Anais Semana de HistÃ³ria 2005 - Campus de TrÃªs Lagoas

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Porém, essa afirmação de Castro nos remete a um debate quanto à idéia de Schwartz (2001), pois ele analisa que a maioria dos padrinhos de escravos eram libertos ou livres pobres, sendo assim, esses tinham poucas condições de interferir nas decisões dos senhores, como, por exemplo, escolher os novos senhores de seus apadrinhados. A relação de caráter passageiro e violenta também é analisada em Costa, isso porque [...] o fazendeiro permitia que os pares se unissem segundo a oportunidade, ao acaso. O seu pronunciamento bastava para que se considerasse marido e mulher, numa união que só muito raramente perdurava a vida inteira. As negras tinham filhos de vários homens diferentes, e os senhores fechavam os olhos ao que se passava nas senzalas. (1982, p.258) Schwarcz também aponta que a relação entre negros era vista como desqualificada e que vários artigos de jornais buscavam deixar nítido essa característica de instabilidade de tais uniões. Porém, Schwarcz reflete que o ataque e a maior atenção à “família negra” ocorre no momento em que o “o casamento civil é introduzido no Brasil como uma das primeiras medidas dessa jovem República”, ao se mostrar, pelos jornais, que o negro não formava famílias como os brancos dada a sua inferioridade, assim, eles ficavam impossibilitados de compartilhar dos “benefícios” que o novo regime trazia, “revelando basicamente a sua incapacidade de conviver com os ‘avanços’ que o novo momento político trazia consigo”. (1987, p.236) Podemos entender, então, que se a família negra foi instável, talvez seja porque a posição social dos cativos não permitia uma relação duradoura; e os senhores tinham grandes interesses que seus escravos não formassem famílias. Além de que, se a classe dominante constatasse que os negros não conseguiam formar famílias nos moldes do civilizado branco, constataria que eles não se encaixavam em outra forma senão a escravidão, provando sua inferioridade. Concluindo, podemos observar que, no decorrer da construção da historiografia da escravidão brasileira, temos vários enfoques, de início ressaltando sua importância política e econômica e, depois, que o escravo era um agente de sua história. Essa mudança pode ser vista quando tecemos considerações sobre a manumissão e a família escrava. Ela ocorre devido ao amadurecimento de pesquisas e idéias em relação ao tema e a história social. 179
NOTAS 1 Este texto é parte da pesquisa de iniciação científica voluntária, PIBIC/ UFMS, intitulada “Práticas e Representações da capoeira no município de Três Lagoas: herança cultural ou forma de resistência”, desenvolvida entre o período de agosto de 2004 a julho de 2005, sob orientação da Profa. Dra. Maria Celma Borges. Observa-se que a pesquisa vem tendo continuidade por meio de bolsa do CNPq, envolvendo o período de Agosto de 2005 a Julho de 2006. 2 Acadêmica do 4 o . ano do Curso de História, CPTL/UFMS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, H. M. M. de. Laços de família e direitos no final da escravidão. IN: NOVAIS, Fernado A. (org.). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. (História da vida privada no Brasil; 2). CHIAVENATO, J. J. O Negro no Brasil: da senzala à Guerra do Paraguai. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1980. (p.123-166) COSTA, E. V. da. Da Senzala à Colônia. 2 ed. São Paulo: Livraria Ciências Humanas LTDA, 1982. COSTA, E. V. Da Colônia a Senzala. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1996. LARA, S. H. Campos da Violência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. MACHADO, M.H.P.T. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a história social da escravidão. In: Revista Brasileira de História- Escravidão. Vol. 8. n 16. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, março de 1988 – agosto de 1988 NORA, P. O acontecimento e o historiador do presente. In: LE GOFF, J. et. alii. (Orgs). A Nova História. Lisboa : Edições 70, 1984. PINSKY, J. A escravidão no Brasil. São Paulo: Editora global, 1984. (História Popular, 4) SCHWARTZ. S. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru, SP: EDUSC, 2001. SCHWARCZ, L. M. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. SLENES, R. W. Senhores e subalternos no Oeste paulista. IN: NOVAIS, Fernado A. (org.). História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. (História da vida privada no Brasil; 2). 180
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