26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O BARRO, <strong>com</strong> que se purga o açúcar, tira-se <strong>do</strong>s apicus que, <strong>com</strong>o temos dito, são as coroas que faz<<strong>br</strong> />

o mar entre si e a terra firme, e as co<strong>br</strong>e a maré. Vem este em barcos, canoas, ou balsas, que são duas canoas<<strong>br</strong> />

juntas, <strong>com</strong> paus atravessa<strong>do</strong>s, e so<strong>br</strong>e eles tábuas, nas quais se amontoa o barro. Chega<strong>do</strong> ao engenho, põemse<<strong>br</strong> />

em lugar separa<strong>do</strong>; e, daí passa a secar-se dentro da casa das fornalhas, so<strong>br</strong>e um andar de paus segura<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> esteios, que chamam girao, so<strong>br</strong>e o cinzeiro,quan<strong>do</strong> tem seu borralho, que é a cinza misturada <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asas. E, ainda que se seque em quinze dias, contu<strong>do</strong> aí se deixa, toman<strong>do</strong> a seu tempo a quantidade que for<<strong>br</strong> />

necessária para barrear as formas já cheias, <strong>com</strong>o se dirá em seu lugar. Seco, se desfaz <strong>com</strong> macetes, que são<<strong>br</strong> />

paus para pisar, e daí se bota em uma canoa velha, ou cocho grande, de pau, e se vai desfazen<strong>do</strong> <strong>com</strong> água,<<strong>br</strong> />

moven<strong>do</strong>-o e amassan<strong>do</strong>-o <strong>com</strong> seu ro<strong>do</strong> o negro amassa<strong>do</strong>r, que se ocupa neste triste trabalho, pois os outros<<strong>br</strong> />

escravos, que cortam e trazem cana, e os que o<strong>br</strong>am na moenda, nas caldeiras, nas tachas, na casa de purgar e<<strong>br</strong> />

nos balcões, sempre têm em que petiscar, e só este miserável, e os que metem lenha nas fornalhas, passam em<<strong>br</strong> />

seco. E, ainda que depois to<strong>do</strong>s tenham sua parte na repartição da garapa, contu<strong>do</strong>, sentem muito o trabalho<<strong>br</strong> />

sem este limita<strong>do</strong> alívio entre dia. Mas, não faltam parceiros que se <strong>com</strong>padeçam da sua sorte, dan<strong>do</strong>-lhes já<<strong>br</strong> />

uma cana, já um pouco de mel ou açúcar; e quan<strong>do</strong> faltasse nos outros a <strong>com</strong>paixão, não faltaria a eles a<<strong>br</strong> />

indústria, para buscarem seu remédio, tiran<strong>do</strong> <strong>do</strong>nde que quanto podem.<<strong>br</strong> />

O sinal de estar bem amassa<strong>do</strong> o barro, é não ter já godilhões, que são uns torrõezinhos ainda não<<strong>br</strong> />

desfeitos; então está em seu ponto, quan<strong>do</strong>, botam-lhe um pedaço de telha, ou um caco de forma, se sustém na<<strong>br</strong> />

superfície, sem ir ao fun<strong>do</strong>. Do cocho se tira <strong>com</strong> uma cuia, e se bota em tachos de co<strong>br</strong>e, e neles o levam para<<strong>br</strong> />

a casa de purgar, aonde, <strong>com</strong> um reminhol de co<strong>br</strong>e, se tira <strong>do</strong>s tachos e se reparte pelas formas, quan<strong>do</strong> for<<strong>br</strong> />

tempo, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que se dirá mais abaixo.<<strong>br</strong> />

Ter olaria no engenho, uns dizem que escusa maiores gastos, porque sempre no engenho há<<strong>br</strong> />

necessidade de formas, tijolo e telhas. Porém, outros entendem o contrário, porque a fornalha da olaria gasta<<strong>br</strong> />

muita lenha de armar, e muita de caldear, e a caldear há de ser de mangues, os quais, tira<strong>do</strong>s, são a destruição<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> marisco, que é o remédio <strong>do</strong>s negros. E, além disso, a olaria quer serviço de seis, ou sete peças, que melhor<<strong>br</strong> />

se empregam no canavial ou no engenho, quer oleiro <strong>com</strong> soldada,roda e aparelho, e quer apicus, ou barreiro,<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>nde se tire bom barro, e tu<strong>do</strong> isto pede muito gasto, e <strong>com</strong> muito menos se <strong>com</strong>pram as formads e as telhas<<strong>br</strong> />

que são necessárias. O melhor conselho é meter um crioulo em alguma olaria, porque este ganha a ametade <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

que faz, e em um ano chega a fazer três mil formas, das quais o senhor se pode valer <strong>com</strong> pouco dispêndio.<<strong>br</strong> />

Ten<strong>do</strong>, porém, o senhor <strong>do</strong> engenho muita gente, lenha e mangues para mariscar de sobejo, poderá também,<<strong>br</strong> />

ter olaria, e servirá esta oficina para grandeza, utilidade e <strong>com</strong>odidade <strong>do</strong> engenho.<<strong>br</strong> />

V<<strong>br</strong> />

Do mo<strong>do</strong> de purgar o açúcar nas formas, e de to<strong>do</strong> o benefício que se lhe faz na casa<<strong>br</strong> />

de purgar, até se tirar.<<strong>br</strong> />

ENTRANDO AS FORMAS na casa de purgar, se deitam so<strong>br</strong>e as andainas, e se lhes tira o taco que<<strong>br</strong> />

lhes meteram no tendal; e logo <strong>com</strong> um fura<strong>do</strong>r agu<strong>do</strong> de ferro, de <strong>com</strong>primento de <strong>do</strong>us palmos e meio, se<<strong>br</strong> />

furam os pães à força de pancadas, usan<strong>do</strong> para isso um macete; e, fura<strong>do</strong>s, se levantam e endireitam as<<strong>br</strong> />

formas so<strong>br</strong>e as tábuas, que chamam de furos, entran<strong>do</strong> por eles quanto basta para se susterem seguras; e<<strong>br</strong> />

assim se deixam por quinze dias sem barro, <strong>com</strong>eçan<strong>do</strong> logo a purgar, e pingan<strong>do</strong> pelo buraco que têm, o<<strong>br</strong> />

primeiro mel, o qual, recebi<strong>do</strong> debaixo, nas bicas, corre até dar no seu tanque. Este mel é inferior, e dá-se no<<strong>br</strong> />

tempo <strong>do</strong> inverno aos escravos <strong>do</strong> engenho, repartin<strong>do</strong> a cada qual cada semana um tacho, e <strong>do</strong>us a cada<<strong>br</strong> />

casal, que é o melhor mimo e o melhor remédio que têm. Outros, porém, o tornam a cozer, ou o vendem para<<strong>br</strong> />

isso aos que fazem dele açúcar <strong>br</strong>anco bati<strong>do</strong>, ou estilam água ardente.<<strong>br</strong> />

Passa<strong>do</strong>s os quinze dias, daí por diante se pode barrear seguramente, o que se faz deste mo<strong>do</strong>. Cavam<<strong>br</strong> />

primeiro as quatro escravas purgadeiras, <strong>com</strong> cavadeiras de ferro, no meio da cara da forma (que é a parte<<strong>br</strong> />

superior) o açúcar já seco, e logo o tornam a igualar e entaipar muito bem, <strong>com</strong> macetes; botam-lhe, então, o<<strong>br</strong> />

primeiro barro, tiran<strong>do</strong>-o <strong>com</strong> um reminhol <strong>do</strong>s tachos que vieram cheios dele <strong>do</strong> seu cocho, estan<strong>do</strong> já<<strong>br</strong> />

amassa<strong>do</strong> em sua conta, e <strong>com</strong> a palma da mão o estendem so<strong>br</strong>e toda a cara da forma, alto <strong>do</strong>us de<strong>do</strong>s. Ao<<strong>br</strong> />

segun<strong>do</strong> ou terceiro dia, botam em riba <strong>do</strong> mesmo barro meio reminhol, ou uma cuia e meia de água, e para<<strong>br</strong> />

que não caia no barro de pancada, e cain<strong>do</strong> faça covas no açúcar, recebem so<strong>br</strong>e a mão esquerda, chegada ao

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!