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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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América era tão espalhada. O Novo Mun<strong>do</strong>, para a mente <strong>do</strong>s europeus, era a terra <strong>do</strong>s metais e das pedras<<strong>br</strong> />

preciosas e o <strong>Brasil</strong> fora até princípios <strong>do</strong> século XVIII um país de desola<strong>do</strong>ra aridez, para a maioria <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

portugueses. Pois se não tinha minas! Quanta desilusão <strong>com</strong> a prata de Robério Dias e as esmeraldas tantas<<strong>br</strong> />

vezes anunciadas e jamais confirmadas! Assim <strong>com</strong> que entusiasmo não acolhera Portugal a notícia da<<strong>br</strong> />

descoberta <strong>do</strong>s grandes campos auríferos de Minas Gerais, ren<strong>do</strong>sos <strong>com</strong>o poucos placers <strong>do</strong> Universo! Com<<strong>br</strong> />

que ciúme os resguardava das vistas exóticas! E era Antonil quem em livro que se traduziria logo, a correr<<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong>, vinha revelar todas as maravilhas dessa nova Golconda. Imprudente idéia! Excelente idéia devemos<<strong>br</strong> />

nós dizer, pois graças a ela temos hoje fortíssimo veio de informações so<strong>br</strong>e a vida primitiva da mineração <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

ouro, único <strong>do</strong>cumento de reconstituição de muitas faces deste perío<strong>do</strong> notabilíssimo, capital, da formação<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira. Senão examinemos ligeiramente os sumários <strong>do</strong>s primeiros capítulos de Antonil: Das minas de<<strong>br</strong> />

ouro que se desco<strong>br</strong>iram no <strong>Brasil</strong>; das minas de ouro que chamam gerais e <strong>do</strong>s desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>res delas; de<<strong>br</strong> />

outras no rio das Velhas e de Caeté. Mostram que o A. foi o contemporâneo das primeiras explorações antes<<strong>br</strong> />

que a revolução <strong>do</strong> solo, na ânsia <strong>do</strong> metal, co<strong>br</strong>isse largas superfícies, ten<strong>do</strong> <strong>com</strong>o informante, de mil e uma<<strong>br</strong> />

particularidades, pessoa que, em 1703, a Artur de Sá e Menezes a<strong>com</strong>panhou em sua viagem às Minas. Que<<strong>br</strong> />

enorme cópia de informes nos dá! Fala-nos <strong>do</strong> rendimento <strong>do</strong>s ribeiros, e das diversas qualidades <strong>do</strong> ouro que<<strong>br</strong> />

deles se tira, explican<strong>do</strong> quanto cada um forneceu, de quanto foi o valor médio das bateadas, qual o aspecto<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> metal e quais os seus característicos, de que mo<strong>do</strong> se procedeu à distribuição das datas e se repartiram as<<strong>br</strong> />

minas, quais os diversos preços <strong>do</strong> ouro vendi<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong>, e quais os lucros tira<strong>do</strong>s pelos primeiros<<strong>br</strong> />

explora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s leitos <strong>do</strong>s ribeirões, terminan<strong>do</strong> por explicar os diversos processos de mineração, usa<strong>do</strong>s no<<strong>br</strong> />

distrito aurífero.<<strong>br</strong> />

Para estudar o fácies da gente atraída pelo sacra fames, “mistura de toda a condição de pessoas so<strong>br</strong>e o qual<<strong>br</strong> />

não houve até o presente coação ou governo bem ordena<strong>do</strong>”, turba onde se via de tu<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o sempre<<strong>br</strong> />

aconteceu em to<strong>do</strong>s os grandes rushes <strong>do</strong> ouro, acoroçoada pelos processos irregulares e os abusos <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

governantes, magistra<strong>do</strong>s e autoridades várias, seculares e eclesiásticas, todas elas desvairadas pela idéia de<<strong>br</strong> />

recolherem <strong>br</strong>eve ao Reino, ou às suas terras de origem, <strong>com</strong> fartas arrobas de cabedal, na frase <strong>do</strong> velho<<strong>br</strong> />

cronista.<<strong>br</strong> />

Região de grandes e súbitos lucros só podia ser uma terra de excessiva carestia; é o que nos indicam as tabelas<<strong>br</strong> />

reproduzidas pelo autor quan<strong>do</strong> nos fala da “abundância de mantimentos e de to<strong>do</strong> usual que hoje há nas<<strong>br</strong> />

minas, e <strong>do</strong> pouco caso que se faz <strong>do</strong>s preços extraordinariamente altos”, depois de contar que para ali<<strong>br</strong> />

corriam as boiadas de Paranaguá e <strong>do</strong>s campos da Bahia! Destes preços exagera<strong>do</strong>s, proviera uma alta<<strong>br</strong> />

formidável no custo da vida em to<strong>do</strong> o <strong>Brasil</strong> “<strong>com</strong>o se experimentam nos portos das cidades e vilas <strong>do</strong> país”,<<strong>br</strong> />

fican<strong>do</strong> desfavoreci<strong>do</strong>s muitos engenhos de açúcar das peças necessárias, padecen<strong>do</strong> os mora<strong>do</strong>res grande<<strong>br</strong> />

carestia de mantimentos.<<strong>br</strong> />

Partidário convicto <strong>do</strong> Redde caesari, e mesmo mais talvez <strong>do</strong> que o razoável, gasta Antonil numerosas<<strong>br</strong> />

páginas examinan<strong>do</strong> “a o<strong>br</strong>igação de pagar a El Rei Nosso Senhor a quinta parte <strong>do</strong> ouro, que se tira das<<strong>br</strong> />

minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>”, tratan<strong>do</strong> o ponto de <strong>do</strong>us mo<strong>do</strong>s: “ou pelo que pertence ao foro externo pelas leis, às<<strong>br</strong> />

ordenações <strong>do</strong> reino ou pelo que pertence ao foro interno, alteran<strong>do</strong> a o<strong>br</strong>igação em consciência”.<<strong>br</strong> />

E disserta e disserta... o bom André João... citan<strong>do</strong> enorme bibliografia de teólogos e jurisconsultos, de onde<<strong>br</strong> />

saltam nomes outrora gloriosos e agora bem esqueci<strong>do</strong>s: Barbosa, Cabe<strong>do</strong>, Pegas, Molina, Vasques,<<strong>br</strong> />

Solorzano, o Cardeal de Lugo, Avendanho, Soares, uma quantidade de tratadistas bolorentos e hoje fósseis,<<strong>br</strong> />

revela<strong>do</strong>ra de quanto estava versa<strong>do</strong> na consulta às fontes o ardente defensor <strong>do</strong>s quintos reais que termina a<<strong>br</strong> />

sua dissertação <strong>com</strong> a seguinte síntese <strong>do</strong> caso: “o quinto sempre se deve de justiça”.<<strong>br</strong> />

Capítulos valiosos para a história das entradas são os roteiros “da vila de S. Paulo para as Minas Gerais e para<<strong>br</strong> />

o Rio das Velhas”; <strong>do</strong> “caminho da cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro para as Minas Gerais <strong>do</strong>s Cataguazes <strong>do</strong> Rio das<<strong>br</strong> />

Velhas” e ainda os <strong>do</strong> “caminho novo da cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro para as Minas” e <strong>do</strong> “caminho da cidade da<<strong>br</strong> />

Bahia para as Minas <strong>do</strong> Rio das Velhas”.<<strong>br</strong> />

Quanta particularidade notável ligada à história da penetração aí se ensina! Os pontos terminais das jornadas<<strong>br</strong> />

feitas pelos bandeirantes, Mantiqueira acima: por Artur de Sá e Menezes, via Parati – Taubaté – Guaipacaré,<<strong>br</strong> />

ao pé da serra afamada da Mantiqueira “e depois pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros<<strong>br</strong> />

morros, que o ouro tem no caminho, para que não cheguem lá os mineiros”. Descreve o caminho novo de<<strong>br</strong> />

Garcia Rodrigues Pais, o filho notável <strong>do</strong> grande Fernão Dias Pais, a quem deveu o Rio de Janeiro<<strong>br</strong> />

setecentista o formidável impulso que lhe deu a primazia entre as cidades <strong>br</strong>asileiras, fazen<strong>do</strong>-o destronar a<<strong>br</strong> />

velha Bahia. Menos interessante a jornada da antiga capital <strong>do</strong> país aos distritos auríferos. “Mais <strong>com</strong>pri<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mas menos dificultoso, por ser mais aberto para as boiadas, mais abundante para o sustento e mais a<strong>com</strong>oda<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

para as cavalgaduras e para as cargas”.<<strong>br</strong> />

Num de seus últimos capítulos explica Antonil o “mo<strong>do</strong> de tirar o ouro das minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, e ribeiro delas,

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