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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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arro, a água que botam <strong>com</strong> a direita, mexem levemente o barro de sorte que, <strong>com</strong> os de<strong>do</strong>s, não cheguem a<<strong>br</strong> />

bulir na cara <strong>do</strong> açúcar. E a este benefício chamam umedecer, borrifar e dar lavagens, ou também, dar<<strong>br</strong> />

umidades, e destas o primeiro barro não leva mais que uma, e está na forma seis dias, <strong>do</strong>nde se tira já seco, e<<strong>br</strong> />

cava-se outra vez o açúcar no meio, <strong>com</strong>o se fez ao princípio e entaipa-se; e, <strong>com</strong> a mesma diligência, se lhe<<strong>br</strong> />

bota o segun<strong>do</strong> barro, o qual está na forma quinze dias, e leva seis, sete e mais umidades, conforme a<<strong>br</strong> />

qualidade <strong>do</strong> açúcar, porque, o que é forte quer mais umidades, resistin<strong>do</strong> à água que há de corres por ele,<<strong>br</strong> />

purgan<strong>do</strong>-o, às vezes até nove e dez umidades. E, se for fraco, logo a recebe, e fica em menos tempo lava<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

mas disso não se alegra o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> açúcar, porque antes o quisera mais forte <strong>do</strong> que ta depressa purga<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Também no verão é necessário repetir as lavagens mais vezes, a saber, de <strong>do</strong>us em <strong>do</strong>us, ou de três em três<<strong>br</strong> />

dias, conforme o calor <strong>do</strong> tempo, advertin<strong>do</strong> de lhe dar estas lavagens antes que o barro chegue a a<strong>br</strong>ir-se em<<strong>br</strong> />

gretas por seco. No tempo <strong>do</strong> inverno, também se deixa o primeiro barro seis dias, e alguns não lhe dão outra<<strong>br</strong> />

umidade mais que a traz consigo, principalmente se forem dias de chuva. Porém, tira<strong>do</strong> o primeiro e posto o<<strong>br</strong> />

segun<strong>do</strong>, dão-lhe seis, sete e oito umidades, de três em três dias, conforme a qualidade <strong>do</strong> açúcar, e conforme<<strong>br</strong> />

obedecer às ditas lavagens.<<strong>br</strong> />

Como o açúcar vai purgan<strong>do</strong>, assim se vai <strong>br</strong>anquean<strong>do</strong> por seus graus, a saber, mais na parte superior,<<strong>br</strong> />

menos na <strong>do</strong> meio, pouco na última, e quase nada nos pés das formas, aos quais chamam cabuchos, e este<<strong>br</strong> />

menos purga<strong>do</strong> é o que se chama mascava<strong>do</strong>. Também, <strong>com</strong>o vai purgan<strong>do</strong>, vai descen<strong>do</strong> o barro pouco a<<strong>br</strong> />

pouco dentro da forma, e, se purgar bem devagar, descen<strong>do</strong> só meia mão, que chamam medida de chave, e<<strong>br</strong> />

vem a ser desde a raiz <strong>do</strong> de<strong>do</strong> polegar até a ponta <strong>do</strong> de<strong>do</strong> mostra<strong>do</strong>r, a purgação será boa, e de rendimento<<strong>br</strong> />

de mais açúcar, e forte; mas, se purgar apressadamente, renderá pouco.<<strong>br</strong> />

O purgar mais depressa ou mais devagar o açúcar nas formas, nasce, parte da qualidade da cana boa ou<<strong>br</strong> />

má, e parte <strong>do</strong> cozimento feito e tempera<strong>do</strong> em seu ponto. Porque, se o cozimento for mais <strong>do</strong> que é justo,<<strong>br</strong> />

ficará o açúcar empanturra<strong>do</strong>, e nunca se poderá purgar bem, resistin<strong>do</strong> às lavagens, não por forte, mas por<<strong>br</strong> />

demasiadamente cozi<strong>do</strong>, e isto se conhecerá de não purgar e não descer o barros nas formas. Pelo contrário, se<<strong>br</strong> />

o açúcar levar pouco cozimento, e a têmpera for muito solta, irá pela maior parte desfeito em mel para as<<strong>br</strong> />

correntes. O fazerem os pães <strong>do</strong> açúcar olhos, isto é, terem entre o açúcar <strong>br</strong>anco veias de mascava<strong>do</strong>, uns<<strong>br</strong> />

dizem que procede de botar mal as unidades no barro das formas, e outros das têmperas mais ou menos<<strong>br</strong> />

quentes, ou desigualmente botadas.<<strong>br</strong> />

O mel que cai das formas, depois de lhes botarem barro, torna a cozer-se, e a bater-se nas tachas, que<<strong>br</strong> />

para isto estão destinadas, <strong>com</strong> sua bacia; e se faz dele açúcar, que chamam <strong>br</strong>anco bati<strong>do</strong>; e dá também seu<<strong>br</strong> />

mascava<strong>do</strong>, que chamam mascava<strong>do</strong> bati<strong>do</strong>. Ou se estila dele água ardente, que eu nunca aconselharia ao<<strong>br</strong> />

senhor <strong>do</strong> engenho, para não ter uma contínua desinquietação na senzala <strong>do</strong>s negros, e para que os seus<<strong>br</strong> />

escravos não sejam <strong>com</strong> a água ardente mais borrachos <strong>do</strong> que os faz a cachaça.<<strong>br</strong> />

O primeiro barro que se pôs na forma, alto <strong>do</strong>us de<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> se tira já seco, tem só altura de um<<strong>br</strong> />

de<strong>do</strong>, que é depois de seis dias; quan<strong>do</strong> se tira o segun<strong>do</strong> (que se botou <strong>com</strong> a mesma altura de <strong>do</strong>us de<strong>do</strong>s),<<strong>br</strong> />

depois de quinze dias, tem só meio de<strong>do</strong> de altura. Acaban<strong>do</strong> o açúcar de purgar, param também as lavagens;<<strong>br</strong> />

e, três ou quatro dias depois da última, tira-se o segun<strong>do</strong> barro, já seco, e, depois <strong>do</strong> barro fora, dão-lhe mais<<strong>br</strong> />

oito dias para acabar de enxugar e escorrer, e então se pode tirar. Nem carece de admiração o ser o barro, que<<strong>br</strong> />

da sua natureza é imun<strong>do</strong>, instrumento de purgar o açúcar <strong>com</strong> suas lavagens, assim <strong>com</strong>o <strong>com</strong> a lem<strong>br</strong>ança<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> nosso barro, e <strong>com</strong> as lágrimas se purificam e <strong>br</strong>anqueiam as almas, que antes eram imundas.<<strong>br</strong> />

VI<<strong>br</strong> />

Do mo<strong>do</strong> de tirar, mascavar e secar o açúcar.<<strong>br</strong> />

CHEGANDO O TEMPO de tirar o açúcar das formas, se passarão em um dia muito claro tantas<<strong>br</strong> />

quantas pode receber o balcão de secar; e passam às costas <strong>do</strong>s negros, ou em paviolas, da casa de purgar para<<strong>br</strong> />

o balcão de mascavar. E, quanto ao ser o dia muito claro, é ponto de grande advertência, porque se o açúcar se<<strong>br</strong> />

umedecer, ainda que o tornem pôr ao sol, nunca mais torna a ser perfeito <strong>com</strong>o era, assim <strong>com</strong>o o que ficou<<strong>br</strong> />

de um ano para outro perde tal sorte o vigor e alvura que nunca mais a torna a co<strong>br</strong>ar; propriedade também da<<strong>br</strong> />

pureza que, uma vez ofendida, nunca torna a ser o que foi. Preside a to<strong>do</strong> este benefício o caixeiro, e corre por<<strong>br</strong> />

sua conta o que agora direi. Ao pé <strong>do</strong> balcão, que chamam de mascavar, se aventam as formas so<strong>br</strong>e um

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