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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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capazes, <strong>com</strong>o as que chamam rodeiras. O lavra<strong>do</strong>r tem o<strong>br</strong>igação de cortar a cana e de a conduzir à sua custa<<strong>br</strong> />

até o porto, aonde o barco <strong>do</strong> senhor <strong>do</strong> engenho a recebe e leva de graça até a moenda por mar, pon<strong>do</strong>-a no<<strong>br</strong> />

dito barco os escravos <strong>do</strong> lavra<strong>do</strong>r e arruman<strong>do</strong>-a no barco os marinheiros. Mas, se for engenho pela terra<<strong>br</strong> />

adentro, toda condução por terra até a moenda corre por conta <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da cana, quer seja livremente dada,<<strong>br</strong> />

quer o<strong>br</strong>igada ao engenho.<<strong>br</strong> />

Conduzir a cana por terra em tempo de chuvas e lamas é querer matar muitos bois, particularmente se<<strong>br</strong> />

vierem de outra parte magros e fracos, estranhan<strong>do</strong> o pasto novo e o trabalho. O que muito mais se há de<<strong>br</strong> />

advertir na condução das caixas, <strong>com</strong>o se dirá em seu lugar. Por isso, os bois, que vêm <strong>do</strong> sertão cansa<strong>do</strong>s e<<strong>br</strong> />

maltrata<strong>do</strong>s no caminho, para bem não se hão de pôr no carro, senão depois de estarem pelo menos ano e<<strong>br</strong> />

meio no pasto novo, e de se acostumarem pouco a pouco ao trabalho mais leve, <strong>com</strong>eçan<strong>do</strong> pelo tempo <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

verão, e não no <strong>do</strong> inverno; de outra sorte, sucederá ver o que se viu em um destes anos passa<strong>do</strong>s, em que<<strong>br</strong> />

morreram, só em um engenho, duzentos e onze bois, parte nas lamas, parte na moenda e parte no pasto. E se<<strong>br</strong> />

moen<strong>do</strong> <strong>com</strong> água e usan<strong>do</strong> de barcos para a condução da cana, é necessário ter no engenho quatro ou cinco<<strong>br</strong> />

carros <strong>com</strong> <strong>do</strong>ze ou catorze juntas de bois muito fortes, quantos haverá mister quem mói <strong>com</strong> bestas e bois e<<strong>br</strong> />

tem cana própria para se conduzir de longe à moenda? Advirta-se muito nisso, para se <strong>com</strong>prarem a tempo os<<strong>br</strong> />

bois e tais quais são necessários, dan<strong>do</strong> antes oito mil réis por um só boi manso e re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, <strong>do</strong> que outro tanto<<strong>br</strong> />

por <strong>do</strong>us pequenos e magros, que não têm forças para aturarem no trabalho.<<strong>br</strong> />

V<<strong>br</strong> />

Do engenho ou casa de moer a cana, e <strong>com</strong>o se move a moenda <strong>com</strong> água.<<strong>br</strong> />

AINDA QUE O NOME DE ENGENHO <strong>com</strong>preenda to<strong>do</strong> o edifício, <strong>com</strong> a oficina e casas necessárias<<strong>br</strong> />

para moer a cana, cozer e purgar o açúcar, contu<strong>do</strong>, toma<strong>do</strong> mais em particular, o mesmo é dizer casa <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

engenho que casa de moer a cana, <strong>com</strong> artifício que engenhosamente inventaram. E ten<strong>do</strong> nós já chega<strong>do</strong> a<<strong>br</strong> />

esta casa <strong>com</strong> a cana conduzida para a moenda, daremos alguma notícia <strong>do</strong> que ela é e <strong>do</strong> que nela se o<strong>br</strong>a,<<strong>br</strong> />

para espremer o açúcar da cana, valen<strong>do</strong>-me <strong>do</strong> que vi no engenho real de Sergipe <strong>do</strong> Conde, que entre to<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

os da Bahia é o mais afama<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Levanta-se à borda <strong>do</strong> rio so<strong>br</strong>e dezassete grandes pilares de tijolo, largos quatro palmos, altos vinte e<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>us, e distantes um <strong>do</strong> outro quinze, uma alta e espaçosa casa, cujo teto coberto de telha assenta so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

tirantes, frechais e vigas de paus, que chamam de lei, que são <strong>do</strong>s mais fortes que há no <strong>Brasil</strong>, a quem<<strong>br</strong> />

nenhuma outra terra leva nesta parte vantagem, <strong>com</strong> duas varandas ao re<strong>do</strong>r: uma para receber cana e lenha,<<strong>br</strong> />

outra para guardar madeiras usuais de so<strong>br</strong>essalente. E a esta chamam casa da moenda, capaz de receber<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>odamente quatro tarefas de cana sem perturbação e embaraço <strong>do</strong>s que necessariamente hão de lidar na<<strong>br</strong> />

dita casa, e <strong>do</strong>s que por ela passam, sen<strong>do</strong> caminho aberto para qualquer outra oficina, e particularmente para<<strong>br</strong> />

as casas imediatamente contíguas das fornalhas e das caldeiras, contan<strong>do</strong> de <strong>com</strong>primento to<strong>do</strong> este edifício<<strong>br</strong> />

cento e noventa e três palmos e oitenta e seis de largo. Mói-se nesta casa cana <strong>com</strong> tal artifício de eixos e<<strong>br</strong> />

rodas que bem merece particular reflexão e mais distinta notícia.<<strong>br</strong> />

Tomam para mover a moenda <strong>do</strong> rio acima, aonde faz a sua queda natural, a que chamam levada, que<<strong>br</strong> />

vem a ser uma porção bastante de água <strong>do</strong> açude ou tanque, que para isso tem, divertida <strong>com</strong> represas de<<strong>br</strong> />

pedra e tijolo <strong>do</strong> seu curso, e levada <strong>com</strong> declinação moderada por um rego capaz e forte nas margens, para<<strong>br</strong> />

que a água vá unida e melhor se conserve, co<strong>br</strong>an<strong>do</strong> na declinação cada vez maior ímpeto e força, <strong>com</strong> seu<<strong>br</strong> />

sangra<strong>do</strong>r para a divertir, se for necessário, quan<strong>do</strong> por razão das chuvas ou cheias viesse mais <strong>do</strong> que se<<strong>br</strong> />

pertende e <strong>com</strong> outra abertura para duas bicas, uma que leva água para casa das caldeiras, e outra que vai<<strong>br</strong> />

refrescar o aguilhão, de uma tábua, e assim vai a entrar no cano de pau, que chamam caliz, sustenta<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

pilares de tijolo e na parte superior descoberto, cujo extremo inclina<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e os cubos da roda se chama<<strong>br</strong> />

feri<strong>do</strong>r, porque por ele vai a água a ferir os ditos cubos, <strong>do</strong>nde se origina e continua o seu moto. Assentam os<<strong>br</strong> />

agulhões no eixo desta roda, uma pela parte de fora e outro pela parte de dentro da casa da moenda, so<strong>br</strong>e seus<<strong>br</strong> />

chumaceiros de pau, <strong>com</strong> chapa de <strong>br</strong>onze, e a estes sustentam duas virgens, ou esteios de fora, e duas de<<strong>br</strong> />

dentro, <strong>com</strong> seu <strong>br</strong>inquete, que é a travessa em que os aguilhões se encostam. E, so<strong>br</strong>e estes, <strong>com</strong>o dissemos,<<strong>br</strong> />

vai sempre cain<strong>do</strong> uma pequena porção de água, para os refrescar, de sorte que pelo contínuo moto não<<strong>br</strong> />

ardam, temperan<strong>do</strong>-se <strong>com</strong> a água suficientemente o calor.<<strong>br</strong> />

As aspas da roda larga e grande sustentam os arcos ou círculos dela, e dentro aparecem os cubos ou

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