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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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precisam os negros de três P: pão, pau e pano.<<strong>br</strong> />

Passan<strong>do</strong> a outra série de assuntos continua Antonil a expor os tesouros de sua experiência no caso “de <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

se há de haver o senhor de engenho no governo de sua família e nos gastos ordinários da casa”, explican<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

quanto é melindrosa a resolução <strong>do</strong> problema que se propõe aos pais em relação aos filhos homens: “se ficam<<strong>br</strong> />

no engenho criam-se tabaréus, soltos nas cidades é arrisca-los a faze-los viciosos e enche-los de viciosas<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>enças. O melhor é tê-los bem vigia<strong>do</strong>s sem consentir que a mãe lhes remeta dinheiro ou mande para isso<<strong>br</strong> />

secretamente ordens ao correspondente”; e por aí continua numa série de observações preciosas para o estu<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

da vida íntima <strong>br</strong>asileira, naquelas eras longínquas.<<strong>br</strong> />

Um <strong>do</strong>s quatros livros destinou-o exclusivamente à exposição exaustiva <strong>do</strong>s assuntos referentes à indústria <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

açúcar desde a escolha da terra, planta e limpa das canas, estu<strong>do</strong> das variedades agricultadas, pragas, corte e<<strong>br</strong> />

condução para o engenho, até a montagem desta casa de máquinas, movida a água, ensinan<strong>do</strong> <strong>com</strong>o se há de<<strong>br</strong> />

fazer a moagem e de quantas pessoas necessita a moenda. E ainda nos diz quais as melhores madeiras a<<strong>br</strong> />

empregar para o madeiramento <strong>do</strong> engenho, a fatura da moenda, “canoas e barcos”, o que se deve pagar aos<<strong>br</strong> />

carpinteiros e oficiais de outros ofícios, qual o aparelhamento das fornalhas, e qual a melhor lenha, o que se<<strong>br</strong> />

há de fazer <strong>com</strong> a cinza e sua decoada, <strong>com</strong>o devem ser as caldeiras e co<strong>br</strong>es, de quanta gente hão mister e<<strong>br</strong> />

quais os instrumentos que usam. Vem depois a descrição minudente <strong>do</strong>s processos de limpar e purificar o<<strong>br</strong> />

cal<strong>do</strong> nas caldeiras e no parol de coar, até passar para os tachos, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de cozer e bater o mela<strong>do</strong> nestes,<<strong>br</strong> />

das três têmperas que este sofre, da passagem <strong>do</strong> açúcar para as formas, <strong>do</strong> tendal para a casa de purgar, da<<strong>br</strong> />

descrição <strong>do</strong> pessoal ocupa<strong>do</strong> em purgar, mascavar, secar e encaixar e <strong>do</strong>s instrumentos para isto necessários,<<strong>br</strong> />

todas as manipulações enfim até a conferência <strong>do</strong> peso, repartição e encaixotamento <strong>do</strong> gênero. Estuda os<<strong>br</strong> />

tipos de açúcar, que separadamente se encaixam, a marca das caixas e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de sua condução ao<<strong>br</strong> />

trapiche, lem<strong>br</strong>an<strong>do</strong> providências para que se poupe a boiada <strong>do</strong> engenho e se examinem as condições da<<strong>br</strong> />

vendagem <strong>do</strong> gênero, os seus preços “antigos e modernos”, explican<strong>do</strong> as causas da crise que assoberbava a<<strong>br</strong> />

lavoura açucareira, a concorrência da nova indústria minera<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ouro, empolgan<strong>do</strong> todas as atenções,<<strong>br</strong> />

atrain<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os negros importa<strong>do</strong>s da África por preços agora excessivos. Daí a enorme alta <strong>do</strong> gênero.<<strong>br</strong> />

Feito o cômputo da produção <strong>br</strong>asileira, em caixas de açúcar, a 37.020, das quais 14.500 para 146 engenhos<<strong>br</strong> />

baianos, 12.300 para 246 pernambucanos e 10.220 para 136 fluminenses, estuda Antonil “o que custa uma<<strong>br</strong> />

caixa de açúcar de trina a cinqüenta arrobas, na alfândega de Lisboa, e o valor de to<strong>do</strong> o açúcar que cada ano<<strong>br</strong> />

se faz no <strong>Brasil</strong>”. Assim ficamos saben<strong>do</strong> que uma caixa <strong>do</strong> melhor tipo, de 35 arrobas, açúcar <strong>br</strong>anco bati<strong>do</strong>,<<strong>br</strong> />

valia em princípios <strong>do</strong> século XVIII 69$488 rs., preço que precisamos multiplicar por 50, senão mais, para<<strong>br</strong> />

atendermos às diferenças de capacidade aquisitiva da moeda, então e agora. Valia a exportação <strong>br</strong>asileira <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

gênero um total de 2.535:142$800 rs.; uns cem ou cento e vinte mil contos de hoje, o que é uma cifra bem<<strong>br</strong> />

considerável para tão escassa população.<<strong>br</strong> />

Muito curiosa a síntese <strong>com</strong> que remata o A. o seu extenso memorial agrícola. “Do que padece o açúcar desde<<strong>br</strong> />

o seu nascimento na cana até sair <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>”, espirituosa, vivaz, em que segue as diversas manipulações por<<strong>br</strong> />

que passa o cal<strong>do</strong> até se converter em sóli<strong>do</strong> e continua a enunciar-lhe as peripécias da existência até a entrada<<strong>br</strong> />

em casa <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, depois de mil e um padecimentos e torturas, descritas <strong>com</strong> real graça.<<strong>br</strong> />

“E ainda assim, sempre <strong>do</strong>ce, e vence<strong>do</strong>r de amarguras, vai a dar gosto ao paladar <strong>do</strong>s seus inimigos nos<<strong>br</strong> />

banquetes, saúde nas mesinhas <strong>do</strong>s enfermos, e grandes lucros ao senhor <strong>do</strong> engenho, e aos lavra<strong>do</strong>res que o<<strong>br</strong> />

perseguiram, e aos merca<strong>do</strong>res que o <strong>com</strong>praram e o levaram degreda<strong>do</strong>, nos portos, e muito maiores<<strong>br</strong> />

emolumentos à fazenda real nas alfândegas”. São duas páginas de humorismo so<strong>br</strong>emo<strong>do</strong> raras de se<<strong>br</strong> />

encontrar em livro português, geralmente repassa<strong>do</strong>s de gravidade e monotonia <strong>com</strong>o lhes sucede.<<strong>br</strong> />

II<<strong>br</strong> />

As condições da mineração <strong>do</strong> ouro. Informes preciosíssimos, insubstituíveis. Os roteiros para as<<strong>br</strong> />

minas.<<strong>br</strong> />

Depois de, <strong>com</strong> o mais profun<strong>do</strong> critério, afirmar que as minas de ouro a poucos enriqueciam, “sen<strong>do</strong> as<<strong>br</strong> />

melhores minas <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> os canaviais e malhadas em que se planta o tabaco”, consagra Antonil a parte mais<<strong>br</strong> />

importante <strong>do</strong> livro à mineração <strong>do</strong> ouro. E foram estes capítulos, quer nos parecer, a principal causa da<<strong>br</strong> />

destruição da sua o<strong>br</strong>a pelo Governo português, <strong>com</strong>o relataremos. Realmente pouco interessaria a europeus<<strong>br</strong> />

esse trata<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e a cultura da cana, e as condições da lavoura açucareira no <strong>Brasil</strong>, quan<strong>do</strong> em toda a

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