26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

I<<strong>br</strong> />

Das formas <strong>do</strong> açúcar e sua passagem <strong>do</strong> tendal para a casa de purgar.<<strong>br</strong> />

SÃO ASFORMAS DO AÇÚCAR uns vasos de barro queima<strong>do</strong> na fornalha das telhas, e têm alguma<<strong>br</strong> />

semelhança <strong>com</strong> os sinos, altas três palmos e meio, e proporcionadamente largas, <strong>com</strong> maior circunferência<<strong>br</strong> />

na boca, e mais apertadas no fim, aonde são furadas, para se lavar e purgar o açúcar por este buraco.<<strong>br</strong> />

Vendiam-se por quatro vinténs, salvo se a falta delas e o descui<strong>do</strong> de as procurar a seu tempo lhes<<strong>br</strong> />

acrescentasse o valor.<<strong>br</strong> />

O serem de ruim barro, e mal queimadas, é defeito notável, <strong>com</strong>o também o serem pequenas. As boas<<strong>br</strong> />

são capazes de dar pães de três arrobas e meia. Têm na casa das caldeiras seu tendal, cheio de bagaço de cana<<strong>br</strong> />

que vem da bagaceira, o qual cava<strong>do</strong> <strong>com</strong> um cava<strong>do</strong>r de ferro ou de pau, serve de cama ou cova, para nele se<<strong>br</strong> />

assentarem as formas direitas em duas fileiras iguais; e, <strong>com</strong>o temos dito acima, de cada quatro ou cinco<<strong>br</strong> />

formas consta uma venda. Antes de botar nelas o açúcar, se lhes tapa o buraco que têm no fun<strong>do</strong>, <strong>com</strong> seus<<strong>br</strong> />

tacos de folha de banana, e se asseguram <strong>com</strong> arcos de cipó e cana <strong>br</strong>ava, para que <strong>com</strong> a demasiada<<strong>br</strong> />

quantidade <strong>do</strong> açúcar não arrebentem. Logo se lhes bota o açúcar por têmperas, <strong>com</strong>o já temos dito, o qual no<<strong>br</strong> />

espaço de três dias, endurece diversamente, uns mais, outros menos; e ao que mais se endurece e<<strong>br</strong> />

dificultosamente se que<strong>br</strong>a, chamam açúcar de cara fechada; e ao que facilmente <strong>com</strong> qualquer pancada se<<strong>br</strong> />

que<strong>br</strong>a, chamam açúcar de cara que<strong>br</strong>ada. Metáforas, que também exprimem as diversas naturezas e<<strong>br</strong> />

condições <strong>do</strong>s homens, uns são vidrentos, e outros tão tolerantes. E, de ser bom ou mau açúcar, depende o<<strong>br</strong> />

fazer as vendas de mais ou menos formas. Porque para o bom, que coalha depressa, basta tomar quatro<<strong>br</strong> />

formas; e, para que coalha mais devagar, tomam-se seis, sete e oito formas, para que crie <strong>com</strong> o maior tempo<<strong>br</strong> />

que é necessário para encher todas, mais grão. Daí passa às costas <strong>do</strong>s negros, ou so<strong>br</strong>e paviolas, para a casa<<strong>br</strong> />

de purgar, da qual logo falaremos.<<strong>br</strong> />

Faz um engenho real, de <strong>do</strong>us ternos de tachas, se a cana render bem, cada semana solteira, perto e<<strong>br</strong> />

passante de duzentos pães de açúcar; mas, se não render, apenas dá cento e vinte. E o render pouco nasce ou<<strong>br</strong> />

de ser a cana muito velha, ou por ser muito aguacenta, prova bem clara de serem os extremos, quaisquer que<<strong>br</strong> />

sejam, viciosos.<<strong>br</strong> />

II<<strong>br</strong> />

Da casa de purgar o açúcar nas formas.<<strong>br</strong> />

A CASA DE PURGAR é <strong>com</strong>umente separada <strong>do</strong> edifício <strong>do</strong> engenho, e a melhor de quantas há no<<strong>br</strong> />

Recôncavo da Bahia é, sem dúvida, a <strong>do</strong> engenho <strong>do</strong> Sergipe <strong>do</strong> Conde, fa<strong>br</strong>icada de pedra e cal e emadeirada<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> paus de maçaranduba, e coberta <strong>com</strong> to<strong>do</strong> o asseio de telhas, de <strong>com</strong>primento de quatrocentos e quarenta<<strong>br</strong> />

e seis palmos e oitenta e seis de largura, dividida em três carreiras de andainas, <strong>com</strong> vinte e seis pilares de<<strong>br</strong> />

tijolo no meio, altos quinze palmos e meio, e largos quatro, para sustentarem o teto, que assenta ao re<strong>do</strong>r<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e paredes largas e fortes. Recebe esta casa a luz e ar necessário por cinqüenta e duas janelas, alta oito<<strong>br</strong> />

palmos e largas seis, vinte e três de cada banda, três na fachada <strong>com</strong> sua porta e três na testada. Repartem-se<<strong>br</strong> />

as andainas por quartéis de tábua abertas em re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e pilares de tijolo, altos da terra sete palmos; e leva<<strong>br</strong> />

cada tábua dez destas aberturas, para receber outras tantas formas, de sorte que por todas são capazes de<<strong>br</strong> />

purgar, <strong>com</strong>odamente, no mesmo tempo, até a <strong>do</strong>us mil pães. Debaixo das ditas tábuas assim abertas, há<<strong>br</strong> />

outras tantas tábuas <strong>do</strong> mesmo <strong>com</strong>primento, cavadas à maneira de regos, e inclinadas na parte dianteira, que<<strong>br</strong> />

servem de bicas ou correntes, por onde corre o mel que cai <strong>do</strong>s buracos das formas, em que se purga o açúcar,<<strong>br</strong> />

aos tanques enterra<strong>do</strong>s; e há no fim uma fornalha para o cozer e tornar a fazer dele açúcar; <strong>com</strong> seu tendal,<<strong>br</strong> />

capaz de quarenta formas. Há também na entrada, à mão esquerda da porta, uma casinha de madeira, para<<strong>br</strong> />

nela guardar o açúcar que sobejou ao encaixar, e quantos instrumentos são necessários para barrear, mascavar,<<strong>br</strong> />

secar e encaixar; e o primeiro espaço da casa de purgar, capaz de trezentas caixas, antes de chegar às andainas<<strong>br</strong> />

das formas, serve de caixaria mais resguardada e segura, <strong>com</strong> a porta ao poente, para que, gozan<strong>do</strong> toda a<<strong>br</strong> />

tarde <strong>do</strong> sol, defenda <strong>com</strong> o seu calor ao açúcar <strong>do</strong> maior inimigo que tem, depois de feito e encaixa<strong>do</strong>, que é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!