Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br
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uma mulata de mau trato por <strong>do</strong><strong>br</strong>a<strong>do</strong> preço, para multiplicar <strong>com</strong> ela contínuos e escandalosos peca<strong>do</strong>s. Os<<strong>br</strong> />
vadios que vão às minas para tirar ouro não <strong>do</strong>s ribeiros, mas <strong>do</strong>s canu<strong>do</strong>s em que o ajuntam e guardam os<<strong>br</strong> />
que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, fican<strong>do</strong> estes crimes<<strong>br</strong> />
sem castigo, porque nas minas a justiça humana não teve ainda tribunal e o respeito de que em outras partes<<strong>br</strong> />
goza, aonde há ministros de suposição, assisti<strong>do</strong>s de numeroso e seguro presídio, e só agora poderá esperar-se<<strong>br</strong> />
algum remédio, in<strong>do</strong> lá governa<strong>do</strong>r e ministros. E até os bispos e os prela<strong>do</strong>s de algumas religiões sentem<<strong>br</strong> />
sumamente o não se fazer conta alguma das censuras para reduzir aos seus bispa<strong>do</strong>s e conventos não poucos<<strong>br</strong> />
clérigos e religiosos, que escandalosamente por lá andam, ou apóstatas , ou fugitivos. O irem, também, às<<strong>br</strong> />
minas os melhores gêneros de tu<strong>do</strong> o que se pode desejar, foi causa que crescessem de tal sorte os preços de<<strong>br</strong> />
tu<strong>do</strong> o que se vende, que os senhores de engenhos e os lavra<strong>do</strong>res se achem grandemente empenha<strong>do</strong>s e que<<strong>br</strong> />
por falta de negros não possam tratar <strong>do</strong> açúcar nem <strong>do</strong> tabaco, <strong>com</strong>o faziam folgadamente nos tempos<<strong>br</strong> />
passa<strong>do</strong>s, que eram as verdadeiras minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e de Portugal. E o pior é que a maior parte <strong>do</strong> ouro que se<<strong>br</strong> />
tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas<<strong>br</strong> />
cidades <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros <strong>br</strong>incos, <strong>do</strong>s quais se vêem hoje<<strong>br</strong> />
carregadas as mulatas de mau viver e as negras, muito mais que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não<<strong>br</strong> />
confesse haver Deus permiti<strong>do</strong> que se descu<strong>br</strong>a nas minas tanto ouro para castigar <strong>com</strong> ele ao <strong>Brasil</strong>, assim<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> está castigan<strong>do</strong> no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos europeus <strong>com</strong> o ferro.<<strong>br</strong> />
Quarta Parte<<strong>br</strong> />
<strong>Cultura</strong> e Opulência <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> pela abundância <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e courama e outros contratos reais que se<<strong>br</strong> />
rematam nesta conquista<<strong>br</strong> />
I<<strong>br</strong> />
Da grande extensão de terras para pasto, cheias de ga<strong>do</strong>, que há no <strong>Brasil</strong>.<<strong>br</strong> />
ESTENDE-SE O SERTÃO DA BAHIA até a barra <strong>do</strong> rio de São Francisco, oitenta légua por costa; e<<strong>br</strong> />
in<strong>do</strong> para o rio acima, até a barra que chamam de Água Grande, fica distante a Bahia da dita terra cento e<<strong>br</strong> />
quinze léguas; de Centocê, cento e trinta léguas; de Rodelas por dentro, oitenta léguas; das Jacobinas,<<strong>br</strong> />
noventa; e <strong>do</strong> Tucano, cinqüenta. E porque as fazendas e os currais <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> se situam aonde há largueza de<<strong>br</strong> />
campo, e água sempre manante de rios ou lagoas, por isso os currais da parte da Bahia estão postos na borda<<strong>br</strong> />
<strong>do</strong> rio de São Francisco, na <strong>do</strong> rio das Velhas, na <strong>do</strong> rio das Rãs, na <strong>do</strong> rio Verde, na <strong>do</strong> rio Para-mirim, na <strong>do</strong><<strong>br</strong> />
rio Jacuípe, na <strong>do</strong> rio Ipojuca, na <strong>do</strong> rio Inhambuque, na <strong>do</strong> rio Itapicuru, na <strong>do</strong> rio Real, na <strong>do</strong> rio Vazabarris,<<strong>br</strong> />
na <strong>do</strong> rio Sergipe e de outros rios, em os quais, por informação tomada de vários que correram este<<strong>br</strong> />
sertão, estão atualmente mais de quinhentos currais, e, só na borda aquém <strong>do</strong> rio de São Francisco, cento e<<strong>br</strong> />
seis. E na outra borda da parte de Pernambuco, é certo que são muito mais. E não somente de todas estas<<strong>br</strong> />
partes e rios já nomea<strong>do</strong>s vêm boiadas para a cidade e Recôncavo da Bahia, e para as fá<strong>br</strong>icas <strong>do</strong>s engenhos,<<strong>br</strong> />
mas também <strong>do</strong> rio Iguaçu, <strong>do</strong> rio Carainhaém, <strong>do</strong> rio Corrente, <strong>do</strong> rio Guaraíra, e <strong>do</strong> rio Piauí Grande, por<<strong>br</strong> />
ficarem mais perto, vin<strong>do</strong> caminho direito à Bahia, <strong>do</strong> que in<strong>do</strong> por voltas a Pernambuco.<<strong>br</strong> />
E, posto que sejam muitos os currais da parte da Bahia, chegam a maior número os de Pernambuco, cujo<<strong>br</strong> />
sertão se estende pela costa desde a cidade de Olinda até o rio de São Francisco oitenta léguas; e continuan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />
da barra <strong>do</strong> rio de São Francisco até a barra <strong>do</strong> rio Iguaçu, contam-se duzentas léguas. De Olinda para oeste,<<strong>br</strong> />
até o Piauí, freguesia de Nossa Senhora da Vitória, cento e sessenta léguas; e pela parte <strong>do</strong> norte estende-se de<<strong>br</strong> />
Olinda até o Ceará-mirim, oitenta léguas, e daí até o Açu, trinta e cinco; e até o Ceará Grande, oitenta; e, por<<strong>br</strong> />
todas, vem a estender-se desde Olinda até esta parte quase duzentas léguas.<<strong>br</strong> />
Os rios de Pernambuco, que por terem junto de si pastos <strong>com</strong>petentes, estão povoa<strong>do</strong>s <strong>com</strong> ga<strong>do</strong> (fora o rio<<strong>br</strong> />
Preto, o rio Guaraíra, o rio Iguaçu, o rio Corrente, o rio Guariguaê, a lagoa Alegre e o rio de São Francisco da<<strong>br</strong> />
banda <strong>do</strong> Norte) são o rio Cabaços, o rio de São Miguel, as dias Alagoas <strong>com</strong> o rio <strong>do</strong> Porto <strong>do</strong> Calvo, o da<<strong>br</strong> />
Paraíba, o <strong>do</strong>s Cariris, o <strong>do</strong> Açu, o <strong>do</strong> Apodi, o <strong>do</strong> Jaguaribe, o das Piranhas, o Pajeú, o Jacaré, o Canindé, o<<strong>br</strong> />
de Parnaíba, o das Pedras, o <strong>do</strong>s Camarões e o Piauí.<<strong>br</strong> />
Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de to<strong>do</strong>s estes vão boiadas para o Recife e Olinda e suas