Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
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correspondentes na praça, achará confusão e ignomínia no título de senhor de engenho, <strong>do</strong>nde esperava<<strong>br</strong> />
acrescentamento de estimação e de crédito. Por isso, ten<strong>do</strong> já fala<strong>do</strong> <strong>do</strong> que pertence ao cabedal que há de ter,<<strong>br</strong> />
tratarei agora de <strong>com</strong>o se há de haver no governo; e primeiramente da <strong>com</strong>pra e conservação das terras e seus<<strong>br</strong> />
arrendamentos aos lavra<strong>do</strong>res que tem; e logo da eleição <strong>do</strong>s oficiais que há de admitir ao seu serviço,<<strong>br</strong> />
apontan<strong>do</strong> as o<strong>br</strong>igações e as soldadas de cada um deles, conforme o estilo <strong>do</strong>s engenhos reais da Bahia; e,<<strong>br</strong> />
ultimamente, <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>méstico da sua família, recebimento <strong>do</strong>s hóspedes e pontualidade em dar<<strong>br</strong> />
satisfação a quem deve, <strong>do</strong> que depende a conservação <strong>do</strong> seu crédito que é o melhor cabedal <strong>do</strong>s que se<<strong>br</strong> />
prezam de honra<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />
II<<strong>br</strong> />
Como se há de haver o senhor de engenho na <strong>com</strong>pra e conservação das terras e nos<<strong>br</strong> />
arrendamentos delas.<<strong>br</strong> />
Se o Senhor <strong>do</strong> Engenho não conhecer a qualidade das terras, <strong>com</strong>prará salões por massapés e apicus<<strong>br</strong> />
por salões. Por isso, valha-se das informações <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res mais entendi<strong>do</strong>s, e atente não somente à<<strong>br</strong> />
barateza <strong>do</strong> preço, mas também de todas as conveniências que se hão de buscar para ter fazenda <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
canaviais, pastos, águas, roças e matos; e, em falta destes, <strong>com</strong>odidade para ter a lenha mais perto que puder<<strong>br</strong> />
ser, e para escusar outros inconvenientes que os velhos lhe poderão apontar, que são os mestres a quem<<strong>br</strong> />
ensinou o tempo e a experiência, o que os moços ignoram.<<strong>br</strong> />
Muitos vendem as terras que têm, por cansadas, ou faltas de lenha; outros, porque não se atrevem a<<strong>br</strong> />
ouvir tantos reca<strong>do</strong>s, semelhantes aos que se davam a Jô, <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> queima<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s bois atola<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
escravos mortos e <strong>do</strong> açúcar perdi<strong>do</strong>. Outros, o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s a vender contra a vontade por causa <strong>do</strong>s cre<strong>do</strong>res que<<strong>br</strong> />
os apertam, bem pode ser que ofereçam terras novas e fortes; porém, o <strong>com</strong>pra<strong>do</strong>r corre então outro risco de<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>prar demandas eternas, pelas o<strong>br</strong>igações e hipotecas a que estão repetidas vezes sujeitas. Portanto, nesse<<strong>br</strong> />
caso, fale o <strong>com</strong>pra<strong>do</strong>r <strong>com</strong> os letra<strong>do</strong>s, pergunte aos acre<strong>do</strong>res que é o que pertendem; e, se for necessário,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> autoridade <strong>do</strong> juiz cite a to<strong>do</strong>s, antes de ver <strong>com</strong> seus olhos que é o que <strong>com</strong>pra, que títulos de <strong>do</strong>mínio<<strong>br</strong> />
tem o vende<strong>do</strong>r, e se os ditos bens são vincula<strong>do</strong>s ou livres, e se têm parte neles órfãos, mosteiros ou igrejas,<<strong>br</strong> />
para que não se falte ao fazer da escritura a alguma condição ou solenidade necessária. Veja também as<<strong>br</strong> />
demarcações das terras, se foram medidas por justiça, e se os marcos estão em ser, ou se há mister aviventalos,<<strong>br</strong> />
que tais são os co-heréus a saber, se amigos de justiça, de verdade e de paz, ou, pelo contrário, trapaceiros<<strong>br</strong> />
desinquietos e violentos; porque não há pior peste que um mau vizinho.<<strong>br</strong> />
Feita a <strong>com</strong>pra, não falte a seu tempo à palavra que deu, pague e seja pontual nesta parte; e atente à<<strong>br</strong> />
conservação e melhoramento <strong>do</strong> que <strong>com</strong>prou, e principalmente use de toda a diligência para defender os<<strong>br</strong> />
marcos e as águas de que necessita para moer o seu engenho; e mostre aos filhos e aos feitores os ditos<<strong>br</strong> />
marcos, para que saibam o que lhes pertence e possam evitar demandas e pleitos que são uma contínua<<strong>br</strong> />
desinquietação da alma e um contínuo sangra<strong>do</strong>r de rios de dinheiro que vai a entrar nas casas <strong>do</strong>s advoga<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />
solicita<strong>do</strong>res e escrivães, <strong>com</strong> pouco proveito de quem promove o pleito, ainda quan<strong>do</strong> alcança, depois de<<strong>br</strong> />
tantos gastos e desgostos, em seu favor a sentença. Nem deixe os papéis e as escrituras que tem na caixa da<<strong>br</strong> />
mulher ou so<strong>br</strong>e uma mesa exposta ao pó, ao vento, à traça e ao cupim, para que depois não seja necessário<<strong>br</strong> />
mandar dizer muitas missas a Santo Antônio para achar algum papel importante que desapareceu, quan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
houver mister exibi-lo. Porque lhe acontecerá que a criada ou serva tire duas ou três folhas da caixa da<<strong>br</strong> />
senhora para em<strong>br</strong>ulhar <strong>com</strong> elas o que mais lhe agradar; e o filho mais pequeno tirará algumas da mesa, para<<strong>br</strong> />
pintar caretas, ou para fazer barquinhos de papel, em que naveguem moscas e grilos; ou finalmente, o vento<<strong>br</strong> />
fará que voem fora da casa sem penas.<<strong>br</strong> />
Para ter lavra<strong>do</strong>res o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s ao engenho, é necessário passar-lhes arrendamento das terras, em que<<strong>br</strong> />
hão de plantar. Estes costumam fazer-se por nove anos, e um de despejo, <strong>com</strong> o<strong>br</strong>igação de deixarem<<strong>br</strong> />
plantadas tantas tarefas de cana, ou por dezoito anos e mais, <strong>com</strong> as o<strong>br</strong>igações e número de tarefas que<<strong>br</strong> />
assentarem, conforme o costume da terra. Porém, há-se de advertir que os que pedem arrendamento sejam<<strong>br</strong> />
fazendeiros e não destrui<strong>do</strong>res da fazenda, de sorte que sejam de proveito e não de dano. E, na escritura <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
arrendamento, se hão de pôr as condições necessárias, v. g,, que não tirem paus reais, que não admitam outros<<strong>br</strong> />
em seu lugar nas terras que arrendam, sem consentimento <strong>do</strong> senhor delas; e outras que se julgarem<<strong>br</strong> />
necessárias para que algum deles, mais confia<strong>do</strong>, de lavra<strong>do</strong>r se não faça logo senhor. E para isso seria boa