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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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GASTAM COMUMENTE OS PAULISTAS, desde a vila de São Paulo até as minas gerais <strong>do</strong>s Cataguás,<<strong>br</strong> />

pelo menos <strong>do</strong>us meses, porque não marcham de sol a sol, mas até o meio-dia, e quan<strong>do</strong> muito até uma ou<<strong>br</strong> />

duas horas da tarde, assim para se arrancharem, <strong>com</strong>o para terem tempo de descansar e de buscar alguma caça<<strong>br</strong> />

ou peixe, aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento. E, desta sorte, aturam <strong>com</strong> tão grande<<strong>br</strong> />

trabalho.<<strong>br</strong> />

O roteiro <strong>do</strong> seu caminho, desde a vila de São Paulo até a serra de Itatiaia, aonde se divide em <strong>do</strong>us, um para<<strong>br</strong> />

as minas <strong>do</strong> Caeté ou ribeirão de Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo e <strong>do</strong> Ouro Preto e outro para as minas <strong>do</strong> rio das<<strong>br</strong> />

Velhas, é o seguinte, em que se apontam os pousos e paragens <strong>do</strong> dito caminho, <strong>com</strong> as distâncias que tem e<<strong>br</strong> />

os dias que pouco mais ou menos se gastam de uma estalagem para outra, em que os mineiros pousam e, se é<<strong>br</strong> />

necessário, descanso e se refazem <strong>do</strong> que hão mister e hoje se acha em tais paragens.<<strong>br</strong> />

No primeiro dia, sain<strong>do</strong> da vila de São Paulo, vão ordinariamente a pousar em Nossa Senhora da Penha, por<<strong>br</strong> />

ser (<strong>com</strong>o eles dizem) o primeiro arranco de casa, e não são mais que duas léguas.<<strong>br</strong> />

Daí, vão à aldeia de Itaquequecetuba, caminho de um dia.<<strong>br</strong> />

Gastam, da dita aldeia, até a vila de Moji, <strong>do</strong>us dias.<<strong>br</strong> />

De Moji vão às Laranjeiras, caminhan<strong>do</strong> quatro ou cinco dias até o jantar.<<strong>br</strong> />

Das Laranjeiras até a vila de Jacareí, um dia, até as três horas.<<strong>br</strong> />

De Jacareí até a vila de Taubaté, <strong>do</strong>us dias até o jantar.<<strong>br</strong> />

De Taubaté a Pindamonhagaba, freguesia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio.<<strong>br</strong> />

De Pindamonhagaba até a vila de Guaratinguetá, cinco ou seis dias até o jantar.<<strong>br</strong> />

De Guaratinguetá até o porto de Guaipacaré, aonde ficam as roças de Bento Rodrigues, <strong>do</strong>us dias até o jantar.<<strong>br</strong> />

Destas roças até o pé da serra afamada de Amantiqueira, pelas cinco serras muito altas, que parecem os<<strong>br</strong> />

primeiros muros que o ouro tem no caminho para que não cheguem lá os mineiros, gastam-se três dias até o<<strong>br</strong> />

jantar.<<strong>br</strong> />

Daqui <strong>com</strong>eçam a passar o ribeiro que chamam Passavinte, porque vinte vezes se passa e se sobe às serras<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>editas, para passar as quais se descarregam as cavalgaduras, pelos grandes riscos <strong>do</strong>s despenhadeiros que<<strong>br</strong> />

se encontram, e assim gastam <strong>do</strong>us dias em passar <strong>com</strong> grande dificuldade estas serras, e daí se desco<strong>br</strong>em<<strong>br</strong> />

muitas e aprazíveis árvores de pinhões, que a seu tempo dão abundância deles para o sustento <strong>do</strong>s mineiros,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o também porcos monteses, araras e papagaios.<<strong>br</strong> />

Logo, passan<strong>do</strong> outro ribeiro, que chamam Passatrinta, porque trinta e mais vezes se passa, se vai aos<<strong>br</strong> />

Pinheirinhos, lugar assim chama<strong>do</strong> por ser o princípio deles; e aqui há roças de milho, abóboras e feijão, que<<strong>br</strong> />

são as lavouras feitas pelos desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>res das minas e por outros, que por aí querem voltar. E só disto<<strong>br</strong> />

constam aquelas e outras roças nos caminhos e paragens das minas, e, quan<strong>do</strong> muito, têm de mais algumas<<strong>br</strong> />

batatas. Porém. Em algumas delas, hoje acha-se criação de porcos <strong>do</strong>mésticos, galinhas e frangões, que<<strong>br</strong> />

vendem por alto preço aos passageiros, levantan<strong>do</strong>-o tanto mais quanto é maior a necessidade <strong>do</strong>s que<<strong>br</strong> />

passam. E daí vem o dizerem que to<strong>do</strong> o que passou a serra da Amantiqueira aí deixou dependurada ou<<strong>br</strong> />

sepultada a consciência.<<strong>br</strong> />

Dos Pinheirinhos se vai à estalagem <strong>do</strong> Rio Verde, em oito dias, pouco mais ou menos, até o jantar, e esta<<strong>br</strong> />

estalagem tem muitas roças e vendas de cousas <strong>com</strong>estíveis, sem lhes faltar o regalo de <strong>do</strong>ces.<<strong>br</strong> />

Daí, caminhan<strong>do</strong> três ou quatro dias, pouco mais ou menos, até o jantar, se vai na afamada Boa Vista, a quem<<strong>br</strong> />

bem se deu este nome, pelo que se desco<strong>br</strong>e daquele monte, que parece um mun<strong>do</strong> novo, muito alegre: tu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

campo bem estendi<strong>do</strong> e to<strong>do</strong> rega<strong>do</strong> de ribeirões, uns maiores que outros, e to<strong>do</strong>s <strong>com</strong> seu mato, que vai<<strong>br</strong> />

fazen<strong>do</strong> som<strong>br</strong>a, <strong>com</strong> muito palmito que se <strong>com</strong>e e mel de pau, medicinal e gostoso. Tem este campo seus<<strong>br</strong> />

altos e baixos, porém modera<strong>do</strong>s, e por ele se caminha <strong>com</strong> alegria, porque têm os olhos que ver e contemplar<<strong>br</strong> />

na prospectiva <strong>do</strong> monte Caxambu, que se levanta às nuvens <strong>com</strong> admirável altura.<<strong>br</strong> />

Da Boa Vista se vai à estalagem chamada Ubaí, aonde também há roças, e serão oito dias de caminho<<strong>br</strong> />

modera<strong>do</strong> até o jantar.<<strong>br</strong> />

De Ubaí, em três ou quatro dias, vão ao Ingaí.<<strong>br</strong> />

Do Ingaí, em quatro ou cinco dias, se vai ao Rio Grande, o qual, quan<strong>do</strong> está cheio, causa me<strong>do</strong> pela violência<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> que corre, mas tem muito peixe e porto <strong>com</strong> canoas e quem quer passar paga três vinténs e tem também<<strong>br</strong> />

perto suas roças.<<strong>br</strong> />

Do Rio Grande se vai em cinco ou seis dias ao rio das Mortes, assim chama<strong>do</strong> pelas que nele se fizeram, e<<strong>br</strong> />

esta é a principal estalagem aonde os passageiros se refazem, por chegarem já muito faltos de mantimentos. E,<<strong>br</strong> />

neste rio, e nos ribeiros e córregos que nele dão, há muito ouro e muito se tem tira<strong>do</strong> e tira, e o lugar é muito

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