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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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dizem que mais de trinta mil almas se ocupam, umas a catar, e outras a mandar catar nos ribeiros <strong>do</strong> ouro, e<<strong>br</strong> />

outras a negociar, venden<strong>do</strong> e <strong>com</strong>pran<strong>do</strong> o que se há mister não só para a vida, mas para o regalo, mais que<<strong>br</strong> />

nos portos <strong>do</strong> mar.<<strong>br</strong> />

Cada ano, vêm nas frotas quantidade de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades,<<strong>br</strong> />

vilas, recôncavos e sertões <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, vão <strong>br</strong>ancos, par<strong>do</strong>s e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se<<strong>br</strong> />

servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, po<strong>br</strong>es e ricos,<<strong>br</strong> />

no<strong>br</strong>es e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos,muitos <strong>do</strong>s quais não têm no <strong>Brasil</strong><<strong>br</strong> />

convento nem casa.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>e esta gente, quanto ao temporal, não houve até o presente coação ou governo algum bem ordena<strong>do</strong>, e<<strong>br</strong> />

apenas se guardam algumas leis, que pertencem às datas e repartições <strong>do</strong>s ribeiros. No mais, não há ministros<<strong>br</strong> />

nem justiças que tratem ou possam tratar <strong>do</strong> castigo <strong>do</strong>s crimes, que não são poucos, principalmente <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

homicídios e furtos. Quanto ao espiritual, haven<strong>do</strong> até agora dúvidas entre os prela<strong>do</strong>s acerca da jurisdição, os<<strong>br</strong> />

manda<strong>do</strong>s de uma e outra parte, ou <strong>com</strong>o curas, ou <strong>com</strong>o visita<strong>do</strong>res, se acharam bastantemente embaraça<strong>do</strong>s,<<strong>br</strong> />

e não pouco embaraçaram a outros, que não acabam de saber a que pastor pertencem aqueles novos rebanhos.<<strong>br</strong> />

E, quan<strong>do</strong> se averigúe o direito <strong>do</strong> provimento <strong>do</strong>s párocos, pouco hão de ser temi<strong>do</strong>s e respeita<strong>do</strong>s naquelas<<strong>br</strong> />

freguesias móveis de um lugar para outro, <strong>com</strong>o os filhos de Israel no deserto.<<strong>br</strong> />

Teve El-Rei nas minas, por superintendente delas, ao desembarga<strong>do</strong>r José Vaz Pinto, o qual, depois de <strong>do</strong>us<<strong>br</strong> />

ou três anos, tornou a recolher-se para o Rio de Janeiro <strong>com</strong> bastante cabedal, e dele, suponho, ficaria<<strong>br</strong> />

plenamente informa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que por lá vai, e que apontaria a desordem e o remédio delas, se fosse possível a<<strong>br</strong> />

execução.<<strong>br</strong> />

Assiste também nas minas um Procura<strong>do</strong>r da Coroa, e um Guarda-mor, <strong>com</strong> seu estipêndio. Houve, até agora,<<strong>br</strong> />

Casa de Quintar em Taubaté,na vila de São Paulo, em Parati, e no Rio de Janeiro, e em cada uma destas casas<<strong>br</strong> />

há um prove<strong>do</strong>r, um escrivão e um fundi<strong>do</strong>r, que, fundi<strong>do</strong> o ouro em barretas, lhe põem o cunho real, sianal<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> quinto que se pagou a El-Rei desse ouro.<<strong>br</strong> />

Haven<strong>do</strong> Casa da Moeda e <strong>do</strong>s Quintos na Bahia, e no Rio de Janeiro (por serem estes os <strong>do</strong>us pólos aonde<<strong>br</strong> />

vai parar to<strong>do</strong> o ouro), teria Sua Majestade muito maior lucro <strong>do</strong> que até agora teve, e muito mais senas Casas<<strong>br</strong> />

da Moeda, bem fornecidas <strong>do</strong>s aparelhos necessários, houvesse sempre dinheiro pronto para <strong>com</strong>prar o ouro<<strong>br</strong> />

que os mineiros trazem e folgam de o vender sem detença.<<strong>br</strong> />

Agora sabemos que Sua Majestade manda governa<strong>do</strong>r, ministros de Justiça, e levantar um terço de solda<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

nas minas, para que tu<strong>do</strong> tome melhor forma e governo.<<strong>br</strong> />

VI<<strong>br</strong> />

Das datas ou repartições das minas.<<strong>br</strong> />

PARA EVITAR A CONFUSÃO, o tumulto e as mortes que haveria no desco<strong>br</strong>imento <strong>do</strong>s ribeiros de<<strong>br</strong> />

ouro, se assentou o que pertence às repartições desta sorte. Tem o desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>r a primeira data, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>r, e outra <strong>com</strong>o mineiro; segue-se a que cabe a El-Rei, e, atrás desta, a <strong>do</strong> guarda-mor; as outras se<<strong>br</strong> />

distribuem por sortes. As que chamam datas inteiras são de trinta <strong>br</strong>aças em quadra, e tais são a de El-Rei, e<<strong>br</strong> />

as <strong>do</strong> desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>r e guarda-mor. As outras, que se dão por sorte, têm a extensão proporcionada ao número <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

escravos que trazem para estar, dan<strong>do</strong> duas <strong>br</strong>aças em quadra por cada escravo ou índio, de que se servem nas<<strong>br</strong> />

catas; e assim, a quem tem quinze escravos se dá uma data inteira de trinta <strong>br</strong>aças em quadra. Para ser<<strong>br</strong> />

admiti<strong>do</strong> à repartição por sortes, é necessário fazer petição ao superintendente das ditas repartições, ao qual se<<strong>br</strong> />

dá pelo despacho da petição uma oitava de ouro e outra ao seu escrivão; e às vezes acontece oferecerem-se<<strong>br</strong> />

quinhentas petições e levarem o reparti<strong>do</strong>r e o escrivão mil oitavas e não tirarem to<strong>do</strong>s os mineiros juntos<<strong>br</strong> />

outro tanto de tais datas, por falharem no seu rendimento; e, por isso, procuram outras datas, haven<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>imento de novos ribeiros. A data de El-Rei logo se vende a quem mais oferece e pode também<<strong>br</strong> />

qualquer vender ou trocar a sua data; e nisto se viram e vêem a cada passo vários e diferentes sucessos,<<strong>br</strong> />

tiran<strong>do</strong> uns mineiros de poucas <strong>br</strong>aças muito ouro, e outros, de muitas, pouco; e já houve quem por pouco<<strong>br</strong> />

mais de mil oitavas vendeu data, da qual o <strong>com</strong>pra<strong>do</strong>r tirou sete arrobas de ouro. Pelo que se tem por jogo de<<strong>br</strong> />

bem ou mal afortuna<strong>do</strong>, o tirar ou não tirar ouro das datas.

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