26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Deste curral até o Borba, vinte e sete léguas. E são, por todas, cento e oitenta e seis léguas.<<strong>br</strong> />

Este caminho da Bahia para as minas é muito melhor <strong>do</strong> que o <strong>do</strong> Rio de Janeiro e o da vila de São Paulo,<<strong>br</strong> />

porque posto que mais <strong>com</strong>pri<strong>do</strong>, é menos dificultoso, por ser mais aberto para as boiadas, mais abundante<<strong>br</strong> />

para o sustento e mais a<strong>com</strong>oda<strong>do</strong> para as cavalgaduras e para as cargas.<<strong>br</strong> />

XIV<<strong>br</strong> />

Mo<strong>do</strong> de tirar o ouro das minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e ribeiro delas, observa<strong>do</strong> de quem nelas assistiu <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

governa<strong>do</strong>r Artur de Sá.<<strong>br</strong> />

POREI AQUI A RELAÇÃO que o mesmo autor me man<strong>do</strong>u e é a seguinte. Conforme as disposições que vi<<strong>br</strong> />

pessoalmente nas minas de ouro de São Paulo, assim nas lavras de água <strong>do</strong>s ribeiros, <strong>com</strong>o nas da terra<<strong>br</strong> />

contígua a eles, direi <strong>br</strong>evemente o que pode bastar, para que os curiosos indaga<strong>do</strong>res da natureza mais<<strong>br</strong> />

facilmente conheçam em suas experiências que terra e que ribeiros possam ter ou não ter ouro.<<strong>br</strong> />

Primeiramente, em todas as minas que vi e em que assisti, notei que as terras são monstruosas, <strong>com</strong> cerros e<<strong>br</strong> />

montes que vão às nuvens, por cujos centros corren<strong>do</strong> ribeiros de bastante água, ou córregos mais pequenos,<<strong>br</strong> />

cerca<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s de arvore<strong>do</strong> grande e pequeno, em to<strong>do</strong>s estes ribeiros pinta ouro <strong>com</strong> mais ou menos<<strong>br</strong> />

abundância. Os sinais por onde se conhecerá se o têm, são não terem áreas <strong>br</strong>ancas à borda da água, senão uns<<strong>br</strong> />

seixos miú<strong>do</strong>s e pedraria da mesma casta na margem de algumas pontas <strong>do</strong>s ribeiros, e esta mesma formação<<strong>br</strong> />

de pedras leva por debaixo da terra. E <strong>com</strong>eçan<strong>do</strong> pela lavra desta, se o ribeiro depois de examina<strong>do</strong> <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

socovão faiscou ouro, é sinal infalível que o tem também a terra, na qual, dan<strong>do</strong> ou a<strong>br</strong>in<strong>do</strong> catas e cavan<strong>do</strong>se<<strong>br</strong> />

primeiro em altura de dez, vinte ou trinta palmos, em se acaban<strong>do</strong> de tirar esta terra, que de ordinário é<<strong>br</strong> />

vermelha, acha-se logo um pedregulho, a que chamam desmonte, e vem a ser seixos miú<strong>do</strong>s <strong>com</strong> areia, uni<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

de tal sorte <strong>com</strong> a terra, que mais parece o<strong>br</strong>a artificial <strong>do</strong> que o<strong>br</strong>a da natureza; ainda que também se acha<<strong>br</strong> />

algum desmonte deste solto e não uni<strong>do</strong>, e <strong>com</strong> mais ou menos altura. Esse desmonte rompe-se <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

alavancas, e se por acaso tem ouro, logo ele <strong>com</strong>eça a pintar, ou (<strong>com</strong>o dizem) a faiscar algumas faíscas de<<strong>br</strong> />

ouro na bateia, levan<strong>do</strong> o dito desmonte. Mas, ordinariamente, se pintou bem o desmonte, é sinal que a piçarra<<strong>br</strong> />

terá pouco ou nenhum ouro, e digo ordinariamente, porque não há regra sem exceção.<<strong>br</strong> />

Tira<strong>do</strong> fora o desmonte, que às vezes tem a altura de mais de <strong>br</strong>aça, segue-se o cascalho, e vem a ser uns<<strong>br</strong> />

seixos maiores e alguns de bom tamanho, que mal se pode virar, e tão queima<strong>do</strong>s que parecem de chaminé. E,<<strong>br</strong> />

tira<strong>do</strong> este cascalho, aparece a piçarra, ou piçarrão, que é duro e dá pouco, e este é um barro amarelo ou quase<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>anco, muito macio, e o <strong>br</strong>anco é o melhor, e algum deste se acha que parece talco ou malacacheta, a qual<<strong>br</strong> />

serve <strong>com</strong>o de cama aonde está o ouro. E, toman<strong>do</strong> <strong>com</strong> almocafres nas bateias esta piçarra, e também a terra<<strong>br</strong> />

que está entre o cascalho se vai lavar ao rio, e, botan<strong>do</strong> fora a terra <strong>com</strong> a mesma bateia, andan<strong>do</strong> <strong>com</strong> ela à<<strong>br</strong> />

roda dentro da água pouco a pouco, o ouro (se o tem) vai fican<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> da bateia até que, lavada toda a<<strong>br</strong> />

bateia da terra, pelo ouro que fica, se vê de que pinta é a terra.<<strong>br</strong> />

Alguma terra há que toda pinta, outra só em partes e cada passo se está ven<strong>do</strong> que as catas em uma parte<<strong>br</strong> />

pintam bem e em outras pouco ou nada. Já se a terra tem veeiro, que é o mesmo que um caminho estreito e<<strong>br</strong> />

segui<strong>do</strong>, por onde vai corren<strong>do</strong> o ouro, certamente não pinta pelas mais partes da cata e se vai então seguin<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

o veeiro atrás <strong>do</strong> ouro, e estas de ordinário são as melhores lavras, quan<strong>do</strong> o ouro pega em veeiros onde se<<strong>br</strong> />

encontram <strong>com</strong> grandeza e é sinal que toda a data da terra, para aonde arremete o veeiro, tem ouro. As catas<<strong>br</strong> />

ordinárias, que se dão em terra, são de quinze, vinte e mais palmos em quadra, e podem ser maiores ou<<strong>br</strong> />

menores, conforme dá lugar a terra. E se junto <strong>do</strong>s ribeiros a terra faz algum tabuleiro pequeno (porque<<strong>br</strong> />

ordinariamente os grandes não provam bem) esta é a melhor paragem para se lavrar. Posto que o <strong>com</strong>um <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

ouro é estar ao livel da água, vi muitas lavras (e não as piores) que não guardam esta regra, <strong>com</strong> todas as<<strong>br</strong> />

disposições que temos dito, de cascalho, etc., mas não é isto ordinário.<<strong>br</strong> />

Até aqui o que toca às lavras da terra junto da água; porém as <strong>do</strong>s ribeiros, se eles são capazes de se lhes<<strong>br</strong> />

poder desviar a água, se lavram divertin<strong>do</strong> esta por uma banda <strong>do</strong> mesmo ribeiro, <strong>com</strong> cerco feito de paus mui<<strong>br</strong> />

direito, deita<strong>do</strong>s uns so<strong>br</strong>e outros <strong>com</strong> estacas bem amarra<strong>do</strong>s, feito em forma de cano por uma e outra parte,<<strong>br</strong> />

para que se possa entupir de terra por dentro, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que aqui se vê:<<strong>br</strong> />

Margens<<strong>br</strong> />

Margens

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!