26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

encaixa o açúcar, depois de purga<strong>do</strong>. E sua o<strong>br</strong>igação é mandar tirar o açúcar das formas, estan<strong>do</strong> já purga<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

e enxuto, em dias claros e de sol; assistir quan<strong>do</strong> se mascava e quan<strong>do</strong> se beneficia no balcão de secar,<<strong>br</strong> />

partin<strong>do</strong>-o, que<strong>br</strong>an<strong>do</strong>-o <strong>com</strong>o se dirá em seu lugar. Ele é que pesa o açúcar e que o reparte <strong>com</strong> fidelidade<<strong>br</strong> />

entre os lavra<strong>do</strong>res e o senhor <strong>do</strong> engenho; e tira o dízimo que se deve a Deus e a vintena ou quinto que<<strong>br</strong> />

pagam os que lavram em terras <strong>do</strong> engenho, conforme o concerto feito nos arrendamentos e o estilo ordinário<<strong>br</strong> />

da terra, o qual em vários lugares é diverso; e tu<strong>do</strong> assenta, para dar conta exatamente de tu<strong>do</strong>. A ele também<<strong>br</strong> />

pertence levantar as caixas e mandá-las barrear nos cantos, encaixar e mandar pilar o açúcar e, finalmente,<<strong>br</strong> />

pregar e marcar as caixas e guardar o açúcar que sobejou para seus <strong>do</strong>nos em lugar seguro e não úmi<strong>do</strong>, e os<<strong>br</strong> />

instrumentos de que usa. Entrega as caixas, quan<strong>do</strong> se hão de embarcar, <strong>com</strong> ordem de quem as recada ou<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o <strong>do</strong>no delas, ou porque as alcançou por justiça, <strong>com</strong>o muitas vezes acontece, fazen<strong>do</strong> os acre<strong>do</strong>res<<strong>br</strong> />

penhora <strong>do</strong> açúcar <strong>do</strong>s deve<strong>do</strong>res, antes que saia <strong>do</strong> engenho; e de tu<strong>do</strong> pedirá recibo e clareza, para poder<<strong>br</strong> />

conta de si a quem lha pedir.<<strong>br</strong> />

A soldada <strong>do</strong> caixeiro nos engenhos maiores é de quarenta mil réis; e se feitoriza alguma parte <strong>do</strong> dia<<strong>br</strong> />

ou de noite, dão-se-lhe cinqüenta mil réis;nos menores, dão trinta mil.<<strong>br</strong> />

IX<<strong>br</strong> />

Como se há de haver o senhor <strong>do</strong> engenho <strong>com</strong> seus escravos.<<strong>br</strong> />

OS ESCRAVOS são as mãos e os pés <strong>do</strong> senhor <strong>do</strong> engenho, porque sem eles no <strong>Brasil</strong> não é possível<<strong>br</strong> />

fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>com</strong>o se há <strong>com</strong> eles, depende têlos<<strong>br</strong> />

bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário <strong>com</strong>prar cada ano algumas peças e reparti-las pelos<<strong>br</strong> />

parti<strong>do</strong>s, roças, serrarias e barcas. E porque <strong>com</strong>umente são de nações diversas, e uns mais boçais que outros<<strong>br</strong> />

e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição <strong>com</strong> reparo e escolha, e não à cegas. Os que vêm para<<strong>br</strong> />

o <strong>Brasil</strong> são ardas, minas, congos, de São Tomé, de Angola, de Cabo Verde e alguns de Moçambique, que<<strong>br</strong> />

vêm nas naus das Índia. Os ardas e os minas são robustos. Os de Cabo Verde e de São Tomé são mais fracos.<<strong>br</strong> />

Os de Angola, cria<strong>do</strong>s em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes já<<strong>br</strong> />

nomeadas. Entre os congos, há também alguns bastantes industriosos e bons não somente para o serviço da<<strong>br</strong> />

cana, mas para as oficinas e para o meneio da casa.<<strong>br</strong> />

Uns chegam ao <strong>Brasil</strong> muito rudes e muito fecha<strong>do</strong>s e assim continuam por toda a vida. Outros, em<<strong>br</strong> />

poucos anos saem ladinos e espertos, assim para aprenderem a <strong>do</strong>utrina cristã, <strong>com</strong>o para buscarem mo<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

passar a vida e para se lhes en<strong>com</strong>endar um barco, para levarem reca<strong>do</strong>s e fazerem qualquer diligência das<<strong>br</strong> />

que costumam ordinariamente ocorrer. As mulheres usam de fouce e de enxada, <strong>com</strong>o os homens; porém, nos<<strong>br</strong> />

matos, somente os escravos usam de macha<strong>do</strong>. Dos ladinos, se faz escolha para caldeireiros, carapinas,<<strong>br</strong> />

calafates, tacheiros, barqueiros e marinheiros, porque estas ocupações querem maior advertência. Os que<<strong>br</strong> />

desde novatos se meteram em alguma fazenda, não é bem que se tirem dela contra sua vontade, porque<<strong>br</strong> />

facilmente se amofinam e morrem. Os que nasceram no <strong>Brasil</strong>, ou se criaram desde pequenos em casa <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ancos, afeiçoan<strong>do</strong>-se a seus senhores, dão boa conta de si; e levan<strong>do</strong> bom cativeiro, qualquer deles vale por<<strong>br</strong> />

quatro boçais.<<strong>br</strong> />

Melhores ainda são, para qualquer ofício, os mulatos; porém, muitos deles, usan<strong>do</strong> mal <strong>do</strong> favor <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

senhores, são soberbos e viciosos, e prezam-se de valentes, aparelha<strong>do</strong>s para qualquer desaforo. E,contu<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

eles e elas da mesma cor, ordinariamente levam no <strong>Brasil</strong> a melhor sorte; porque, <strong>com</strong> aquela parte de sangue<<strong>br</strong> />

de <strong>br</strong>ancos que têm nas veias e,talvez, <strong>do</strong>s seus mesmo senhores, os enfeitiçam de tal maneira, que alguns<<strong>br</strong> />

tu<strong>do</strong> lhes sofrem, tu<strong>do</strong> lhes per<strong>do</strong>am; e parece que se não atrevem a repreendê-los: antes,, to<strong>do</strong>s os mimos são<<strong>br</strong> />

seus. E não é fácil cousa decidir se nesta parte são mais remissos os senhores ou as senhoras, pois não falta<<strong>br</strong> />

entre eles e elas quem se deixe governar de mulatos, que não são os melhores, para que se verifique o<<strong>br</strong> />

provérbio que diz: que o <strong>Brasil</strong> é o inferno <strong>do</strong>s negros, purgatório <strong>do</strong>s <strong>br</strong>ancos e paraíso <strong>do</strong>s mulatos e das<<strong>br</strong> />

mulatas; salvo quan<strong>do</strong>, por alguma desconfiança ou ciúme o amor se muda em ódio e sai arma<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

gênero de crueldade e rigor. Bom é valer-se de suas habilidades quan<strong>do</strong> quiserem usar bem delas, <strong>com</strong>o assim<<strong>br</strong> />

o fazem alguns; porém não se lhes há de dar tanto a mão que peguem no <strong>br</strong>aço, e de escravos se façam<<strong>br</strong> />

senhores. Forrar mulatas desinquietas é perdição manifesta, porque o dinheiro que dão para se livrarem, raras<<strong>br</strong> />

vezes sai de outras minas que <strong>do</strong>s seus mesmo corpos, <strong>com</strong> repeti<strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s; e, depois de forras, continuam<<strong>br</strong> />

a ser ruína de muitos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!