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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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ao mesmo tempo ver quão grande estimação tinha o nosso tabaco na Europa e mais partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e quais<<strong>br</strong> />

notáveis emolumentos rendia à fazenda real, chegan<strong>do</strong> a exportação <strong>br</strong>asileira a perto de 900.000 cruza<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

anuais, <strong>do</strong>s quais sete oitavos de fumo baiano. Graves as penas <strong>com</strong>inadas aos que levavam o gênero não<<strong>br</strong> />

despachan<strong>do</strong> nas alfândegas, mas também tão ren<strong>do</strong>so o contraban<strong>do</strong> <strong>do</strong> gênero que se punham em prática mil<<strong>br</strong> />

e uma espertezas para lesar o fisco; cavilosidades que Antonil refere <strong>com</strong> as devidas minudências “relatan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

as invenções que sugeria a cautela ambiciosa, porém sempre arriscada, e muitas vezes descoberta <strong>com</strong> sucesso<<strong>br</strong> />

infeliz, o que claramente provava a estimação, o apetite e a esperança <strong>do</strong> lucro, que ainda entre riscos<<strong>br</strong> />

a<strong>com</strong>panhava o tabaco”.<<strong>br</strong> />

Bem poucas páginas infelizmente consagrou o tão arguto observa<strong>do</strong>r das cousas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> ao estu<strong>do</strong> da<<strong>br</strong> />

criação <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, sua contemporânea, contentan<strong>do</strong>-se em referir quão extensas eram “as terras para pastar<<strong>br</strong> />

cheias de ga<strong>do</strong>, que no <strong>Brasil</strong> havia, nas suas diversas regiões”. Se as questões de zootecnia lhe foram<<strong>br</strong> />

indiferentes, em to<strong>do</strong> caso realizou interessante apanha<strong>do</strong> estatístico das condições da criação, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> sob<<strong>br</strong> />

o ponto de vista da exportação <strong>do</strong>s couros, acerca da qual traz uma série de da<strong>do</strong>s, referin<strong>do</strong> ainda que tal<<strong>br</strong> />

exportação atingiu a mais de quinhentos mil cruza<strong>do</strong>s anuais para a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.<<strong>br</strong> />

Outra informação valiosa foram os apontamentos relativos à “condução das boiadas <strong>do</strong> sertão <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, preço<<strong>br</strong> />

ordinário <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> que se mata e <strong>do</strong> que vai para as fá<strong>br</strong>icas”. Nada mais elucidativo, freqüentemente, para o<<strong>br</strong> />

estu<strong>do</strong> da civilização <strong>do</strong> que estes caminhos <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> num país <strong>com</strong>o o nosso, tão recente ainda. A<<strong>br</strong> />

observação destas vias penetra<strong>do</strong>ras, nascidas da pecuária, tem o mais eleva<strong>do</strong> significa<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Encerran<strong>do</strong> o seu trabalho faz Antonil o resumo “de tu<strong>do</strong> o que vai ordinariamente cada ano <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> para<<strong>br</strong> />

Portugal e <strong>do</strong> seu valor”, discriminan<strong>do</strong> a valia das diversas grandes verbas, açúcar, tabaco, ouro, couros e<<strong>br</strong> />

pau-<strong>br</strong>asil, num total de 3.743:992$800, quase nove e meio milhões de cruza<strong>do</strong>s. Guardadas as proporções e<<strong>br</strong> />

levan<strong>do</strong>-se em conta a capacidade de aquisição da moeda, então e agora, e <strong>com</strong>putan<strong>do</strong>-se a população <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

país num milhão de civiliza<strong>do</strong>s, talvez, era a exportação <strong>br</strong>asileira, per capita, muito mais elevada que hoje. E<<strong>br</strong> />

realmente avultava, merecen<strong>do</strong> os justos reparos <strong>do</strong> autor: ”não deixará de causar maior admiração”, expende<<strong>br</strong> />

ele.<<strong>br</strong> />

Quanto às principais rendas <strong>do</strong> erário régio também as discrimina, mostran<strong>do</strong> quanto se avolumavam e cada<<strong>br</strong> />

vez\ mais os diversos contratos <strong>do</strong>s dízimos reais, <strong>do</strong>s vinhos, <strong>do</strong> sal, das aguardentes da terra, o rendimento<<strong>br</strong> />

da Casa da Moeda, os direitos so<strong>br</strong>e os negros, as fazendas, etc.<<strong>br</strong> />

“Bem se vê a utilidade que resulta continuamente <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> à fazenda real, aos portos e reinos de<<strong>br</strong> />

Portugal, <strong>com</strong>entava ele, e também às nações estrangeiras, que <strong>com</strong> toda a indústria procuram aproveitar-se<<strong>br</strong> />

de tu<strong>do</strong> o que vai deste esta<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Nada mais justo pois, conclui, <strong>do</strong> que se favoreça o <strong>Brasil</strong> por ser de tanta utilidade ao Reino de Portugal”. Se<<strong>br</strong> />

tanto pagava, precisava alguma retribuição, sob pena de ofensa aos mais elementares sentimentos humanos.<<strong>br</strong> />

Era preciso dar aos filhos da terra alguma cousa em sua própria terra, nos cargos civis e eclesiásticos,<<strong>br</strong> />

distribuir-lhes melhor e mais pronta justiça, provê-los <strong>do</strong>s socorros espirituais, “tão esmoleres que eram <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

os po<strong>br</strong>es e tão liberais para o Culto Divino”. Por esta série de demonstrações de um espírito sumamente<<strong>br</strong> />

propenso à eqüidade termina Antonil o seu livro.<<strong>br</strong> />

IV<<strong>br</strong> />

As licenças para a impressão da <strong>Cultura</strong>. Permissão da censura. Confisco da edição por expressa<<strong>br</strong> />

determinação régia. Olvi<strong>do</strong> em que cai o livro. Frei Veloso imprime-lhe a primeira parte. Diogo<<strong>br</strong> />

Or<strong>do</strong>nhes e sua esclarecida bibliografia. Reimpressão da <strong>Cultura</strong>, em 1837, por instigação<<strong>br</strong> />

de José Silvestre Rebelo.<<strong>br</strong> />

Não era esta o<strong>br</strong>a, porém, cousa que pudesse cair em graça ante a tacanhez da administração colonial, nem<<strong>br</strong> />

ante o sistema político de segregação segui<strong>do</strong> pelas potências iberas em relação às suas possessões<<strong>br</strong> />

americanas.<<strong>br</strong> />

Impressa em Lisboa, <strong>com</strong> as licenças necessárias, no ano de 1711, na oficina real Deslandeana, imagine-se o<<strong>br</strong> />

escândalo produzi<strong>do</strong> nas altas esferas da Corte por se verem proclama<strong>do</strong>s em letra e forma, em português<<strong>br</strong> />

corrente e ameno, as exigências <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>!<<strong>br</strong> />

E no entanto nada achara o Santo Ofício a dizer <strong>do</strong> livro! Podia-se estampar <strong>com</strong> letras de ouro, dele chegara<<strong>br</strong> />

arroubadamente a avançar Fr. Paulo de S. Boaventura, no seu parecer de 8 de novem<strong>br</strong>o de 1710, reforça<strong>do</strong>, a

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