Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

VII<br />
Da abundância de mantimentos, e de todo o usual que hoje há nas minas, e do pouco caso que se faz<br />
dos preços extraordinariamente altos.<br />
SENDO A TERRA QUE DÁ OURO esterilíssima de tudo o que se há mister para a vida humana, e não<br />
menos estéril a maior parte dos caminhos das minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os<br />
mineiros por falta de mantimentos, achando-se não poucos mortos com uma espiga de milho na mão, sem<br />
terem outro sustento. Porém, tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se<br />
pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o<br />
melhor que se chega nos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos, como de regalo e de<br />
pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar. E, a este respeito, de<br />
todas as partes do Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande, mas<br />
excessivo. E,não havendo nas minas outra moeda mais que ouro em pó, o menos que se pedia e dava por<br />
qualquer cousa eram oitavas. Daqui se seguiu mandarem-se às minas gerais as boiadas de Paranaguá, e às do<br />
rio das Velhas as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o mais que os moradores imaginaram poderia apetecerse<br />
de qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventícias e próprias. E, ainda que hoje os preços<br />
sejam mais moderados, contudo porei aqui um rol, feito sinceramente por quem assistiu nas gerais três anos,<br />
dos preços das cousas que por comum assento lá se vendiam no ano 1703, repartindo-o em três ordens, a<br />
saber: os preços que pertencem às cousas comestíveis; o do vestuário e armas; e os dos escravos e<br />
cavalgaduras, que são os seguintes:<br />
Preços das cousas comestíveis<br />
Por uma rês, oitenta oitavas.<br />
Por um boi, cem oitavas.<br />
Por uma mão de sessenta espigas de milho, trinta oitavas.<br />
Por um alqueire de farinha de mandioca, quarenta oitavas.<br />
Por seis bolos de farinha de milho, três oitavas.<br />
Por um paio, três oitavas.<br />
Por um presunto de oito libras, dezasseis oitavas.<br />
Por um pastel pequeno, uma oitava.<br />
Por uma libra de manteiga de vaca, duas oitavas.<br />
Por uma galinha, três ou quatro oitavas.<br />
Por seis libras de carne de vaca, uma oitava.<br />
Por um queijo da terra, três ou quatro oitavas, conforme o peso.<br />
Por um queijo flamengo, dezasseis oitavas.<br />
Por um queijo de Alentejo, três e quatro oitavas.<br />
Por uma boceta de marmelada, três oitavas.<br />
Por um frasco de confeitos de quatro libras, dezasseis oitavas.<br />
Por uma cara de açúcar de uma arroba, 32 oitavas.<br />
Por uma libra de cidrão, três oitavas.<br />
Por um barrilote de água ardente, carga de um escravo, cem oitavas.<br />
Por um barrilote de vinho, carga de um escravo, duzentas oitavas.<br />
Por um barrilote de azeite, duas libras.<br />
Por quatro oitavas de tabaco em pó com cheiro, uma oitava.<br />
Por seis oitavas de tabaco sem cheiro, uma oitava.<br />
Por uma vara de tabaco em corda, três oitavas.<br />
Preço das cousas que pertencem ao vestuário, e armas<br />
Por uma casaca de baeta ordinária, doze oitavas.<br />
Por uma casaca de pano fino, vinte oitavas.<br />
Por uma veste de seda, dezasseis oitavas.<br />
Por uns calções de pano fino, nove oitavas.