26.10.2014 Views

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não costuma fazer bom açúcar, por ser muito aguacenta. Porém, daí por diante, depois de es<strong>br</strong>avejar a terra,<<strong>br</strong> />

ainda que cresça extraordinariamente, é tão boa no rendimento <strong>com</strong>o fermosa na aparência; e destas, às vezes<<strong>br</strong> />

se acham algumas altas sete, oito e nove palmos, e tão bem postas no canavial <strong>com</strong>o os capitães nos exércitos.<<strong>br</strong> />

A melhor cana é a de canu<strong>do</strong> <strong>com</strong>pri<strong>do</strong> e limpo, e as que têm canu<strong>do</strong>s pequenos e Barba<strong>do</strong>s são as<<strong>br</strong> />

piores. Nasce o terem canu<strong>do</strong>s pequenos, ou da seca, ou <strong>do</strong> frio, porque uma e outra cousa as apertam, e o<<strong>br</strong> />

terem barbas procede de lhes faltarem <strong>com</strong> alguma limpa, a seu tempo. No inverno, a erva que se tira, torna<<strong>br</strong> />

logo a nascer, e as limpas mais necessárias são aquelas primeiras que se fazem para que a cana possa crescer e<<strong>br</strong> />

o capim não a afogue, porque, depois de crescidas, vence melhor as ervas menores. E assim vemos que os<<strong>br</strong> />

primeiros vícios são os que botam a perder um bom natural. As canas que se plantam nos outeiros são<<strong>br</strong> />

ordinariamente mais limpas que as que se plantam nas várzeas, porque assim <strong>com</strong>o o correr a água <strong>do</strong> outeiro<<strong>br</strong> />

é causa que se não criem nele tão facilmente outras ervas, assim o ajuntar-se ela na várzea é acuas de se ter<<strong>br</strong> />

esta sempre muito úmida e, conseguintemente, muito disposta para criar de novo o capim.<<strong>br</strong> />

Por isso, em umas terras às vezes não bastam três limpas e em outra o lavra<strong>do</strong>r, <strong>com</strong> a segunda<<strong>br</strong> />

descansa, conforme os tempos mais ou menos chuvosos. Assim <strong>com</strong>o há filhos tão dóceis que <strong>com</strong> a primeira<<strong>br</strong> />

admoestação se emendam e para outros não bastam repeti<strong>do</strong>s castigos.<<strong>br</strong> />

As socas também (que são as raízes das canas cortadas a seu tempo ou queimadas por velhas ou por<<strong>br</strong> />

caídas de sorte que se não possam cortar, ou por desastre) servem para planta porque, se não morrerem pelo<<strong>br</strong> />

muito frio, ou pela muita seca, chegan<strong>do</strong>-lhes a terra, tornam a <strong>br</strong>otar e podem desta sorte renovar ao canavial<<strong>br</strong> />

por cinco ou seis anos e mais. Tanto vale a indústria para tirar proveito, ainda <strong>do</strong> que pareceria inútil e se<<strong>br</strong> />

deixaria por perdi<strong>do</strong>. Verdade é que, descansan<strong>do</strong> a terra, perde também a soca o vigor, e depois de seis ou<<strong>br</strong> />

sete anos a cana se acanha e facilmente se murcha até ficar seca e azougada. E por isso não se há de pertender<<strong>br</strong> />

da terra nem da soca mais <strong>do</strong> que pode dar, particularmente se não for ajudada <strong>com</strong> algum benefício, e a<<strong>br</strong> />

advertência <strong>do</strong> bom lavra<strong>do</strong>r consiste em plantar de tal sorte sucessivamente a cana que, cortan<strong>do</strong>-se a velha<<strong>br</strong> />

para a moenda, fique a nova em pé para a safra vin<strong>do</strong>ura, e desta sorte alimente <strong>com</strong> a sua verdura a esperança<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> rendimento que se prepara, que é o prêmio <strong>do</strong> seu continua<strong>do</strong> trabalho. Plantar uma tarefa de canas é o<<strong>br</strong> />

mesmo que plantar no espaço de trinta <strong>br</strong>aças de terra em quadra. Finalmente, porque a diversidade das terras<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong>s climas pede diversa cultura, é necessário informar-se e seguir o conselho <strong>do</strong>s velhos, aos quais ensinou<<strong>br</strong> />

muito o tempo e a experiência, perguntan<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> o que se duvidar, para o<strong>br</strong>ar <strong>com</strong> acerto.<<strong>br</strong> />

III<<strong>br</strong> />

Dos inimigos da cana, enquanto está no canavial.<<strong>br</strong> />

AS INCLEMÊNCIAS DO CÉU são o principal inimigo que têm as canas, assim <strong>com</strong>o os outros frutos<<strong>br</strong> />

e novidades da terra, queren<strong>do</strong> Deus, <strong>com</strong> muita razão, que se armem contra nós os elementos, por castigo das<<strong>br</strong> />

nossas culpas, ou para o exercício da paciência ou para que nos lem<strong>br</strong>emos que Ele é o autor de todas as<<strong>br</strong> />

cousas, e a Ele recorramos em semelhantes apertos.<<strong>br</strong> />

Os canaviais nos outeiros resistem mais às chuvas, quan<strong>do</strong> são demasiadas, porém são os primeiros a<<strong>br</strong> />

queixar-se da seca. Pelo contrário, as várzeas não sentem tão depressa a força <strong>do</strong> excessivo calor, mas na<<strong>br</strong> />

abundância das águas choram primeiro suas perdas. A cana da Bahia quer água nos meses de outu<strong>br</strong>o,<<strong>br</strong> />

novem<strong>br</strong>o e dezem<strong>br</strong>o e para a planta nova em fevereiro, e quer também, sucessivamente, sol, o qual<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>umente não falta; assim não faltassem nos so<strong>br</strong>editos meses as chuvas. Porém, o inimigo mais molesto e<<strong>br</strong> />

mais contínuo e <strong>do</strong>méstico da cana é o capim, pois, mais ou menos até o fim, a persegue. E, por isso, ten<strong>do</strong> o<<strong>br</strong> />

plantar e o cortar seus tempos certos, o alimpar o<strong>br</strong>iga aos escravos <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res a irem sempre <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

enxada na mão; e acabada qualquer outra ocupação fora <strong>do</strong> canavial, nunca se mandam debalde a alimpar.<<strong>br</strong> />

Exercício que deveria ser também contínuo nos que tratam da boa criação <strong>do</strong>s filhos e na cultura <strong>do</strong> ânimo. E,<<strong>br</strong> />

ainda que só este inimigo baste por muitos, não faltam outros de não menor enfa<strong>do</strong> e moléstia. As ca<strong>br</strong>as,<<strong>br</strong> />

tanto que a cana <strong>com</strong>eça a aparecer fora da terra, logo a vão investir; os bois e os cavalos, ao princípio, lhe<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>em os olhos e depois a derrubam e a pisam; os ratos e os porcos a roem; os ladrões a furtam a feixes, nem<<strong>br</strong> />

passa rapaz ou caminhante que se não queira fartar e desenfadar à custa de quem a plantou. E, posto que os<<strong>br</strong> />

lavra<strong>do</strong>res se a<strong>com</strong>odem de qualquer mo<strong>do</strong> a sofrer os furtos pequenos <strong>do</strong>s frutos <strong>do</strong> seu suor, vêem-se às<<strong>br</strong> />

vezes o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s, de uma justa <strong>do</strong>r,a matar porcos, ca<strong>br</strong>as e bois, que outros não tratam de divertir e guardar<<strong>br</strong> />

nos pastos cerca<strong>do</strong>s, ou em parte mais remota ainda, depois de roga<strong>do</strong>s e avisa<strong>do</strong>s que ponham co<strong>br</strong>o a este

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!