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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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vergas, de camaçari; o leme, de averno ou Angelim; as curvas e as rodas da proa e popa, de sapupira, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

seus corais meti<strong>do</strong>s; as varas, de mangue-<strong>br</strong>anco, e os remos de lindirana ou de jenipapo.<<strong>br</strong> />

As caixas em que se mete o açúcar, se fazem de jequitibá e camaçari; e, não, haven<strong>do</strong> destas duas<<strong>br</strong> />

castas de pau quanto basta, se poderão valer de burissica para fun<strong>do</strong>s e tampos.E estas tábuas para as caixas<<strong>br</strong> />

vêm da serraria já serradas, e no engenho só se levantam, endireitam e aparam e hão de ter nos la<strong>do</strong>s, para<<strong>br</strong> />

bem, <strong>do</strong>us palmos e meio de largo, e o mesmo de <strong>com</strong>primento. Valia uma caixa, nos anos passa<strong>do</strong>s, dez ou<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>ze tostões, agora subiram a maior preço.<<strong>br</strong> />

Um eixo da moenda, tosco no mato, e tora<strong>do</strong> só nas pontas, ou ainda, oitava<strong>do</strong>, vale quarenta,<<strong>br</strong> />

cinqüenta e sessenta mil-réis e mais, conforme a qualidade <strong>do</strong> pau e a necessidade que há dele. Os que vêm de<<strong>br</strong> />

Porto Seguro e Patipe, são somenos, por serem cria<strong>do</strong>s em várzeas; os melhores são os que vêm da Pitanga e<<strong>br</strong> />

da Terra Nova acima de Santo Amaro. Toda a moenda importa mais de mil cruza<strong>do</strong>s, além da roda grande da<<strong>br</strong> />

água, que, por ser cheia de cavilhas e cubos, vale mais de duzentos mil-réis.<<strong>br</strong> />

Ao carapina da moenda, se dão cinco tostões cada dia a seco e, se lhe derem de <strong>com</strong>er, dá-se-lhe um<<strong>br</strong> />

cruza<strong>do</strong> e ainda mais nestes anos, em que to<strong>do</strong>s os preços subiram. Quase o mesmo se dá aos carapinas de<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>a <strong>br</strong>anca. Aos carapinas de barcos e aos calafates se dão a seco sete tostões e meio e seis tostões ou duas<<strong>br</strong> />

patacas, se lhes derem de <strong>com</strong>er. Um barco, veleja<strong>do</strong> para carregar lenha e caixas, custa quinhentos mil-réis;<<strong>br</strong> />

um barco para conduzir cana, trezentos mil-réis; e uma rodeira, quatrocentos mil-réis. As canoas vendem-se<<strong>br</strong> />

conforme a sua grandeza e qualidade <strong>do</strong> pau. Por isso, sen<strong>do</strong> as de que <strong>com</strong>umente se usam nos engenhos,<<strong>br</strong> />

umas pequenas e outras maiores, maior ou menor também será o preço delas, a saber, de vinte, trinta, quarenta<<strong>br</strong> />

e cinqüenta mil-réis.<<strong>br</strong> />

Cortam-se os paus no mato <strong>com</strong> macha<strong>do</strong>s no discurso de to<strong>do</strong> o ano, guardan<strong>do</strong> as conjunções da<<strong>br</strong> />

Lua, a saber, três dias antes da Lua nova, ou três dias depois dela cheia, e tiram-se <strong>do</strong> mato diversamente,<<strong>br</strong> />

porque nas várzeas uns os vão rolan<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e estivas; e outros os arrastam a poder de escravos, que puxam; e<<strong>br</strong> />

nos outeiros, também se arrastam puxan<strong>do</strong>. Isto se entende aonde não há lugar de usar os bois, por ser a<<strong>br</strong> />

paragem ou muito a pique, ou muito funda e aberta em covões. Mas, aonde podem puxar os bois, se tiram <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mato <strong>com</strong> tiradeiras, amarran<strong>do</strong> <strong>com</strong> cordas ou <strong>com</strong> cipós ou couros a tiradeira, segurada bem <strong>com</strong> chavelha;<<strong>br</strong> />

e, na lama, em tempo de chuva, dizem que se arrastam melhor que em tempo de seca, porque <strong>com</strong> a chuva<<strong>br</strong> />

mais facilmente escorregam.<<strong>br</strong> />

VIII<<strong>br</strong> />

Da casa das fornalhas, seu aparelho e lenha que há mister, e da cinza e sua decoada.<<strong>br</strong> />

JUNTO À CASA DA MOENDA, que chamam casa <strong>do</strong> engenho, segue-se a casa das fornalhas, bocas<<strong>br</strong> />

verdadeiramente traga<strong>do</strong>ras de matos, cárcere <strong>do</strong> fogo e fumo perpétuo e viva imagem <strong>do</strong>s vulcões, Vesúvios<<strong>br</strong> />

e Etnas e quase disse, <strong>do</strong> Purgatório ou <strong>do</strong> Inferno. Nem faltam perto destas fornalhas seus condena<strong>do</strong>s, que<<strong>br</strong> />

são os escravos boubentos e os que têm corrimentos, o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s a esta penosa assistência para purgarem <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

suor violento os humores gálicos de que têm cheios seus corpos. Vêem-se aí, também, outros escravos,<<strong>br</strong> />

facinorosos, que, presos em <strong>com</strong>pridas e grossas correntes de ferro, pagam neste trabalhoso exercício os<<strong>br</strong> />

repeti<strong>do</strong>s excessos da sua extraordinária maldade, <strong>com</strong> pouca ou nenhuma esperança de emenda.<<strong>br</strong> />

Nos engenhos reais, costuma haver seis fornalhas e nelas outros tantos escravos assistentes, que<<strong>br</strong> />

chamam mete<strong>do</strong>res da lenha. As bocas das fornalhas são cercadas <strong>com</strong> arcos de ferro, não só para que<<strong>br</strong> />

sustentem melhor os tijolos, mas para que os mete<strong>do</strong>res, no meter da lenha, não padeçam algum desastre. Tem<<strong>br</strong> />

cada fornalha so<strong>br</strong>e a boca <strong>do</strong>us bueiros, que são <strong>com</strong>o duas ventas, por onde o fogo resfolega. Os pilares que<<strong>br</strong> />

se levantam entre uma e outra, hão de ser muito fortes, de tijolo e cal, mas o corpo das fornalhas faz-se de<<strong>br</strong> />

tijolo <strong>com</strong> barro, para resistir melhor à veemente atividade <strong>do</strong> fogo, ao qual não resistiria nem a cal, nem a<<strong>br</strong> />

pedra mais dura; e as que servem para as caldeiras são alguma cousa maiores que as que servem para as<<strong>br</strong> />

tachas. O alimento <strong>do</strong> fogo é a lenha, e só o <strong>Brasil</strong>, <strong>com</strong> a imensidade <strong>do</strong>s matos que tem, podia fartar, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

fartou por tantos anos, e fartará nos tempos vin<strong>do</strong>uros, a tantas fornalhas, quantas são as que se contam nos<<strong>br</strong> />

engenhos da Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, que <strong>com</strong>umente moem de dia e de noite, seis, sete, oito e<<strong>br</strong> />

nove meses <strong>do</strong> ano. E, para que se veja quão abundantes são estes matos, só os de Jaguaripe bastam para dar<<strong>br</strong> />

lenha a quantos engenhos há à beira-mar no Recôncavo da Bahia, e, de fato, quase to<strong>do</strong>s desta parte só se<<strong>br</strong> />

provêem. Começa o cortar da lenha em Jaguaripe nos princípios de julho, porque na Bahia os engenhos

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