto dela e o trabalho de tanto custo se botar a perder por descui<strong>do</strong>, <strong>com</strong> não pequeno encargo de<<strong>br</strong> />

consciência para quem recebe avantaja<strong>do</strong> estipêndio. Tem mais, por o<strong>br</strong>igação, o banqueiro, repartir de noite<<strong>br</strong> />

o açúcar pelas formas, assentá-las no tendal e consertá-las <strong>com</strong> cipó. E, para lhe diminuir o trabalho nestas<<strong>br</strong> />

últimas o<strong>br</strong>igações, tem um ajudante de dia, a quem chamam ajuda-banqueiro, o qual também reparte o<<strong>br</strong> />

açúcar pelas formas, assenta-as e conserta-as,<strong>com</strong>o está dito.<<strong>br</strong> />

Revezam-se nas caldeiras oito caldeireiros, dividi<strong>do</strong>s em duas equipações, um em cada uma, de<<strong>br</strong> />

assistência contínua até entregá-la ao seu sucessor, escuman<strong>do</strong> o cal<strong>do</strong> que ferve, <strong>com</strong> cubos e tachos.<<strong>br</strong> />

O<strong>br</strong>igação de cada caldeireiro é escumar três caldeiras de cal<strong>do</strong>, que chamam três meladuras; e a última se<<strong>br</strong> />

chama de entrega, porque a deve dar meio limpa ao caldeireiro que o vem render. E, para estas três meladuras,<<strong>br</strong> />

lhe há de dar a guindadeira o cal<strong>do</strong> que há mister, a seu tempo, a saber, acaba<strong>do</strong> de escumar e alimpar uma<<strong>br</strong> />

meladura, dar-lhe outra.<<strong>br</strong> />

Nas tachas trabalham quatro tacheiros por equipações de assistência, um em cada terno de tachas; e<<strong>br</strong> />

tem por o<strong>br</strong>igação, cada um deles, cozer e bater tanto açúcar quanto é necessário para se encher uma venda de<<strong>br</strong> />

formas, que vem a ser quatro ou cinco formas.<<strong>br</strong> />

Serve, finalmente, para varrer a casa e para consertar e acender as candeias (que são seis e ardem <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

azeite de peixe), e para tirar as segundas e terceiras escumas <strong>do</strong> seu próprio parol e torná-las a botar na<<strong>br</strong> />

caldeira, uma escrava, a quem chamam, por alcunha, a calcanha.<<strong>br</strong> />

É também esta casa lugar de penitentes, porque <strong>com</strong>umente se vêem nela uns mulatos e uns negros<<strong>br</strong> />

crioulos exercitar o ofício de tacheiros e caldeireiros, amarra<strong>do</strong>s <strong>com</strong> grandes correntes de ferro a um cepo, ou<<strong>br</strong> />

por fugitivos, ou por insignes em algum gênero de maldade, para que desta sorte o ferro e o trabalho os<<strong>br</strong> />

amanse. Mas, entre eles, há também às vezes alguns menos culpa<strong>do</strong>s e, ainda, inocentes, por ser o senhor ou<<strong>br</strong> />

demasiadamente fácil a crer o que lhe dizem, ou muito vingativo e cruel.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!