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Cultura e opulência do Brasil - Culturatura.com.br

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prevenção ter uma fórmula ou nota de arrendamentos, feita por algum letra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mais experimenta<strong>do</strong>s, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

declaração de <strong>com</strong>o se haverão despejan<strong>do</strong> acerca das benfeitorias, para que o fim <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> arrendamento<<strong>br</strong> />

não seja princípio de demandas eternas.<<strong>br</strong> />

III<<strong>br</strong> />

Como se há de haver o senhor <strong>do</strong> engenho <strong>com</strong> os lavra<strong>do</strong>res e outros vizinhos, e estes <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

senhor.<<strong>br</strong> />

O TER MUITA FAZENDA cria, <strong>com</strong>umente, nos homens ricos e poderosos, desprezo da gente mais<<strong>br</strong> />

no<strong>br</strong>e; e, por isso, Deus facilmente lha tira, para que não se sirvam dela para crescer na soberba. Quem<<strong>br</strong> />

chegou a ter título de senhor, parece que em to<strong>do</strong>s quer dependência de servos. E isto principalmente se vê em<<strong>br</strong> />

alguns senhores que têm lavra<strong>do</strong>res em terras <strong>do</strong> engenho, ou de cana o<strong>br</strong>igada a moer nele, tratan<strong>do</strong>-os <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

altivez e arrogância. Donde nasce o serem malquistos e murmura<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s que os não podem sofrer; e que<<strong>br</strong> />

muitos se alegrem <strong>com</strong> as perdas e desastres que de repente padecem, pedin<strong>do</strong> os miseráveis oprimi<strong>do</strong>s a cada<<strong>br</strong> />

passo justiça a Deus, por se verem tão avexa<strong>do</strong>s e desejan<strong>do</strong> ver aos seus opressores humilha<strong>do</strong>s, assim <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

o médico deseja e procura tirar fora a malignidade e abundância <strong>do</strong> humor pecante que faz o corpo indisposto<<strong>br</strong> />

e <strong>do</strong>ente, para lhe dar esta sorte não somente vida, mas também perfeita saúde.<<strong>br</strong> />

Nada, pois, tenha o senhor <strong>do</strong> engenho de altivo, nada de arrogante e soberbo, antes, seja muito afável<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> to<strong>do</strong>s e olhe para os seus lavra<strong>do</strong>res <strong>com</strong>o para verdadeiros amigos, pois tais são na verdade, quan<strong>do</strong> se<<strong>br</strong> />

desentranham para trazerem os seus parti<strong>do</strong>s bem planta<strong>do</strong>s e limpos, <strong>com</strong> grande emolumento <strong>do</strong> engenho, e<<strong>br</strong> />

dê-lhes to<strong>do</strong> o adjutório que puder em seus apertos, assim <strong>com</strong> a autoridade <strong>com</strong>o <strong>com</strong> a fazenda. Nem ponha<<strong>br</strong> />

menor cuida<strong>do</strong> em ser muito justo e verdadeiro, quan<strong>do</strong> chegar o tempo de moer a cana e de fazer e encaixar<<strong>br</strong> />

os açúcares, porque não seria justiça tomar para si os dias de moer que deve dar aos lavra<strong>do</strong>res por seu turno,<<strong>br</strong> />

ou dar a um mais dias que a outro ou misturar o açúcar que se fez de um lavra<strong>do</strong>r, <strong>com</strong>o o da tarefa de outro,<<strong>br</strong> />

ou escolher para si o melhor e dar ao lavra<strong>do</strong>r o somenos. E, para evitar estas dúvidas e qualquer outra<<strong>br</strong> />

suspeita semelhante, avise ou mande avisar <strong>com</strong> tempo a quem por direito se segue, para que possa cortar e<<strong>br</strong> />

carrear a cana e tê-la na moenda ao seu dia, e hás nas formas seu sinal para que se distingam das outras. Nem<<strong>br</strong> />

estranhe que os lavra<strong>do</strong>res queiram ver no tendal e casa de purgar, no balcão e na casa de encaixar, ao seu<<strong>br</strong> />

açúcar, pois tanto lhes custou chegá-lo a pôr nesse esta<strong>do</strong> e tanta amargura padeceu a esta limitada <strong>do</strong>çura.<<strong>br</strong> />

Também seria sinal de ter ruim coração, fazer má vizinhança aos que moem a cana livre em outros<<strong>br</strong> />

engenhos, só porque a não moem no seu, nem ter boa correspondência <strong>com</strong> os senhores de outros engenhos só<<strong>br</strong> />

porque cada qual deles folga de moer tanto <strong>com</strong>o outro, ou porque a algum deles lhe vai melhor <strong>com</strong> menos<<strong>br</strong> />

gasto e sem perdas. E, se a inveja entre os primeiros irmãos que houve no mun<strong>do</strong> foi tão arrojada que chegou<<strong>br</strong> />

a ensangüentar as mãos de Caim <strong>com</strong> o sangue de Abel, porque Abel levava a benção <strong>do</strong> céu e Caim não, por<<strong>br</strong> />

sua culpa, quem duvida que poderia chegar a renovar semelhantes tragédias ainda hoje entre os parentes, pois<<strong>br</strong> />

há no <strong>Brasil</strong> muitas paragens em que os senhores de engenho são entre si muito chega<strong>do</strong>s por sangue pouco<<strong>br</strong> />

uni<strong>do</strong>s por caridade, sen<strong>do</strong> o interesse a causa de toda a discórdia, e bastan<strong>do</strong> talvez um pau que se tire ou um<<strong>br</strong> />

boi que entre em um canavial por descui<strong>do</strong> para declarar o ódio escondi<strong>do</strong> e para armar demandas e<<strong>br</strong> />

pendências mortais? O único remédio, pois, para atalhar pesa<strong>do</strong>s desgostos é haver-se <strong>com</strong> toda a urbanidade<<strong>br</strong> />

e primor, pedin<strong>do</strong> licença para tu<strong>do</strong>, cada vez que for necessário valer-se <strong>do</strong> que têm os vizinhos, e persuadirse<<strong>br</strong> />

que, se negam o que se pede, será porque a necessidade os o<strong>br</strong>iga. E quan<strong>do</strong> ainda conhecesse que o negarse<<strong>br</strong> />

é por desprimor, a verdadeira e mais no<strong>br</strong>e vingança será dar logo a quem negou o que se pediu na primeira<<strong>br</strong> />

ocasião, <strong>do</strong><strong>br</strong>a<strong>do</strong> <strong>do</strong> que pede, para que desta sorte caia por bom mo<strong>do</strong> na conta de <strong>com</strong>o devia proceder.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>e to<strong>do</strong>s, porém, os que se devem haver <strong>com</strong> maior respeito para <strong>com</strong> o senhor <strong>do</strong> engenho são os<<strong>br</strong> />

lavra<strong>do</strong>res que têm parti<strong>do</strong>s o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s à sua moenda; e muito mais os que lavram em terras em que o senhor<<strong>br</strong> />

lhes tem arrenda<strong>do</strong>. Particularmente quan<strong>do</strong> desta sorte <strong>com</strong>eçaram sua vida e chegaram por esta via a ter<<strong>br</strong> />

cabedal, porque a ingratidão e o faltar ao respeito e cortesia devida ´nota digna de ser muito estranhada, e um<<strong>br</strong> />

agradecimento obsequioso cativa os ânimos de to<strong>do</strong>s <strong>com</strong> correntes de ouro. Porém, esse respeito nunca há de<<strong>br</strong> />

ser tal que incline a o<strong>br</strong>ar contra justiça, principalmente quan<strong>do</strong> forem induzi<strong>do</strong>s a fazer cousa contrária à lei<<strong>br</strong> />

de Deus; <strong>com</strong>o seria a jurar em demandas crimes, ou cíveis contra a verdade, e pôr-se mal <strong>com</strong> os que <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

razão se defendem. E o que tenho dito <strong>do</strong>s senhores <strong>do</strong> engenho digo também das senhoras, as quais, posto<<strong>br</strong> />

que mereçam maior respeito das outras, não hão de presumir que devem ser tratadas <strong>com</strong>o rainhas, nem que<<strong>br</strong> />

as mulheres <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res hão de ser suas criadas e aparecer entre elas <strong>com</strong>o a Lua entre as estrelas menores.

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