Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
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um livro, havia um século confisca<strong>do</strong> por ordem <strong>do</strong> Senhor Rei D. João V, a quem Deus havia.<<strong>br</strong> />
E não seria este o motivo para a supressão da parte relativa às minas, este noli me tangere da administração<<strong>br</strong> />
portuguesa, em relação ao <strong>Brasil</strong>?<<strong>br</strong> />
É bem possível, muito embora, já, em 1800, estivesse quase morta a mineração <strong>do</strong> ouro no <strong>Brasil</strong>. Mas podia<<strong>br</strong> />
de um momento para outro renascer <strong>com</strong> a descoberta de novos campos auríferos. É imenso o <strong>Brasil</strong>!<<strong>br</strong> />
Talvez também não houvesse Fr. Veloso queri<strong>do</strong> reproduzir o texto da <strong>Cultura</strong> relativo às minas ao verificar<<strong>br</strong> />
que o seu autor destas haja fala<strong>do</strong> por informação ou quiçá não quisesse encher o volume <strong>com</strong> assunto<<strong>br</strong> />
estranho ao título que lhe impusera e ao seu programa que pretendia cingir-se exclusivamente.<<strong>br</strong> />
Decorri<strong>do</strong> mais de um século <strong>do</strong> feroz auto de fé sofri<strong>do</strong> pela <strong>Cultura</strong> estava um de seus exemplares em mãos<<strong>br</strong> />
de um <strong>do</strong>s mais notáveis paulistas da era colonial, ilustre pela família e a cultura, o caráter e as posições<<strong>br</strong> />
eminentes que ocupou: o Conselheiro Diogo de Tole<strong>do</strong> Lara e Or<strong>do</strong>nhes. “Tanto o estimava que não o tinha<<strong>br</strong> />
entre os outros na sua estante, mas sim na gaveta pequena de uma cômoda. Pedira-se muitas vezes que o desse<<strong>br</strong> />
à biblioteca, hoje pública, ao que nunca se pudera resolver mesmo dan<strong>do</strong> outros, tanto era a estimação em que<<strong>br</strong> />
o tinha”.<<strong>br</strong> />
Se homem havia no <strong>Brasil</strong>, de princípios <strong>do</strong> século XIX, em condições de avaliar a importância da o<strong>br</strong>a de<<strong>br</strong> />
Antonil era esse Diogo de Tole<strong>do</strong> Lara Or<strong>do</strong>nhes.<<strong>br</strong> />
Nasci<strong>do</strong> em S. Paulo, em 16 de dezem<strong>br</strong>o de 1752, filho de um homem culto e educa<strong>do</strong>, o Mestre de Campo<<strong>br</strong> />
Agostinho Delga<strong>do</strong> de Arouche, irmão de outro homem de notável merecimento pela cultura e o caráter, o<<strong>br</strong> />
Marechal José Arouche de Tole<strong>do</strong> Ren<strong>do</strong>n, formara-se Diogo Or<strong>do</strong>nhes em direito, na Universidade de<<strong>br</strong> />
Coim<strong>br</strong>a s seguiria a carreira da magistratura. Gora-lhe o pai o desvela<strong>do</strong> amigo de Pedro Taques, valen<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
imenso ao infeliz historia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s bandeirantes, nos dias de sua prodigiosa desventura, quan<strong>do</strong> o ilustre e<<strong>br</strong> />
infelis autor de Nobiliarquia Paulistana, vítima da fatalidade e da inveja, se vira reduzi<strong>do</strong> à última miséria.<<strong>br</strong> />
Juiz de Cuiabá, em 1785, eleva<strong>do</strong> a Ouvi<strong>do</strong>r em 1789, dali se retirara em 1792 <strong>com</strong> enorme sentimento <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />
povos.<<strong>br</strong> />
De 1793 a 1800 viveu em Portugal, freqüentan<strong>do</strong> assiduamente as sessões da Academia Real de Ciências, de<<strong>br</strong> />
que era correspondente. Promoveu a impressão das Memórias de seu parente e amigo, Frei Gaspar da Madre<<strong>br</strong> />
de Deus, copiou e anotou numerosos títulos da Nobiliarquia Paulistana, salvan<strong>do</strong> assim da ruína grande parte<<strong>br</strong> />
desta o<strong>br</strong>a monumental. Em 1799 publicou e <strong>com</strong>entou a famosa carta anchietana so<strong>br</strong>e a história natural da<<strong>br</strong> />
Capitania de S. Vicente. Regressou em 1800 ao <strong>Brasil</strong>, despacha<strong>do</strong> desembarga<strong>do</strong>r da Relação <strong>do</strong> Rio de<<strong>br</strong> />
Janeiro. Era em 1815 conselheiro da fazenda. Eleito por S. Paulo à Constituinte de 1823, preferiu declinar de<<strong>br</strong> />
tão grande honra; faleceu solteiro, em 1826. Bibliófilo esclarecidíssimo, possuía riquíssima coleção de<<strong>br</strong> />
impressos e manuscritos. Dela fez presente à Biblioteca Real, hoje Nacional. Tão preciosa esta dádiva que<<strong>br</strong> />
basta lem<strong>br</strong>ar que nela se incluem os originais das cartas anchietanas. Tivemos ensejo de publicar no tomo X<<strong>br</strong> />
da Revista <strong>do</strong> Museu Paulista uns fragmentos <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> que so<strong>br</strong>e a ornitologia <strong>br</strong>asileira <strong>com</strong>pusera e<<strong>br</strong> />
mantinha secreto por timidez e modéstia, provavelmente, o<strong>br</strong>a esta inspirada pelo critério científico rigoroso e<<strong>br</strong> />
moderno, baseada nas idéias de Lineu e <strong>do</strong>cumentada por extensa bibliografia.<<strong>br</strong> />
Tal o homem que pediu atenção para o esqueci<strong>do</strong> livro de Antonil “lê savant Diogo Or<strong>do</strong>nhes”, <strong>com</strong>o lhe<<strong>br</strong> />
chama Saint Hilaire, no seu lúci<strong>do</strong> critério.<<strong>br</strong> />
E esta atenção, atraída insistentemente, provocou da parte de um homem inteligente o desejo de reimprimir o<<strong>br</strong> />
esqueci<strong>do</strong> cimélio.<<strong>br</strong> />
Foi ele, segun<strong>do</strong> afirma Varnhagem (H. G. 2, 838) e julga Inocêncio, o erudito bibliógrafo português, José<<strong>br</strong> />
Silvestre Rebelo.<<strong>br</strong> />
Nasci<strong>do</strong> em Portugal, aderiu Silvestre à nossa independência, optan<strong>do</strong> em 1822 pela nacionalidade <strong>br</strong>asileira e<<strong>br</strong> />
mostran<strong>do</strong>-se dedica<strong>do</strong>, quanto possível, à nossa causa nacional. Negociante, disponde de abundantes<<strong>br</strong> />
recursos, representou o seu papel no nosso cenário político, haven<strong>do</strong> chega<strong>do</strong> a desempenhar importantes<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>issões diplomáticas, <strong>com</strong>o a que o levou aos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, na qualidade de encarrega<strong>do</strong> de negócios <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Brasil</strong>, para que o governo desta república reconhecesse a nossa independência. Foi <strong>do</strong>s quarenta e seis<<strong>br</strong> />
mem<strong>br</strong>os funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Instituto Histórico <strong>Brasil</strong>eiro e deixou <strong>do</strong>us opúsculos: Comércio oriental e o <strong>Brasil</strong><<strong>br</strong> />
visto por cima (Pinheiro Chagas), sem contar as memórias insertas na Revista <strong>do</strong> Instituto (tomos I e II):<<strong>br</strong> />
“Novo trabalho so<strong>br</strong>e o programa: se a introdução de Africanos no <strong>Brasil</strong> serve de embaraço à civilização<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong>s indígenas” e Discurso so<strong>br</strong>e a palavra <strong>Brasil</strong>.<<strong>br</strong> />
O mesmo segun<strong>do</strong> tema retomou-o o <strong>do</strong>uto Joaquim Caetano da Silva, ao discutir so<strong>br</strong>e se se devia escrever<<strong>br</strong> />
<strong>Brasil</strong> ou Brazil, estranhan<strong>do</strong> o Visconde de Taunay jamais haja o erudito rio-grandense feito a menor alusão<<strong>br</strong> />
ao trabalho <strong>do</strong> antecessor, quan<strong>do</strong> muito se abeberou à mesma fonte: a o<strong>br</strong>a de Humboldt.<<strong>br</strong> />
Não merecia José Silvestre Rabelo este pouco caso. Era respeitável pela cultura e caráter. Faleci<strong>do</strong> em agosto